A entrevista que abre esta nova edição da Revista Margem Esquerda é do teólogo da libertação e escritor Leonardo Boff, que falou sobre sua trajetória, formação e obra aos sociólogos Emir Sader e Michael Löwy. O “Dossiê”, organizado por Ricardo Antunes, apresenta cenas da condição de precariedade da classe trabalhadora em escala global, com textos de Pietro Basso, Giovanni Alves e Dora Fonseca, Graça Druck e do próprio Ricardo.
Na seção “Artigos”, Marcello Musto discorre sobre a “Introdução” de 1857, a mais importante e célebre seção dos Grundrisse, de Karl Marx. Fabio Querido estabelece afinidades entre as reflexões teóricas e políticas de Rosa Luxemburgo (1871-1919) e Walter Benjamin (1892-1940), enquanto Roberval dos Santos revisa as principais teses de Louis Althusser e discute sua última contribuição intelectual, o materialismo do encontro. Por último, João Leonardo Medeiros e Rômulo André Lima analisam o fenômeno dos reality shows, em particular o Big Brother. O artigo articula o atual desenvolvimento capitalista com as formas e conteúdos assumidos pelas manifestações culturais contemporâneas, entendendo que estas expressam “formas de consciências condizentes e necessárias” à reprodução social.
O poeta Heinrich Heine (1797-1856) teve seus livros censurados várias vezes na Alemanha, que naquela época ainda não existia como nação unificada. Vinha de uma família judaica, embora de espírito laico. Desde os tempos de universidade, em Bonn e Berlim, revela-se independente, irreverente, sarcástico, irônico, satirizando os poderes alemães. Cansado de tudo, mudou-se em 1831 para Paris, onde viveria até o fim da sua vida. Heine foi um dos grandes homens que marcaram a cultura germânica do século XIX e posteriores. Publicou iNúmeros livros e de uma de suas peças veio a frase que hoje está gravada em bronze na Bebelplatz: “Das War ein Vorspiel nur: dort wo man Büchern verbrannt, verbrennt auch man am ende Menschen” [Isso foi só um prelúdio: onde se queimam livros termina-se por queimar seres humanos]. Em suma, perante o regime nazista, seus livros mereciam estar na pira. Sabe-se hoje que o nosso poeta Gonçalves Dias inspirou-se em versos de Goethe para compor a “Canção do exílio”. Terá ele conhecido “Um pinheiro”, de Heine? É esse o poema desta edição, selecionado e traduzido por Flávio Aguiar.
O artista plástico da vez é Iran do Espírito Santo, paulista de Mococa, pintor, escultor, desenhista e gravador. Suas obras, escolhidas pelo também artista plástico Sergio Romagnolo, são inspiradas no cotidiano, e trabalham com a ilusão, pois nunca são feitas do material ou da forma como imaginamos. O copo aparentemente cheio d’água é composto de cristal maciço; a pilha de tijolos foi esculpida em pedra; a caixa de sapatos, produzida em mármore, a “lata” é uma peça maciça de aço inoxidável, feita em torno. O trabalho da capa – uma torre de tijolos esculpida em três partes, em pedra, como ruínas de uma civilização antiga – é um projeto de escultura pública, a ser instalada no Central Park, em Nova York, no final de 2013.
Margem Esquerda n.18 traz ainda uma resenha de Carlos Eduardo Jordão Machado, notas de leitura – de Kim Doria, Mathias Luce e Mozart Pereira – e uma homenagem de Guillermo Almeyra a Ahmed Ben Bella, um dos mais preeminentes líderes do processo de independência da Argélia e seu primeiro presidente eleito, que morreu no dia 11 de abril deste ano.
Outras perdas que merecem registro: a do dirigente comunista italiano Lucio Magri, falecido em 28 de novembro de 2011; a do jogador Sócrates Brasileiro, em 4 de dezembro de 2011; a do geógrafo brasileiro Aziz Ab’Saber, em 16 de março de 2012; a do escritor brasileiro Millôr Fernandes, em 27 de março de 2012; e a do escritor mexicano Carlos Fuentes, em 15 de maio de 2012. A eles, que de formas diferentes lutaram por um mundo mais justo, dedicamos esta edição.