Guia de leitura | História e desenvolvimento | ADC#13

História e desenvolvimento
Caio Prado Júnior

Guia de leitura / Armas da crítica #13

A caixa de novembro do Armas da crítica traz a obra inaugural da coleção Caio Prado Júnior, que a Boitempo publicará ao longo dos próximos anos sob coordenação de Luiz Bernardo Pericás.

História e desenvolvimento: a contribuição da historiografia para a teoria e prática do desenvolvimento brasileiro foi a tese apresentada por Caio Prado Júnior, em 1968, para concorrer à cadeira de história da civilização brasileira da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP. Após o cancelamento do concurso, por razões políticas, a tese só foi publicada em livro quatro anos mais tarde.

Com uma maestria que poucos detém, Caio Prado navega com facilidade pelos temas da economia política, entrelaçando-os à história, e contesta a adequação da política econômica à época para um “real progresso” do Brasil e sua população. Para ele, o desenvolvimento e o crescimento econômicos constituem temas essencialmente históricos que teriam sido monopolizados de modo indevido pela economia.

autor Caio Prado Júnior
prefácio Florestan Fernandes
posfácio Leda Paulani
orelha Fernando Novais
quarta-capa Paulo Sérgio Pinheiro
coordenação da coleção Luiz Bernardo Pericás
edição Thais Rimkus
diagramação Antonio Kehl
capa Maikon Nery
páginas 144

No mês de aniversário de Friedrich Engels, os assinantes também recebem a obra Curso Livre Engels: vida e obra, que reflete a extraordinária atualidade de um dos pensadores mais relevantes de nosso tempo. Os textos do livro – reunidos a partir da edição de 2020 do Curso Livre Marx-Engels – podem ser lidos como uma introdução didática àqueles ainda pouco familiarizados com o marxismo, mas também como uma análise rigorosa da obra do principal amigo e parceiro intelectual de Karl Marx.

autores Alysson Leandro Mascaro, José Paulo Netto, Marília Moschkovich, Ricardo Antunes e Virgínia Fontes
orelha Osvaldo Coggiola
edição Pedro Davoglio
diagramação Antonio Kehl
capa Maikon Nery
páginas 128

Quem foi Caio Prado Júnior?

Caio da Silva Prado Júnior nasceu em São Paulo, em 1907. Formou-se na Faculdade de Direito do Largo São Francisco em 1928, quando também ingressou no Partido Democrático (PD). Em 1931, deixou o PD e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro.

Em 1933, publicou seu primeiro livro, Evolução política do Brasil, e viajou para a União Soviética, o que lhe levou a escrever URSS, um novo mundo (1934). Em 1935, tornou-se presidente regional da Aliança Nacional Libertadora (ANL) em São Paulo, sendo preso no fim do mesmo ano. Libertado em 1937, partiu para a Europa, de onde retornou apenas dois anos depois.

Ao voltar ao Brasil, escreveu o clássico Formação do Brasil contemporâneo (1942) e fundou a editora Brasiliense em 1943. Em 1947, foi eleito deputado estadual pelo PCB, mas teve seu mandato cassado no ano seguinte, além de ser preso novamente. Em 1954, inscreveu-se com a tese Diretrizes para uma política econômica brasileira para a cátedra de economia política da Faculdade de Direito da USP, que só ocorreu dois anos depois. Apesar de não conseguir a vaga, recebeu o título de livre-docente.

Em abril de 1964, logo depois do golpe militar, ficou preso por quase uma semana. Em 1966, publicou A revolução brasileira, trabalho com o qual ganhou o prêmio Juca Pato da União Brasileira de Escritores. Em 1968, inscreveu-se no concurso para a cadeira de história da civilização brasileira da USP com História e desenvolvimento, mas a banca foi cancelada por razões políticas. Exilou-se no Chile por poucos meses e no retorno ao Brasil, em 1970, foi preso novamente. Em 1979, publicou A questão agrária no Brasil. Faleceu em São Paulo, em 1990.

“É óbvio que a publicação deste livro se impunha. Ele não podia permanecer inacessível aos estudiosos e ao grande público. A sua edição permite retomar, em cheio, o contato com um pensamento crítico pioneiro, vigoroso e atual. Ao mesmo tempo, oferece-nos a oportunidade de prestar homenagem ao primeiro historiador que fecundou as ciências sociais com o marxismo.”

