O geógrafo britânico David Harvey é um dos pensadores mais influentes da atualidade, reconhecido por obras já consideradas clássicas, como Os limites do capital, publicado pela primeira vez em português, em versão revista e ampliada. Trata-se de uma análise profunda da história e da geografia do desenvolvimento capitalista, a partir de uma perspectiva marxista.
Publicado pela primeira vez em 1982, o livro lançou as bases para o projeto intelectual de Harvey - autor de vasta obra - e, como diz a economista Leda Paulani, no texto de orelha, é premonitório, pois, aqui, o autor tratou de temas que, "uma década depois, migrariam para o centro da arena, onde permanecem até hoje".
Em Os limites do capital, Harvey une investigação sobre as dinâmicas espaciais do processo de urbanização, interpretação ambiciosa do legado de Marx e sensibilidade aguda para reestruturação econômica em curso. Na nova edição, o autor atualiza sua releitura da crítica da economia política de Marx, com uma discussão substancial em torno da conjuntura política global e da convulsão nos mercados mundiais hoje.
Os limites do capital constitui "leitura obrigatória para aqueles que buscam uma compreensão menos superficial da etapa avançada do capitalismo hoje em curso", afirma Paulani. A obra é considerada peça fundamental para compreender o instigante pensamento de Harvey, com reflexões acerca de alguns de seus mais importantes conceitos como "ajuste espacial" e "acumulação por despossessão". "A formação de geógrafo fez com que Harvey voltasse sua atenção não apenas para as questões do tempo, cruciais quando se entende que o capital é um movimento (o movimento de valorização), mas também para as questões do espaço, às quais os economistas são, em geral, cegos. Em síntese, Harvey iniciou, ainda no começo dos anos 1980, a investigação sobre como se articulam e como funcionam conjuntamente os diferentes modos de apropriação e de exploração, o sistema financeiro, o comportamento rentista e os desenvolvimentos espaciais desiguais numa dinâmica que, hoje, é o coração do processo de acumulação", diz Paulani.
Para o crítico literário Fredric Jameson, além ser uma das tentativas mais lúcidas e bem-sucedidas de delinear o pensamento econômico de Marx, Os limites do capital é também o único livro a enfrentar o problema espinhoso da renda fundiária em Marx, cuja própria análise foi interrompida por sua morte. "A revisão e reteorização magistrais de Harvey nos oferecem uma versão plausível do esquema mais complicado que Marx poderia ter elaborado, tivesse ele vivido", afirma, no texto de quarta capa.
A perspectiva geográfica de Harvey joga luz em aspectos chaves pouco trabalhados no pensamento marxista como o capital fixo, as finanças, o crédito, a renda, as relações de espaço e os gastos estatais. Em sua análise do capital fictício e do desenvolvimento geográfico desigual, o geógrafo britânico leva o leitor, passo a passo, pelas camadas de formação de crise: do argumento controverso de Marx a respeito da queda tendencial da taxa de lucro às crises de crédito e de finança.
Em termos de estilo, Harvey é capaz de destrinchar conceitos de alta complexidade por meio de uma linguagem clara e acessível, avessa aos jargões econômicos de gabinete. Para ele, é impossível compreender o capital a partir de uma argumentação linear, que empilha conceitos isolados como "blocos de construção". Fiel à estrutura de exposição de Marx, o método empregado por Harvey é dialético e processual, como seu próprio objeto de estudo.
Escrito antes do fim da guerra fria, antes da contrarrevolução neoliberal e antes do falatório sobre globalização e financeirização econômica, Os limites do capital desenvolve essas questões através do desdobramento das próprias contradições internas do capital. Como Harvey aponta na Introdução à nova edição, "Os limites do capital se revelou um texto presciente. Em alguns aspectos, é até mais relevante agora porque descreve uma maneira teórica de se enfrentar as contradições inerentes à maneira como funciona o capitalismo neoliberal".