Esta edição de Margem Esquerda entra em gráfica no dia em que a democracia brasileira sofre um duro ataque: com a admissão pelo Senado do “processo de impeachment”, a presidenta eleita Dilma Rousseff é afastada do poder, num golpe orquestrado em conluio do Judiciário com os setores mais atrasados do Parlamento, do oligopólio midiático e do grande capital.
Após meses de uma tragédia anunciada, tem início um governo ilegítimo que põe fim à política de Estado de direitos, num temerário retrocesso, encabeçado pelo vice Michel Temer, pelo presidente cassado da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e pelo partido derrotado nas últimas eleições, o PSDB.
Dilma, Lula, o PT, a ditadura de 1964 e o Brasil são temas também da entrevista exclusiva deste Número, realizada por Luiz Bernardo Pericás e Paulo Douglas Barsotti com o economista Paul Singer, que fala ainda de seus recentes estudos sobre a economia solidária, suas parcerias intelectuais e as atuais circunstâncias de Cuba, Israel e Palestina.
Sobre a crise que se arrasta desde 2014, Carlos Eduardo Martins analisa o fim da hegemonia petista, o golpe de Estado que agora se concretiza e o futuro da soberania popular no capitalismo brasileiro no artigo “Fim da Nova República?”. Ainda na seção Artigos, Leandro Galastri apresenta um aspecto pouco debatido das críticas de Bernstein ao marxismo, isto é, aquelas dirigidas ao método dialético e sua defesa de uma “volta a Kant”, enquanto Demétrio Cherobini se debruça sobre a questão do poder em István Mészáros, para quem o Estado “não é de forma alguma neutro, e sim um elemento determinado pelo sistema social ao qual está visceralmente ligado: o sistema do capital”. Na sequência, Celso Frederico discorre sobre o pensamento moderno e sua tendência de desmaterialização do real, inaugurada no estruturalismo linguístico. Fechando a seção, Michael Löwy recupera a crítica à democracia burguesa feita por Rosa Luxemburgo.
O dossiê deste Número enfrenta assunto dos mais graves: a crescente xenofobia e o preconceito contra imigrantes e refugiados, vítimas do terrorismo e do extremismo violento. O deslocamento forçado de milhões de pessoas ao redor do globo e a sucessão de violências e humilhações a que são submetidos cotidianamente reforça a necessidade de se discutir a responsabilidade dos países centrais em relação a esses desastres. Os textos são de Osvaldo Coggiolla, que analisa a formação do Estado Islâmico e sua atuação desde então; Ana Luisa Zago de Morais, discorrendo sobre mobilidade humana nesta era de guerra ao terror, “sob o prisma do pensamento desocidentalizador e descolonizador correspondente às epistemologias do Sul”; e Roberto Massari, para quem o terrorismo revela-se como espetáculo de massa. E é fruto do preconceito vivido na pele o poema “Exílio”, do imigrante curdo Abdulla Pashew, belamente traduzido e apresentado por nosso editor de poesia, Flávio Wolf Aguiar.
Seguindo a toada, nossa seção de Clássicos traz uma interpretação marxista de Leon Trotski acerca do conceito de terrorismo. Já na seção Memória, Wladimir Pomar nos traz a triste lembrança do Massacre da Lapa, um dos mais brutais episódios produzidos pela ditadura militar.
“Uma radiografia marxista do Estado e do direito” é o Título da resenha feita por Luiz Ismael Pereira e Jonathan Erik von Erkert, sobre o livro de Camilo Caldas, A teoria da derivação do Estado e do direito. As notas de leitura deste Número são assinadas por Milton Pinheiro, Kim Wilheim Doria e Pedro Eduardo Zini Davoglio. O artista da vez é o escultor e desenhista paraense radicado na Alemanha Francisco Klinger de Carvalho. As imagens foram escolhidas pelo artista plástico Sergio Romagnolo.
Morto em fevereiro deste ano, o escritor italiano Umberto Eco tem sua vasta obra rememorada na seção Homenagem, pelas mãos de Antonio Carlos Mazzeo. Também relembramos e homenageamos aqui os cem anos do falecimento de Jack London, jornalista combatente, escritor e ativista.