FLORESTAN FERNANDES

A coleção e o livro

Com a publicação de História e desenvolvimento, a Boitempo inicia a coleção Caio Prado Júnior, que contará com uma série de livros emblemáticos do autor de Formação do Brasil contemporâneo. A demanda dos leitores por diversas obras do intelectual paulista tem sido grande, já que parte de seus trabalhos não é reeditada há décadas. Por isso a importância dessa iniciativa, que levará ao público facetas menos conhecidas de um dos mais importantes intérpretes de nossa realidade, disponibilizando às novas gerações desde escritos de juventude de Caio Prado Júnior até seus artigos da fase da maturidade, incluindo estudos sobre União Soviética, socialismo, teoria econômica, filosofia, um livro inédito e coletâneas.

A edição da Boitempo de História e desenvolvimento, buscando ser a mais completa até o momento, preservou o texto original (com as devidas atualizações ortográficas e padronizações editoriais). Além da apresentação do próprio autor, foram incluídos um sumário (que não havia nas edições anteriores) e, ao fim, as breves indicações bibliográficas presentes na tese de 1968 e na edição de 1989, assim como uma lista das referências citadas pelo autor nas notas de seu trabalho preparada pela equipe da Boitempo. Também mantém o já consagrado texto de Florestan Fernandes e inclui um posfácio inédito preparado para este volume pela economista Leda Paulani (que analisa e detalha com profundidade o trabalho que o leitor tem em mãos), orelha do historiador Fernando Novais e quarta capa do cientista político Paulo Sérgio Pinheiro – todos eles importantes intelectuais brasileiros, à altura da fundamental obra de Caio Prado Júnior.

Luiz Bernardo Pericás

Coordenador da coleção Caio Prado Júnior da Boitempo, professor no Departamento de História da Universidade de São Paulo. Autor do premiado Caio Prado Júnior: uma biografia política (2016), Che Guevara e o debate econômico em Cuba (2018) entre outras obras e organizações.

“A obra de Caio Prado Júnior vem sendo objeto de valiosos estudos acadêmicos, que marcam o alcance de sua contribuição e lhe definem o significado. Isso é muito gratificante para nós, que, em trabalhos anteriores, lembrávamos a necessidade de análise do conjunto de seus estudos, que se desdobram em vários domínios do conhecimento: filosofia, história, economia e política.”

FERNANDO NOVAIS

Corajoso, íntegro e direto

Em História e desenvolvimento, Caio Prado Júnior, de forma clara e concisa, localiza o capital mercantil em vários contextos históricos da evolução brasileira, salienta o que havia de mais importante e decisivo em suas interpretações da sociedade colonial e extrapola a importância do capital mercantil em duas épocas mais recentes, que não comportam as ilações elaboradas, embora sugiram antinomias e problemas que exigem novas indagações e explicações. Seja como for, esta obra comprova o seu porte intelectual e mostra que a ditadura constrangeu a Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras a perder a presença direta e ativa de uma mente fecunda e de um grande historiador.

Não vejo sentido em estender-me sobre as impressões que o livro provocou em mim. Qual seria o sentido de um prefácio à obra de um autor consagrado e influente, que cruzou com a vida intelectual e política de milhares de leitores, muitos estudantes, professores e especialistas? Trata-se de uma autoexposição, sem retoques e floreios, como era do estilo de Caio Prado Júnior, um homem corajoso, íntegro e direto.

Ele não se impôs uma revisão crítica. Por quê? Porque estava convicto da veracidade de suas descobertas e do seu retrato da evolução histórica do Brasil e de outras sociedades periféricas e marginais (para empregar os seus conceitos), as quais não repetiram nem poderiam repetir o desenvolvimento econômico autossustentado da Europa industrial e dos Estados Unidos. Escapou às ilusões dos que representaram o nosso país como se ele pudesse reproduzir o passado, o presente e o futuro dos centros imperiais e concentrou-se no fundamental: dizer por que isso era historicamente impossível.

Florestan Fernandes

Patrono da sociologia brasileira, foi professor nas Universidades de São Paulo, Toronto e de Yale e na PUC, de São Paulo. Autor de Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968), Capitalismo dependente e classes sociais na América Latina (1973), A revolução burguesa no Brasil (1975), entre outros.

