A 30ª edição da revista Margem Esquerda traz uma importante e histórica entrevista com Joachim Hirsch. O cientista político alemão tem sido, nas últimas décadas, o destacado propositor de uma leitura radical acerca do Estado, denunciando-o como forma derivada da mercadoria. Sua trajetória e sua teoria materialista do Estado são esmiuçadas num documento valioso que ora se publica, numa empreitada de conversas liderada pelo especialista em direito político e econômico Luiz Felipe Osório.
Sobre o direito e sua relação com o marxismo é o dossiê desta edição, coordenado pelo filósofo do direito Alysson Leandro Mascaro, que traz as preciosas colaborações de Ingo Elbe, Alessandra Devulsky e Moisés Alves Soares. Além de ter coordenado a seção, Mascaro também participa deste Número como artista, uma faceta menos conhecida que aquela de sua reflexão intelectual. São de sua autoria as ilustrações, de base expressionista, tanto figurativas quanto abstratas, de variados tamanhos, esculpidas e gravadas por ele entre os anos de 2014 e 2018, com as técnicas da xilogravura e da linogravura. Deste conjunto, algumas gravuras foram especialmente feitas para esta edição.
Na seção de artigos, Maria Lygia Quartim de Moraes faz um vivo retrato dos protestos que marcaram 1968 pelo mundo, passados cinquenta anos. Demétrio Cherobini analisa a teoria de István Mészáros, um ano depois da morte desse singular pensador húngaro, destrinchando a crise do capital em curso e possibilidades da ofensiva socialista e de educação da classe trabalhadora. Do entrevistado Hirsch se resgata ainda neste Número um importante texto a respeito do Estado, da globalização e da regulação, cuja primeira publicação em português é da década de 1990. O editor português Francisco Melo, das Edições Avante!, faz um balanço da utilização por Lênin de O capital na perspectivação da Revolução Russa. Fechando a seção, Maurilio Lima Botelho disseca os fundamentos sociais da militarização em curso no Rio de Janeiro e a guerra aos “vagabundos” instaurada pela ofensiva neoliberal. Guerra que, segundo o autor, tem como alvo prioritário as favelas, expressão espacial dos excluídos do mercado de trabalho, processo que ganhou visibilidade com o assassinato de Marielle Franco, vereadora que atuava em defesa sobretudo das populações negras e de mulheres.
O volume traz ainda a tradução do texto de Piotr Stutchka, Três fases do direito soviético, incluída aqui como “Clássico”, e um texto documental proferido como palestra há exatos vinte anos por Angela Davis sobre os legados de Herbert Marcuse, filósofo alemão de quem a ex-Pantera Negra fora discípula direta.
As duas resenhas e a nota de leitura que compõem este Número se relacionam estreitamente com o direito: são análises dos livros Direito processual e capitalismo, de Marcelo Gomes Franco Grillo; Os despossuídos: debates sobre a lei referente ao furto de madeira, de Karl Marx; e Sujeito de direito e marxismo, de Marcos Alcyr Brito de Oliveira. Por fim, Flávio Aguiar nos brinda com um lado pouco conhecido de Karl Marx: o poeta. Traduzidos diretamente do alemão, os dois poemas aqui selecionados revelam um jovem universitário de repertório romântico, rebelde e irônico. No ano do bicentenário de nascimento do genial filósofo, economista e político socialista, não poderia haver escolha mais adequada.