Só o decrescimento pode conter a crise climática

O que propõem os donos do poder? Dobrar a aposta, mantendo o rumo suicidário e desafiando os limites do planeta, apelando para geoengenharia e soluções tecnológicas. Tais respostas, no entanto, não passam de miragens de uma transição falaciosa, pois uma maior eficiência energética e novas fontes são canalizadas pela cruel dinâmica do lucro econômico, o que acaba aumentando os dispêndios e a destruição da vida humana e da natureza. “A chave da sobrevivência é a igualdade”, diz Kohei Saito, que clama por uma virada: decrescer!

Imagem: arte sobre foto de GWizUK (Pixabay).

Por Jean Tible

O ponto de partida de O capital no Antropoceno é nosso apocalipse cotidiano, o “novo normal” de secas, inundações, ventanias, fogos, derretimentos de geleiras e recordes a todo momento batidos de altas temperaturas – emergências que persistem, apesar dos variados negacionismos.

O aquecimento global, fruto do modo de produção capitalista, é puxado pelos países desenvolvidos e pelo andar de cima (os 10% mais ricos são responsáveis pela emissão de metade do CO₂ global). Isso vem dos primórdios coloniais, se acentua na grande aceleração do pós-Segunda Guerra Mundial e piora um tanto, numa sinistra espiral, com o fim da Guerra Fria e a intensificação da globalização.

O que propõem os donos do poder? Dobrar a aposta, mantendo o rumo suicidário e desafiando os limites do planeta, apelando para geoengenharia e soluções tecnológicas. Tais respostas, no entanto, não passam de miragens de uma transição falaciosa, pois uma maior eficiência energética e novas fontes são canalizadas pela cruel dinâmica do lucro econômico, o que acaba aumentando os dispêndios e a destruição da vida humana e da natureza. “A chave da sobrevivência é a igualdade”, diz Kohei Saito, que clama por uma virada: decrescer! Em seu livro anterior, O ecossocialismo de Karl Marx (Boitempo, 2021), o autor fez brotar um Marx ecossocialista que percebe no sistema político-econômico uma fissura no equilíbrio do ciclo natural dos recursos. Agora, descobre seu abandono do produtivismo e do eurocentrismo que o habitaram em certos momentos.

O velho revolucionário, argumenta Saito lendo seus cadernos de anotações, suas cartas e seus textos da seguinte década e meia, se aproxima de um comunismo do decrescimento. No comum se localiza o ponto de mutação – a esfera de abundância do valor de uso frente à permanente produção de escassez do valor de troca capitalista. Em seus últimos anos, o insaciável pesquisador mergulha em dois temas que se alimentam mutuamente: os estudos de ciências naturais e os das sociedades pré-capitalistas, em particular suas comunidades camponesas igualitárias (na Índia, na Rússia, no Peru ou na Alemanha).

Uma leitura fundamental para as vidas-lutas no Brasil, país que vive quase ininterruptamente os nítidos sinais da tragédia ambiental produzida pelo capital, mas também ostenta o exuberante manancial dos povos da terra e sua riqueza cooperativa multiespécies.


Hoje (09/10) às 14h, não perca a live de lançamento de O capital no Antropoceno, com Ana Paula Salviatti, Bruno Araújo e Jean Tible, mediação de Bruno Torturra, na TV Boitempo:


“Este livro demonstra por que o anticapitalismo é determinante
para a sustentabilidade ambiental.”
TITHI BHATTACHARYA

“Saito apresenta o marxismo como pensamento dinâmico, não como doutrina estática. Seu apelo pelo ‘comunismo de decrescimento’ é uma contribuição decisiva para o
marxismo ecológico de nossa época – um comunismo para o Antropoceno.”
MICHAEL LÖWY

Qual é a relação entre capitalismo, sociedade e natureza? Em O capital no Antropoceno, o filósofo japonês Kohei Saito propõe uma interpretação dos estudos de Karl Marx frente aos problemas ambientais que enfrentamos no século XXI. A mensagem central da obra é que o sistema capitalista dominante, de alta financeirização e busca ilimitada do lucro, está destruindo o planeta, e só um novo sistema, pautado pelo decrescimento, com a produção social e a partilha da riqueza como objetivo central, é capaz de reparar os danos causados até aqui.

Best-seller com mais de 500 mil exemplares vendidos, o aguardado livro do filósofo japonês Kohei Saito revela, de maneira acessível, como o sistema capitalista dominante, de alta financeirização e sua busca ilimitada do lucro, está destruindo o planeta.

A obra tem tradução direta do japonês de Caroline M. Gomes, apresentação de Maria Orlanda Pinassi, orelha de Jean Tible e capa de Maikon Nery.

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Jean Tible é professor de Ciência Política na Universidade de São Paulo, doutor em Sociologia (Unicamp) e mestre em Relações Internacionais (IRI/PUC-Rio). Autor de Marx selvagem (Autonomia Literária, 2019).

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