“Se evidentemente Caio Prado Júnior não ‘inventou’ o marxismo no Brasil, ele, no entanto, a partir do paradigma descoberto por Marx, inaugurou por aqui a construção daquilo que poderíamos chamar de a economia política do Brasil, dando assim início à mais fecunda das tradições intelectuais que buscam encontrar respostas aos recorrentes descaminhos do país.”

LEDA PAULANI

Caio Prado Júnior, sempre um historiador

História e desenvolvimento é um livro que articula história e política em busca de medidas de desenvolvimento econômico e representa não apenas uma síntese competente da trajetória socioeconômica do Brasil – do período colonial à época em que foi escrito –, como permanece um importante aporte de Caio Prado Júnior para uma compreensão mais ampla da memória de nosso país e de seus caminhos de desenvolvimento. Além disso, esta nova edição, agora publicada pela Boitempo, reincorpora a introdução original do autor e o prefácio de Florestan Fernandes, que apresenta a obra com o rigor e a densidade de sempre.

A diversificação de Caio Prado Júnior nas várias ciências sociais leva-nos a considerar seu pensamento no campo de debates do marxismo contemporâneo. É conhecido o intrincado problema do materialismo histórico frente às ciências sociais, ou vice-versa. Lembra-nos, a propósito, a importantíssima coleção Grandes Cientistas Sociais, dirigida pelo mesmo Florestan Fernandes. Navegando por muitas águas, nosso autor foi, sempre e antes de tudo, um historiador.

Fernando Novais

Historiador, professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, lecionou também no Instituto de Economia da Unicamp e na Facamp. Autor de Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial  (1979), entre outros.

“Caio Prado Júnior certamente faz parte da linha cronológica e cultural do desenvolvimento do marxismo nas Américas, uma tradição que tentou elaborar um arcabouço teórico e interpretativo compatível com a realidade do continente (com todas as suas especificidades), ao mesmo tempo que dava igual ênfase a uma ativa militância política, com o objetivo de mudar o contexto social em que atuava.”

LUIZ BERNARDO PERICÁS

[CAIO PRADO JÚNIOR: UMA BIOGRAFIA POLÍTICA, p.18]

A transformação do pensamento social brasileiro

No Brasil contemporâneo, nenhum autor contribuiu mais para a transformação do pensamento social brasileiro que Caio Prado Júnior. Seu notável percurso como intelectual e historiador, ao demonstrar a dramática incapacidade do país de superar seu passado colonial, especialmente desde o icônico Formação do Brasil contemporâneo, foi marcado por enorme dignidade e integridade. Sua militância comunista lhe valeu exílios e prisões, como aquela ocorrida em 1970, durante a ditadura militar, por motivo de “incitação subversiva” durante uma entrevista.

Caio Prado Júnior não pôde concorrer – em 1968 – à cadeira de história da civilização brasileira na Universidade de São Paulo com a magistral tese de livre-docência História e desenvolvimento. Não deixa de ser paradoxal que aquele que não se tornara professor tenha sido a pessoa a propor, em 1947, quando deputado estadual eleito em São Paulo pelo PCB, o que veio a ser, em 1962, a Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp). Desde então, graças a essa instituição, mesmo sob a ditadura militar, a produção crítica e independente na universidade pôde ser mantida. Mais um feito extraordinário do autor de História e desenvolvimento.

Paulo Sérgio Pinheiro

Professor aposentado do Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo, presidente da comissão independente internacional da Organização das Nações Unidas (ONU) de investigação sobre a República Árabe da Síria.

“Sobre Caio Prado Júnior não basta falar do comunista ou do historiador, nem mesmo do geógrafo, do filósofo, do ‘economista’ com formação em direito, ou do paulista de família tradicional. Não! É o homem por inteiro que nos atrai e nos escapa a cada aproximação.”

LINCOLN SECCO

[CAIO PRADO JÚNIOR: O SENTIDO DA REVOLUÇÃO, p.11]

Mestre soberano da economia política brasileira

Se Caio Prado Júnior é o historiador que é e tem o notável trabalho de historiador que tem, isso só é possível porque ele traz na base de sua análise a economia política. Como seu objeto era a identidade nacional do Brasil e as possibilidades de sua transformação, ele fez debutar no país o território inexplorado da economia política do Brasil. E nosso autor fez isso desde 1930, ano do surgimento de Evolução política do Brasil, a primeira peça desse caminho de investigação do qual este História e desenvolvimento, escrito quase quatro décadas depois, também faz parte. E continuou nessa trilha fecunda mesmo depois de se filiar ao Partido Comunista, que tinha sobre o país teses que se chocavam abertamente com as descobertas que ele ia fazendo.

