CAIXA DO MÊS | NOVEMBRO 2024

Autor: Douglas Barros

Prefácio:Rita von Hunty

Orelha:Deivison Faustino

Quarta capa:Christian Dunker e Maíra Moreira Marcondes

Capa:Matheus Rodrigues

Páginas: 208

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O que é identitarismo?

Na última década, um termo tem se proliferado de maneira espantosa no discurso político. Moralmente carregado e lançado a torto e a direito em disputas de internet, mesas de bar, espaços acadêmicos e palanques políticos. Mas, afinal, o que é identitarismo? Neste livro, o psicanalista Douglas Barros propõe uma interpretação original do fenômeno. Para ele, o termo nomeia sobretudo uma forma de gestão da vida social contemporânea que engole esquerda e direita.

 

Emblema maior do desaparecimento da Política (com p maiúsculo), o identitarismo é lido como um sintoma do século XXI. Implodindo a troca de acusações entre “identitários” e “anti-identitários”, Barros provoca: “o processo de identitarização da diferença se inicia com o colonialismo. É o colonizador europeu o primeiro identitário da história moderna.” Com um olhar da periferia do capitalismo sobre a colonização, o autor revisita, pelo prisma da identidade, o surgimento e desmonte do sujeito, do Estado e do capitalismo modernos para jogar luz sobre os impasses da política contemporânea, marcada pela proliferação de bolhas identitárias, em que as pessoas se veem obrigadas a desenvolver identidades fragmentadas como resposta, mesmo que inconsciente, à quebra de laços sociais e o endurecimento do neoliberalismo nas relações econômicas.

 

Articulando filosofia, teoria social e psicanálise, Douglas Barros apresenta uma análise que reconhece a necessidade histórica das lutas rotuladas como identitárias, sem perder de vista as disputas e capturas a que estão sujeitas no atual estágio de acumulação capitalista. Nos termos de Deivison Faustino, “uma valiosa contribuição a um debate novo, que pela primeira vez, encontra uma análise à altura.”

 

“Na aurora da modernidade, a exploração de novos continentes faz emergir a noção racial como construção identificatória para gerir os territórios invadidos. Esse esforço administrativo nos remete ao complexo da diferença identitária, no qual a identidade (dos outros povos), no imaginário europeu, se torna fechada à processualidade histórica. É a coisificação da diferença inerente aos grupos humanos não europeus em relação a eles: os colonizadores, para justificar a dominação dos “novos” mundos, atribuem à diferença, identificada nas comunidades fora da Europa, uma ideia de inferioridade, e fazem dela a representação imaginária na qual a gestão se baseará. Sob a sombra dessa identificação, que precisava reduzir, através do conceito, a multiplicidade à unidade, a noção racial tornou-se o solo da modernidade. Não por acaso, o conceito de raça aparecerá só no século XV, como uma corruptela do latim rationis, e servirá para consolidar uma cisão entre grupos humanos distintos”.

 

Douglas Barros

Douglas Barros é psicanalista, membro do Fórum do Campo Lacaniano e professor do Instituto D’alma de formação e extensão em psicanálise. Doutor em ética e filosofia política pela Unifesp, é professor filiado ao Laboratório de Experiências Coloniais Comparadas da UFF e integrante do ÍMPAR – Laboratório de Estudos Críticos da Família, da USP. Publicou, entre outros livros, Lugar de negro, lugar de branco? (Hedra), Hegel e o sentido do político (LavraPalavra) e Guy Debord: antimanual de leitura (sobinfluencia).

Na TV Boitempo, Douglas Barros explica o conceito de “fetichismo da mercadoria”.