Nesta obra de espantoso escopo teórico, Agamben reelabora e define as ideias e os conceitos que guiaram, ao longo de duas décadas, a pesquisa em um território inexplorado, cujas fronteiras coincidem com um novo uso dos corpos, da técnica e da paisagem. O conceito de ação é substituído pelo de uso; o de trabalho, pelo de inoperosidade; o de poder constituinte, pelo de uma potência destituinte. O filósofo italiano arremata as investigações arqueológicas dos oito volumes precedentes e encerra - ou, como prefere o autor, abandona - uma série que imprimiu nova direção ao pensamento contemporâneo.
O veio crítico que liga os diversos vetores nos quais se desdobra a obra é a investigação urgente por uma forma de relação com o corpo que não seja de propriedade. Nas palavras de Christian Dunker, que assina a orelha do livro, "o autor oferece um modelo para uma revolução no complexo de posse que corrói a humanidade, um paradigma para a reinvenção do que significa ‘comum’."
O livro comporta três grandes seções. A primeira parte da discussão de Aristóteles acerca da escravidão para repensar radicalmente nossa noção de si; a segunda convoca uma completa reelaboração da ontologia ocidental; e a terceira explora o enigmático conceito de "forma-de-vida", fio condutor de toda a série Homo sacer. Entre uma seção e outra, Agamben nos brinda com reflexões afiadas sobre pensadores individuais: Guy Debord, Michel Foucault e Martin Heidegger. A obra encerra com um explosivo epílogo intitulado "Por uma teoria da potência destituinte" em que Agamben convoca uma nova abordagem à vida política que rompe com os impasses destrutivos do pensamento ocidental. O uso dos corpos é uma verdadeira obra-prima escrita por um dos maiores filósofos vivos da atualidade.