Em O julgamento de Kissinger, Christopher Hitchens monta uma verdadeira peça de acusação contra Kissinger, extremamente bem documentada. A tese central de Hitchens é a de que, pelas leis internacionais, Kissinger deveria ser julgado e condenado por todos os crimes perpetrados nos anos passados na Casa Branca (a partir de 1969 como assistente de segurança nacional do presidente Nixon, e de 1973 a 1976 como Secretário de Estado). Nesses anos, Kissinger presidiu o comitê encarregado de supervisionar todas as operações encobertas efetuadas pelos diversos organismos do governo, a começar pela CIA.
As acusações de Hitchens se concentram em questões como o assassinato de milhares de civis durante a Guerra do Vietnã; o suporte e as armas oferecidas em 1971 ao golpe militar conduzido em Bangladesh pelo general Yahja Khan; o envolvimento direto dos EUA no assassinato de René Schneider, comandante das forças armadas chilenas, em 1971; o apoio dado ao então ditador Suharto quando o exército da Indonésia invadiu o Timor Leste, matando outros milhares de civis. O autor defende ainda a tese de que Kissinger deveria ter o mesmo tratamento dado ao ex-presidente iugoslavo Slobodan Milosevic pela Corte Internacional de Haia, acusado pelas potências ocidentais de crimes de guerra contra a humanidade.
Kissinger nunca respondeu às acusações, contando com a cumplicidade do poder político e econômico norte-americano. Já em Paris, um juiz investiga o desaparecimento de cinco franceses após o golpe no Chile e magistrados argentinos tentam interrogá-lo sobre assassinatos durante a ditadura. A Suprema Corte do Chile também aprovou a convocação de Kissinger para depor sobre a morte do jornalista norte-americano Charles Horman (o que inspirou o filme Desaparecido, de Costa-Gravas). No Brasil, quase foi condecorado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso com a Ordem do Mérito do Cruzeiro do Sul, uma das mais altas condecorações do país.