Em um de seus mais notáveis livros, Sobre a questão judaica, Karl Marx realiza reflexões sobre as condições dos judeus alemães em meados do século XIX e estabelece propostas para a solução de suas questões concretas. Mais do que a análise de uma conjuntura específica, esta obra traduz a passagem definitiva de Marx para o materialismo histórico e o comunismo, se tornando assim uma leitura fundamental para a apropriação de seu legado.
Neste ensaio, Marx critica a teorização sobre a tentativa de emancipação política por parte dos judeus na Prússia realizada em dois estudos de autoria de outro jovem hegeliano, Bruno Bauer - cuja produção serve de base para Marx realizar sua própria análise dos direitos liberais (os dois estudos de Bauer estão disponíveis no Blog da Boitempo). Publicado em Paris no ano de 1844, no único Número dos Anais Franco-Alemães, o texto reflete sobre a incapacidade de Hegel para resolver a questão da relação da sociedade civil burguesa com o Estado.
A obra marca, assim, um momento crucial da mudança intelectual e política de Marx que desembocaria na sua teorização sobre a luta de classes e a revolução permanente. O livro reúne ainda cartas trocadas por Marx e Arnold Ruge, publicadas nos Anais, além de um Prefácio e um ensaio do filósofo francês Daniel Bensaid, recentemente falecido, que atualizam a discussão a respeito da “questão judaica” e suas reflexões, discutindo com profundidade questões teóricas apontadas por Marx e também elucidando polêmicas, rejeitando por exemplo os vestígios de “antissemitismo” ou “totalitarismo” encontrados por alguns nesta obra.