Não desistam da mudança

Vou fazer valer a participação como forma de governo, porque acredito que uma política feita desse jeito, sem portas fechadas, pode renovar a esperança de muita gente. Por isso, faço aqui um pedido a vocês: não desistam da mudança. Desistir dela é desistir do futuro, de deixar um legado da nossa geração para as que virão.

Boulos em visita à comunidade Morro dos Macacos, em 23 de outubro de 2024.
Foto: Leandro Paiva/@leandropaivac

Por Guilherme Boulos

Venho aqui, de coração aberto, para falar com vocês. Eu nasci, cresci e formei minha família na nossa cidade. Tive a oportunidade de viver os dois lados da ponte. O que sempre me moveu, desde menino, quando fui atuar junto com as pessoas sem-teto, foi o sentimento de indignação com as injustiças e a convicção de que é possível vivermos numa sociedade melhor. Como pode uma cidade tão rica ter gente com fome? Como pode ter tanta gente nas ruas? Como pode termos bairros com a qualidade de vida da Suécia e outros, com a dos países mais pobres do mundo? Essas inquietações são minhas, dos que caminham ao meu lado e, tenho certeza, também são suas.

Ter uma cidade mais humana, em que a solidariedade não seja destruída pela indiferença, é o que eu acredito e quero fazer. Sei que muitos de vocês compartilham desse sonho, mas têm dúvidas e receios. Muitos ficam assustados com a minha trajetória no movimento social. Outros se questionam sobre se conseguiremos dar conta ou se vamos dialogar com quem tem visões diferentes. E, por isso, ficam receosos de apostar na mudança que representamos, mesmo sabendo que a cidade não está boa. Peço aqui um voto de confiança a vocês. Eu me preparei para governar nossa cidade: estudei cada área, cada contrato e cada solução. Chamei a Marta, com sua experiência administrativa, para ser minha vice e juntamos especialistas e gestores que passaram por governos de diferentes partidos. Nosso governo será de diálogo e construção conjunta, sem amarras a qualquer tipo de sectarismo.

Reconheço também que, pelo nosso propósito de olhar sempre para os invisíveis, muitas vezes nós da esquerda deixamos de falar com tanta gente que também batalha, sofre o dia-a-dia das periferias e que buscou encontrar sua própria forma de ganhar a vida. A periferia mudou. Você, mulher, que foi abrir seu salão, vender salgados na garagem de casa ou na porta do metrô, sabe disso. Você, jovem, que financiou uma moto e foi trabalhar sem parar e sem nenhuma proteção, sabe disso. Você que pega um carro e dirige a cidade toda como motorista de aplicativo sabe disso. Muitas vezes nós deixamos de falar com vocês.

Eu quero aqui assumir um compromisso com cada um de vocês: a Prefeitura de São Paulo vai reconhecer o seu esforço e te oferecer oportunidades, não só aparecer pra cobrar boleto. Isso não é apenas uma promessa de campanha. É um compromisso de futuro.

Sei que boa parte de vocês está descrente da política, perdeu a esperança por achar que são todos iguais. E quando a gente vê quem aparece só de quatro em quatro anos, repetindo o que o marqueteiro falou, eu te entendo. É difícil diferenciar quem está de verdade do seu lado dos que querem te enganar. O compromisso que eu assumo com vocês não é apenas de fazer melhor, é de fazer diferente. Eu vou fazer meu Gabinete na Rua, indo todos os dias escutar você no seu bairro e construir junto as soluções. Vou fazer valer a participação como forma de governo, porque acredito que uma política feita desse jeito, sem portas fechadas, pode renovar a esperança de muita gente. Por isso, faço aqui um pedido a vocês: não desistam da mudança. Desistir dela é desistir do futuro, de deixar um legado da nossa geração para as que virão.

Nesta eleição, São Paulo tem um risco e uma oportunidade.

