Lançamento Boitempo: A cidade & a cidade, de China Miéville
A cidade & a cidade é o livro de estreia do escritor China Miéville na Boitempo, que publicará toda a sua obra (tanto a ficcional quanto a teórica) no Brasil. O autor é um dos maiores nomes da fantasia e da ficção científica da atualidade e um pensador marxista mui original.
O livro foi aclamado com os prêmios British Science Fiction Association, World Fantasy, Arthur C. Clarke e Hugo, o mais importante da categoria. Já está disponível em livrarias de todo o país, dentre elas na Livraria da Travessa, Saraiva e Livraria Cultura!
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China Miéville é o cara!
“Diz o antiquíssimo ditado: não se julga um livro pela capa. De skinhead hooligan Miéville não tem nada: formado em Antropologia Social por Cambridge em 1994, com Mestrado e Doutorado em Relações Internacionais pela London School of Economics, Miéville atualmente é professor de creative writing na Warwick University. Trotskista de carteirinha e, além disso tudo, é escritor. Dos bons. Mas por que você nunca ouviu falar em China Miéville?”
Fábio Fernandes (tradutor da obra), no artigo China Miéville: este é o cara (que você não conhece)
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Marxismo e fantasia
Este é o tema de artigo de China Miéville publicado na revista Margem Esquerda #23 (que você pode ler aqui), que inspirou o debate de lançamento do livro, entre Fábio Fernandes, Ronaldo Bressane (leia texto de orelha abaixo) e Cynara Menezes. Assista aqui:
Crítica internacional do livro
“Este romance poderia ser classificado como ficção científica, mas vai muito além. É um livro sobre a alienação, o isolamento e a inabilidade de ver o mundo que habitamos.”
Walter Mosley
“Sutil, quase casualmente, Miéville constrói uma metáfora para a vida moderna e prova uma vez mais que é tão inteligente quanto original.”
Michael Moorcock, Guardian
“Uma ideia estranha e engenhosa, tão inteligente e convincentemente elaborada que resultanum romance excepcional: audacioso, original e assombroso.”
Daily Mail
“Kafka e Orwell costumam ser facilmente evocados para qualificar qualquer coisa que fuja um pouco do ordinário, mas neste caso são comparações certeiras.”
The Times
“Um assassinato misterioso que se passa em uma paisagem urbana à Blade Runner. Imagine um conto de duas cidades escrito por Stanley Kubrick e terá uma ideia do que vai aqui.”
Shortlist
“A premissa é espirituosamente elaborada, estendendo-se a cada detalhe da vida. A inventividade e precisão de Miéville são extraordinárias.”
Independent
Recepção crítica no Brasil
“A CIDADE & A CIDADE é um romance policial em um cenário que poderia ser considerado de ficção científico-antropológica, pois é estranhamente fantástico sem envolver magia e tecnologias futuristas ou alternativas.
Em muitas cidades reais, a existência lado a lado de populações, poderes e realidades que se esforçam por não ver uma à outra é rotina. Considere-se, por exemplo, a coexistência da cidade das favelas, tráfico e milícias e de uma cidade maravilhosa da classe média, dos turistas e dos espetáculos no mesmo Rio de Janeiro, frequentemente separadas por uma esquina, ou nem isso. O cenário deste romance apenas leva essa possibilidade ao extremo.”
Antonio Luiz M. Costa, CartaCapital
“É comum jornais e revistas chamarem Miéville de “escritor marxista”, termo que ele não rejeita. — Eu fico um pouco surpreso que minha posição política seja um assunto tão grande para as pessoas — diz. — Posso separar minha atividade política da minha ficção: ir para a porta da embaixada dos EUA em protesto pela morte de Mike Brown em Ferguson é uma coisa, enquanto escrever um livro de fantasia é outra bem diferente. Mas eu não posso separar minhas ideias políticas dos meus livros, porque a maneira como vejo o mundo, o que me inspira, o que me traz prazer e raiva, leva a sentimentos inextricáveis da minha ficção. A ficção não é uma mera expressão, um simples reflexo do pensamento político, até por isso podemos admirar autores com os quais não concordamos. Mas não há como separar as duas coisas.”
André Miranda, O Globo
Leia abaixo a orelha do livro, escrita por Ronaldo Bressane
Olhe à sua volta: existe outra cidade dentro da sua cidade, mas você não está vendo. Fronteiras são mais leves do que o ar; há cidadãos invisíveis a você — você mesmo é invisível a determinadas pessoas. O que é uma cidade, o que é uma nação, até que ponto um lugar compõe a sua identidade? Essas são algumas questões com que se depara o detetive Borlú ao investigar o estranho assassinato de uma jovem na cidade de Beszél — que também pode ser a cidade de Ul Qoma. Essas são também algumas premissas da literatura provocadora de China Miéville. O maior nome inglês da ficção-científica desde J. G. Ballard tem sua obra afinal apresentada no Brasil na excelente tradução do especialista Fábio Fernandes.
Miéville, destacado ativista de esquerda com formação na liberal London School of Economics, é o nome mais quente do new weird — subgênero da literatura de fantasia que atualiza temas da ficção científica, do horror e da literatura especulativa em linguagem realista e registro urbano. Neste romance, Miéville — tal como o mestre Philip K. Dick havia feito em Androides sonham com ovelhas elétricas? — combina a ficção-científica com outro gênero: o policial. À semelhança do autor de O homem do castelo alto, Miéville nos leva sorrateiramente a desconfiar da substância da realidade ao redor, jogando, em uma perspectiva paranoica, com a política e com a metafísica.
A cidade & a cidade habita um mundo estranhamente familiar: uma cidade pós-soviética com um nebuloso passado autoritário. Ao brincar com o paradoxo de Schrödinger (aquele em que o gato está e não está morto ao mesmo tempo — hum, muito complexo pra explicar nesta orelha) e distorcer a física afirmando que dois objetos podem ocupar o mesmo espaço, Miéville propõe que a cidade de Beszél exista no mesmo espaço que a cidade de Ul Qoma. Administrados por uma monolítica autoridade chamada Brecha, os cidadãos aprenderam a “não ver” os “vizinhos” da outra cidade — sob pena de serem multados ou presos: as cidades têm até aeroportos, códigos telefônicos, links de internet, línguas e alfabetos diferentes.
O inspetor Borlú, protagonista e narrador, é um frustrado farejador da verdade — a qual, em termos kafkianos, parece sempre escapar dele por meios burocráticos e regras inescapavelmente sinistras. Borlú crê que o assassinato da jovem tenha a ver com uma passagem ilegal entre as duas cidades, e que o crime seja acobertado pela Brecha. Aos poucos o detetive intui: a jovem estaria envolvida com enigmáticas escavações arqueológicas que levariam à descoberta de uma terceira cidade. Outras mortes tenebrosas surgirão em seu caminho — com a Brecha sempre por trás, colocando a vida de Borlú em risco. Ou não: lembrando o desfecho do conto “O jardim de caminhos que se bifurcam”, de Jorge Luis Borges — autor a quem, sem favor, Miéville tem sido comparado (assim como ocorreu com K. Dick) —, os fatos podem acontecer e não acontecer simultaneamente no extraordinário final de A cidade & a cidade. Agora dê outra olhada à sua volta: você está onde de fato acha que está?
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