É neste sentido que Caio é o mestre soberano da economia política do Brasil, por ter cedo inaugurado o caminho e nele permanecido firmemente. Não por acaso, portanto, Formação do Brasil contemporâneo tornou-se um clássico, ainda que não de imediato. Hoje é difícil pensar em várias das mais importantes reflexões sobre nosso país, principalmente no que concerne às relações entre a base material e as demais instâncias da produção social da vida, sem que se faça referência a seu trabalho.

Leda Paulani

Economista, professora titular do Departamento de Economia da FEA-USP, autora de Modernidade e discurso econômico (2005)Brasil delivery: servidão financeira e estado de emergência econômico (2008).


“Não carecemos de estar de acordo com ele em tudo para realçar o seu perfil marxista. Basta que enxerguemos a sua coragem de enfrentar sozinho os riscos de errar e a repressão política brutal, para admirá-lo ainda mais dentro e acima de sua produção como historiador, geógrafo, economista, cultor da lógica e da teoria da ciência, homem de ação e político representativo.

FLORESTAN FERNANDES


O lugar da história na economia política

O assunto de que se ocupa História e desenvolvimento é de fato da maior significação, pois diz respeito à maneira de conceber a economia política como disciplina científica e à sua utilização na política de desenvolvimento do Brasil. Os economistas ortodoxos – e em particular aqueles que entre nós têm a responsabilidade da condução de nossa política econômica e que são, a esse respeito, alguns deles, dos mais extremados, tal como verdadeiros cristãos-novos – situam a sua ciência em plano semelhante ao das ciências exatas, como a física, por exemplo, isto é, plano de alta abstração em que se manipulam unicamente umas poucas variáveis de grande generalidade, rigidamente inter-relacionadas em termos monetários.

Em outras palavras, o fenômeno econômico é destacado como algo que se sobrepõe a quaisquer outras contingências da vida e da evolução sociais, independe delas e se propõe, em termos absolutos, como forma universal e uniforme, no tempo e no espaço, do comportamento humano no que respeita a produção, circulação, distribuição e consumo dos bens econômicos, isto é, objetos de compra e venda.

É claro que, numa perspectiva dessas, a história, com a extrema variedade e complexidade dos fatos que formam a sua trama, é posta de lado e essencialmente desprezada. O meu objetivo central no presente trabalho foi reivindicar para ela, particularmente no caso brasileiro, o que de direito lhe cabe como fonte informativa e explicativa do processo de desenvolvimento do nosso país, chamando atenção para a especificação de nossa formação e a necessidade, em consequência, de levá-la em conta na análise do desenvolvimento brasileiro e da fixação da política econômica adequada.

[HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO, p.20]

“Em síntese, a atual fase do processo histórico brasileiro se caracteriza pelas contradições que resultam fundamentalmente de uma dualidade de setores ou sistemas econômicos imbricados um no outro: um, o tradicional, centrado na produção de gêneros primários destinados à exportação; o outro, emergente desse e constituído em seu seio, mas que se volta para o mercado interno e tem por base essencial a indústria.”

CAIO PRADO JÚNIOR

O sistema colonial

As modificações do panorama econômico brasileiro através do tempo, desde o início até o fim da colônia, são mínimas, e, no essencial, podemos dizer que nenhumas. A estrutura econômica da colônia não se terá alterado e será, no fundamental, aquela que procuramos resumir anteriormente. E o sistema em que se organiza a cultura da cana e a produção do açúcar nos primeiros momentos da vida brasileira se repetirá sem modificação substancial no que diz respeito, em especial, às relações de produção e trabalho, nas demais atividades produtivas da colônia, inclusive na mineração. E é nesse quadro que se disporá o conjunto da economia colonial; e sobre essa base se organizará a sociedade brasileira.