O risco é deixar um prefeito fraco e omisso levar nossa cidade ao caos. Quando o governo é fraco, os verdadeiros vilões tomam conta. Foi assim que o pior da nossa política se apoderou do orçamento de São Paulo, do nosso dinheiro, com esquemas que todos nós estamos vendo na imprensa. Foi assim que o crime organizado se infiltrou no transporte público e em cargos de alto escalão da Prefeitura. Já vimos esse filme em outras cidades do país. E não acaba bem.

Mas esse não é o único caminho. Nós podemos, com coragem e responsabilidade, afastar esse risco de São Paulo e aproveitar a oportunidade de termos o maior orçamento da nossa história para enfrentar as desigualdades que vêm de longe. Para olhar as grandes metrópoles do mundo e tirar as melhores soluções em inovação, eficiência e sustentabilidade. Para termos, pela primeira vez, uma política que entenda e apoie a periferia que quer empreender. Um governo que vai levar a escuta e a participação da sociedade ao limite.

Eu jamais desistirei desse caminho. Fomos tão atacados nesta eleição exatamente por manter a coerência e os princípios que nos trouxeram até aqui. E acredito que é possível ganhar essa eleição dialogando olho no olho com as pessoas. Defendendo que os sem-teto tenham casa, que os invisíveis tenham voz, que todos os trabalhadores tenham oportunidades. Que as periferias sejam tratadas com respeito e não com preconceito e violência. É isso que nos move. E peço a todos que se movem por esses mesmos valores que saiam às ruas para virar votos nessa reta final. A verdade pode, sim, vencer a mentira. A esperança pode, sim, vencer o medo.

Pensem e reflitam com suas famílias. A hora é agora. Por tudo isso, peço o seu voto no próximo domingo no 50!

Pronunciamento feito na manhã do dia 21 de outubro em frente a prefeitura de São Paulo e publicado no blog Jacobina.


Até o dia 27 de outubro, todos os livros de Guilherme Boulos estão com 50% (CINQUENTA por cento) de desconto na loja virtual da Boitempo e da Boitatá. São obras que promovem reflexões sensíveis sobre moradia, justiça social, igualdade, empatia e solidariedade.

Até o segundo turno, confira seleção de outras leituras com descontos variados para qualificar o debate público sobre o futuro de nossas cidades.

De que lado você está?, de Guilherme Boulos
O líder do MTST desafia convenções com artigos que misturam experiência prática, teoria filosófica e didática. Ele desconstrói preconceitos, questiona a cultura do comodismo e expõe a necessidade de tomar partido no dissenso político. Análises afiadas sobre questões urbanas e políticas.

Sobre a questão da moradia, de Friedrich Engels com orelha de Guilherme Boulos
O problema da habitação, suas razões e soluções são os temas abordados. Escrito no final do século XIX, mantém sua atualidade ao ser publicado num momento em que a luta dos sem-teto e as ocupações urbanas ganham cada vez mais força no Brasil.

A rebeldia do precariado, de Ruy Braga com orelha de Guilherme Boulos
Análise inovadora do precariado global, examinando sua rebeldia e resistência em contextos diversos. O autor utiliza uma abordagem marxista e etnográfica para entender o papel fundamental do precariado na luta contra a espoliação social e a mercantilização do trabalho, do dinheiro e da terra.

O que você vê, de Alexandre Rampazo com posfácio de Guilherme Boulos
O que pode haver por trás de uma confusão de gente caminhando de um lado para o outro, com histórias e percursos diferentes? O que você vê? Que história contar sobre alguém que você só observa? Podemos analisar as pessoas sem pré-julgamentos? É só com os olhos que enxergamos? E nossa imaginação? É possível enxergar de olhos fechados? E ver de olhos fechados é sonhar?

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Guilherme Boulos é professor, membro da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). Foi candidato à presidência nas eleições de 2018 pelo PSOL. Pela Boitempo, publicou De que lado você está? (2015).

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