Guilherme Boulos é considerado uma das lideranças sociais mais importantes no Brasil nos últimos anos. Isto porque a questão da qualidade de vida nas grandes cidades tornou-se um dos principais palcos de disputa no país - e os sem-teto, efeito colateral do desenvolvimento das últimas décadas, organizados ou não, hoje se juntam aos milhões. A figura do jovem líder do MTST despontou com força quando o impacto de algumas expressivas mobilizações de rua e a ocupação de um vasto terreno perto do estádio onde se daria a abertura da Copa do Mundo lhe deram grande visibilidade.
Segundo o próprio autor, De que lado você está? “é uma obra de intervenção, que propõe saídas à esquerda para os desafios que a explosiva conjuntura brasileira nos oferece”. Boulos não pretende criar consensos, mas sim tomar partido no dissenso, desconstruindo o preconceito e a cultura do comodismo, transmitidos por família, amigos, escola, igreja e mídia e absorvidos pela sociedade em geral. “A burguesia brasileira pede um Estado mínimo e enxuto para o povo, mas desde sempre teve para si um Estado máximo. Privatizar os lucros e socializar o prejuízo, esta é sua diretriz”, afirma.
Publicados originalmente em sua coluna no site do jornal Folha de S. Paulo - além de alguns inéditos -, os artigos combinam a legitimidade de quem vive o dia a dia de ocupações e despejos à reflexão teórica de sua formação como filósofo e à didática de sua experiência como professor. Muitas vezes os textos recorrem à ironia e ao sarcasmo para furar barreiras que impedem a compreensão de sua visão da realidade atual - e não poupam, por exemplo, os dirigentes do sistema de transporte público e os que se beneficiam com a crise da falta de água.
O livro se divide em três partes: “Barril de pólvora”, com textos sobre questões urbanas, “Estopins”, sobre questões políticas, e “Artilharia”, centrada na crítica de expoentes da conjuntura brasileira atual, entre eles Reinaldo Azevedo, Eduardo Cunha e Gilmar Mendes. Tudo isso é precedido por uma Apresentação, assinada pelo autor, na qual ele expõe sua visão geral da realidade sobre a qual se debruça e esclarece a articulação entre os textos: “Se falar de barril de pólvora, estopins e artilharia pode soar normal nos dias de hoje é porque vivemos um momento de conflagração, de crise de modelo. Essa crise é o fio-condutor que perpassa os artigos aqui reunidos”.