Os setores fundamentais e essenciais da economia colonial brasileira são aqueles que se voltam para a produção de mercadorias exportáveis, isto é, destinadas ao mercado do exterior. Mais que simples elementos da economia colonial, são eles que propriamente caracterizam a colonização e lhe dão o traço distintivo e específico, pois representam sua própria razão de ser. É para fornecer açúcar, ouro e diamantes e mais alguns poucos produtos primários ao comércio internacional que se ocupou e povoou o território que constituiria o Brasil e se instalou nele uma sociedade humana. Tudo mais é acessório daquela função comercial.

[HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO, p.62]

“Numa palavra, o Brasil de hoje, apesar de tudo de novo e propriamente contemporâneo que apresenta – inclusive estas suas formas institucionais modernas, mas ainda tão rudimentares quando vistas em profundidade –, ainda se acha intimamente entrelaçado com o seu passado. E não pode, por isso, ser entendido senão na perspectiva e à luz desse passado.”

CAIO PRADO JÚNIOR

A repetição de ciclos econômicos subordinados

Em tais condições, a economia brasileira não terá outros horizontes que monotonamente se repetir e evoluir através de sucessivos ciclos estreitamente subordinados à conjuntura do mercado externo para um ou outro gênero primário da produção colonial.

Ciclos esses em que uma fase de prosperidade momentânea é seguida e substituída por outra de declínio, decadência e, em casos extremos, até mesmo gradual decomposição econômica e social. Tais ciclos se repetem no tempo e no espaço ao longo de toda a nossa evolução econômica, que, em tão estreitas perspectivas, se desenrola até as vésperas de nossa emancipação política.

É somente então que se esboçam novas circunstâncias e situações que permitem à economia brasileira – e com ela a organização da sociedade – ingressar em nova fase e partir para o assentamento das primeiras premissas de sua transformação, cujos progressos se arrastam pelo século XIX e vão, afinal, no século ora em curso, abrir perspectivas para a superação definitiva da velha estrutura socioeconômica erigida pela colonização e por ela legada ao Brasil nação.

[HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO, p.69]

“É por ação que os homens se definem.”

CAIO PRADO JÚNIOR

A problemática do desenvolvimento

A problemática brasileira de nosso tempo se centraliza essencialmente em torno do “desenvolvimento”, condição precípua para assegurar ao país e à generalidade de seu povo o conforto e o bem-estar material e moral que a civilização e a cultura modernas são capazes de proporcionar. Isso se encontra na consciência de toda a geração de nosso tempo, e não é sem incontestável justificação que as atenções e as preocupações mais generalizadas nos dias de hoje se concentram nesta questão do desenvolvimento.

Ora, o desenvolvimento, que sem dúvida se há de alicerçar no crescimento econômico e o crescimento econômico constituem tema essencialmente histórico e, ao contrário do tratamento que lhes vem sendo dado pelos economistas (logo veremos este assunto mais de perto), não podem ser incluídos em modelos analíticos de alto nível de abstração: devem ser tratados na base da especificidade própria e das peculiaridades de cada país ou povo a ser considerado.

Este é pelo menos o ponto de partida necessário da investigação da questão do desenvolvimento, sobretudo quando se trata em particular do “subdesenvolvimento” – como se dá no caso brasileiro – que constitui o característico dos países que não apresentam nas suas instituições as formas amadurecidas do capitalismo, ou não oferecem nas suas origens as formas clássicas das quais evolveu esse capitalismo.

[HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO, p.30]

Leituras complementares

Baixe os conteúdos complementares do mês em PDF!

Este mês trazemos uma seleção de três textos de apoio: um artigo do próprio Caio Prado Júnior escrito em 1947 e publicado em Caminhos da revolução brasileira e dois trechos de biografias do autor de História e desenvolvimento, o primeiro de Lincoln Secco sobre Caio Prado como historiador e o segundo de Luiz Bernardo Pericás sobre o lugar de Caio Prado no marxismo brasileiro.

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Caio Prado Júnior

Os fundamentos econômicos da revolução brasileira


Lincoln Secco

Caio Prado Júnior: o historiador


Luiz Bernardo Pericás

O homem que inventou esse tal de marxismo no Brasil

Vídeos

Este mês trazemos o lançamento antecipado de História e desenvolvimento, com Antonio Carlos Mazzeo, Leda Paulani e Marcelo Bamonte (mediação), a série de cinco vídeos com Luiz Bernardo Pericás apresentando a vida e a obra do autor da caixa de novembro na TV Boitempo e, por fim, Bernardo Ricupero comentando sobre o marxismo de Caio Prado Júnior, no canal da FGV.

