O capitalismo atingiu um beco sem saída? A perspectiva de uma crise econômica crônica, o colapso do Estado de bem-estar social nas economias avançadas e a catástrofe ecológica abalaram as bases dos argumentos em favor do capitalismo. Nesse contexto e tendo em vista os desafios do século 21, repensar o socialismo é um projeto viável?
João Alexandre Peschanski, integrante do comitê de redação da revista Margem Esquerda, organiza neste Número 17 um dossiê especial sobre a viabilidade de alternativas ao capitalismo e como alcançá-las. O economista canadense Michael Lebowitz recupera elementos-chave do pensamento de Marx sobre o socialismo e, com base neles, avalia a experiência bolivariana da Venezuela. Vivek Chibber, professor de Sociologia da Universidade de Nova York, discute a tensão entre socialismo e desenvolvimento, criticando os modelos centralizados produtivistas dos regimes “socialistas realmente existentes” na União Soviética e China.
Os sociólogos João Alexandre Peschanski e David Calnitsky defendem a necessidade de pensar instituições radicalmente igualitárias, alternativas ao capitalismo, e fazem um panorama de modelos teóricos recentes de socialismo. O historiador Gilberto Maringoni faz um recorrido pelos dilemas táticos e estratégicos da esquerda brasileira nas últimas seis décadas.
Esta edição traz ainda um estudo do filósofo húngaro István Mészáros sobre a necessidade de uma mudança profunda – socialista – no contexto de crise estrutural do sistema do capital; um artigo de crítica dos estudos culturais e do culturalismo, pelo sociólogo argentino Roberto Follari; um texto do sociólogo norte-americano John Bellamy Foster sobre o lendário debate Sweezy-Schumpeter, nos anos 1940, e anotações de Paul Sweezy, recentemente descobertas, para o debate; um ensaio do crítico literário norte-americano Fredric Jameson sobre O romance histórico, de Gÿorg Lukács; e uma análise do economista Mario Duayer sobre Marx e a crítica do trabalho no capitalismo.
A entrevistada deste Número é a cientista política Vânia Bambirra, uma das formuladoras da teoria da dependência, que fala a Carlos Eduardo Martins sobre sua trajetória, as transformações na América Latina e as crises do capitalismo. Na entrevista, faz ainda um balanço da corrente teórica que ajudou a formular, com Theotonio dos Santos e Ruy Mauro Marini. Na seção Clássico, uma preciosidade: carta de Friedrich Engels a August Bebel, de março de 1875, na qual ele rejeita o conceito lassalliano de “Estado Popular” e propõe sua substituição por “Comuna” no Programa do Partido. É um dos textos mais libertários de Engels e esclarece as divergências de Marx com Lassalle.
Esta edição traz ainda uma entrevista inédita com o filósofo Adolfo Sánchez Vásquez, falecido em julho deste ano. Foi realizada em 1993, pela pesquisadora peruana Sara Beatriz Guardiã, e não chegou a ser publicada porque o jornal para o qual foi feita propôs à autora que retirasse o parágrafo em que Sánchez Vásquez sustenta que o marxismo pode transformar a sociedade, o que ela e o entrevistado recusaram. A entrevista, que traça sua trajetória e interpretação da dialética, homenageia um dos pensadores mais criativos da América Latina.
“Não existe mais justiça ou estou enganado?”, gritam as imagens de Apu Gomes, que ilustram esta edição. A câmera certeira do fotógrafo capta rostos e paisagens da represa Billings, em São Paulo – violência, resistência, esperança. Assim como o poema “Ao Oráculo de Delfos”, de Lawrence Ferlinghetti, são a mais perfeita tradução dos dias que correm. A escolha do poeta pelo professor de literatura brasileira da Universidade de São Paulo Flávio Aguiar encontra sintonia com o movimento Occupy Wall Street, hoje espraiado pelo mundo inteiro. Para Flávio, as atuais manifestações “recuperam muito dos movimentos literários e políticos da chamada ‘Beat Generation’ dos Estados Unidos, no pós-Segunda Guerra, durante os anos 1950 e 1960. Allen Ginsberg, Jack Kerouac, William S. Burroughs, Diane di Prima, entre outros e outras, são alguns dos expoentes dessa geração. Mas nenhum deles exprimiu com tanto vigor o cerne de protesto político como Lawrence Ferlinghetti”.
Margem Esquerda traz ainda um comentário do sociólogo Ricardo Musse sobre Karl Korsch e resenhas de Caio Navarro de Toledo e João Valente Aguiar, além de notas de leitura de Deni Ireneu Alfaro Rubbo e Alexandre Freitas Barbosa.