Em pleno governo Bolsonaro, a revista da Boitempo lança um Número especial dedicado a enfrentar as articulações e tensões produtivas entre marxismo e lutas LGBT, para além da querela da “cortina de fumaça”. O dossiê de capa, coordenado por Lucas Bulgarelli, traz textos de Renan Quinalha, Amanda Palha, Isadora Lins França e Rafael Dias Toitio que abordam a questão de diversas perspectivas. A entrevista exclusiva que abre a edição é com a filósofa e ativista estadunidense Judith Butler, um dos nomes mais proeminentes do feminismo, dos estudos queer e da teoria crítica na atualidade.
Em diálogo com o dossiê, se somam à edição conteúdos inéditos como um artigo de Angela Davis sobre justiça para a comunidade LGBT e um documento do militante e intelectual italiano Mario Mieli, um dos pioneiros a trabalhar a intersecção entre luta de classes e movimento gay, traduzido e comentado por Luiz Ismael Pereira.
Numa abordagem inesperada e muito fértil, o escritor e crítico literário Flávio Aguiar segue as pistas de seu mestre Antonio Candido e desbrava a produção literária de Plínio Salgado, fundador da Ação Integralista Brasileira. A revista traz ainda uma reflexão do cientista político Marcos Del Roio sobre o centenário da Internacional Comunista e um balanço do historiador Osvaldo Coggiola sobre a tensa conjuntura latinoamericana, e uma análise aprofundada de Mario Duayer sobre ontologia e método em Marx a partir dos Grundrisse. Para o "Clássico” desta edição, Maria Lygia Quartim de Moraes recupera um comovente e afiado texto de Clara Zetkin sobre sua amiga, camarada e interlocutora Rosa Luxemburgo, escrito meses após seu assassinato, que em 2019 também completa cem anos.
A seção de homenagens, tristemente mais volumosa que o comum, reúne ensaios sobre três gigantes do pensamento crítico falecidos no curto intervalo deste semestre: André Singer escreve sobre Chico de Oliveira, Carlos Eduardo Martins reflete sobre o legado de Immanuel Wallerstein, e Ronaldo Vielmi Fortes repassa a trajetória do filósofo romeno Nicolas Tertulian.
O ensaio visual que percorre a capa e as páginas da revista é do artista plástico Carlos Motta, com a cuidadosa curadoria de Gabriel Zimbardi. A poesia que fecha a edição é do cineasta e escritor italiano Pier Paolo Pasolini.