Para aprofundar…

Compilação de textos, podcasts e vídeos que dialogam com a obra do mês.

Caio Prado Júnior: uma biografia política, de Luiz Bernardo Pericás

Caio Prado Júnior: o sentido da revolução, de Lincoln Secco

Caminhos da revolução brasileira, organização de Luiz Bernardo Pericás

Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, organização de Luiz Bernardo Pericás e Lincoln Secco

Margem Esquerda #20, com “Carta a Correligionários do PCB” (1932) e “Telegrama para a Embaixada da União Soviética” (1968), de Caio Prado Júnior

Sinfonia inacabada: a política dos comunistas no Brasil, de Antonio Carlos Mazzeo

A Terra é redonda: Caio Prado Júnior – o sentido da revolução, com Lincoln Secco e Francisco Teixeira, fev.2021.

Grupo Gramsci: #4 Caio Prado Jr. – A história econômica do Brasil, com Fabio Gentile, nov.2020. 

Grupo Gramsci: #5 Caio Prado Jr. – Formação do Brasil contemporâneo, com Fabio Gentile, nov.2020. 

Grupo Gramsci: #6 Caio Prado Jr. – A revolução brasileira, com Fabio Gentile, nov.2020. 

História do Brasil colonial: Interpretações clássicas do Brasil – Gilberto Freyre e Caio Prado Júnior, com Thiago Krause, out. 2020.

Podcast do IEB: #19 Caio Prado Júnior abridor de caminhos, com Alexandre de Freitas Barbosa, maio 2020.

Podcast do IEB: #22 Caio Prado Júnior e as diretrizes para uma política econômica brasileira, com Alexandre de Freitas Barbosa, maio 2020.

Quem somos nós?: #227 Caio Prado Júnior e Celso Furtado, com Alexandre Saes, maio 2018.

30 anos sem Caio Prado Júnior, com Luiz Bernardo Pericás, Antonio Carlos Mazzeo, Rodrigo Ricupero e Anderson Deo, Instituto Caio Prado Jr., 2021.

Marx e os marxismos no Brasil: o caso Caio Prado Jr., com Bernardo Ricupero e Bernardo Buarque, FGV, 2021.

Interpretações Clássicas do Brasil: Gilberto Freyre (1933) & Caio Prado Júnior (1942), Thiago Krause, 2020.

Caio Prado Júnior e Celso Furtado por Alexandre Saes, Quem Somos Nós?, dez. 2018.

Caio Prado Júnior, com Fernando Novais, Instituto de Economia da Unicamp, 2019.

Caio Prado Júnior: debate com João Manuel Cardoso de Mello, Fernando Novais e Bernardo Ricupero, Instituto de Economia da Unicamp, 2019.

Luiz Bernardo Pericás fala sobre Caio Prado Jr. no Diálogos com Mario Sergio Conti, TV Boitempo, 2016.

Pensando com Caio Prado Jr., Realidade Brasileira, 2015.

Obra de Caio Prado Júnior nasce da rebeldia moral“, por Florestan Fernandes Blog da Boitempo, nov. 2021.

Marx na América: a práxis de Caio Prado e Mariátegui“, por Paulo Alves Júnior, A Terra é redonda, nov. 2021.

Caio Prado Júnior e o fascismo“, por Yuri Martins-Fontes, A Terra é redonda, out. 2021.

Caio Prado Jr. e Antonio Gramsci: uma relação inexistente?“, por Bernardo Ricupero, Revista Outubro, jul. 2016.

A trajetória política de Caio Prado Júnior“, por Bernardo Ricupero, Blog da Boitempo, abril 2016.

Caio Prado Júnior: uma biografia política“, por Leonardo Belinelli, Revista Diálogos, jun. 2018.

Heresias do marxismo brasileiro: a agonia de Caio Prado Júnior“, por Deni Alfaro Rubbo, Estudos Avançados, maio 2017.

Caio Prado Jr.: um intelectual entre a academia e a revolução“, por Paulo Henrique Pompermaier, Revista Cult, fev. 2017.

A edição de conteúdo deste guia é de Isabella Meucci e as artes são de Uva Costriuba.