1. O legado da escravidão

OS 50 (E TANTOS) ANOS DO(S) GOLPE(S) CONTRA A CLASSE TRABALHADORA
POR JORGE LUIZ SOUTO MAIOR
INTRODUÇÃO1. O LEGADO DA ESCRAVIDÃO /  2. TRABALHO NA REPÚBLICA VELHA →

cidade_global14.inddEspecial de Jorge Luiz Souto Maior, para o Blog da Boitempo.
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O desprezo ao valor do trabalho tem origem, no Brasil, com os quase 400 anos de escravidão, sendo que a resistência à abolição se deu pelos argumentos de que haveria a ruína da economia e de que os “proprietários” seriam conduzidos à falência. O convívio com a escravidão gerou repercussões culturais quanto à desvalorização do trabalho e, por consequência, do trabalhador, sobretudo com relação àquele que executava trabalho manual, sendo alvo, também, de posições racistas e machistas.

Quando os primeiros passos na direção da abolição da escravatura começaram a ser dados no Brasil, com o projeto da Lei do Ventre Livre, os opositores à mudança diziam, abertamente, que o escravo era uma “propriedade tão legítima como outra qualquer” e que, portanto, não poderia ser violada (Alencar Araripe). Segundo relato de Emília Viotti da Costa, esse “pensador” dizia: “Não nos devemos levar só pelos sentimentos de filantropia em favor dos escravos quando arruinamos as nossas próprias famílias e prejudicamos o Estado (….) Que prurido de liberdade é esse, pois temos vivido com a escravidão por mais de três séculos e não podemos suportá-la mais alguns anos?”1

Já naquela época, tentou-se formar o convencimento de que a abolição representaria a falência da economia nacional, mas, percebendo-se que o argumento não era sustentável, tendo à vista a grande inserção do trabalho imigrante nas lavouras, passou-se a defender a necessidade do recebimento de uma indenização pela perda da “propriedade”, qual seja, os escravos.

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Próximo capítulo: “2. Trabalho na República Velha: a resistência da classe dominante

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NOTAS 

[1]. Apud, COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia. São Paulo: Editora UNESP, 1998, p. 419.