Edward Said imprime uma visão universalista em suas análises sobre a questão palestina, inserindo-a no conjunto das grandes lutas pelo reconhecimento de todos os povos a afirmar sua identidade e ter sua expressão política. Em seus livros e artigos, denuncia o racismo ocidentalista, que tenta se legitimar como visão hegemônica do mundo, opõe-se corajosamente à criminalização da luta do povo palestino e de todos aqueles considerados fora dos padrões da chamada civilização ocidental e luta contra a desqualificação da intelectualidade crítica como forma de restrição ao debate acadêmico e político. Cultura e política apresenta um conjunto de artigos políticos e de cultura publicados originalmente, em sua maioria, no jornal Al-Ahram e selecionados por Emir Sader para esta edição brasileira.
A primeira parte do livro reúne artigos e ensaios sobre temas culturais e literários, como o papel público dos escritores e intelectuais e análises de aspectos da obra de pensadores e escritores como Sartre, Naguib Mahfouz e Pierre Bourdieu. Na segunda parte, Edward Said discute principalmente a questão palestina e as relações entre Oriente e Ocidente, sob o ponto de vista dos oprimidos, usando, para isso, uma linguagem direta e uma crítica mordaz e contundente. Demonstra como "a Palestina sempre esteve identificada em parte de forma elegíaca, em parte resolutamente com expropriação e exílio, enquanto para tantos outros ela é conhecida principalmente como Israel quer, uma terra vazia, retornada conforme os ditados bíblicos, o que tem tornado difícil às vezes até pronunciar a palavra Palestina", pela campanha internacional em demonstrar que ela não existiria. Para Emir Sader, esta coletânea apresentada ao leitor brasileiro "é um complemento indispensável para que o pensamento de Said seja apreciado em sua totalidade, na sua articulação entre teoria e política".
Esta coleção de artigos busca contribuir para preencher esta lacuna, na esperança que possa entregar aos leitores um ponto de vista pouco presente na mídia - para quem os palestinos são identificados como terroristas, expressão que nunca acompanha a referência ao Estado de Israel. Sua leitura faz justiça à obra de Edward Said e à luta dos palestinos por seu direito a um Estado - única via para a paz no Oriente Médio.