Pensar a Palestina após Gaza

O novo número da Margem Esquerda traz um especial de capa dedicado a Gaza, com colaborações de Rashid Khalidi, Tariq Ali, Arlene Clemesha, Samah Jabr, Tithi Bhattacharya, Bruno Huberman, Ilan Pappé, Yazan Khalili e Refaat Alareer; além de um dossiê sobre “Drogas e marxismo”, e artigos de Alysson Mascaro, Leda Paulani e Flávia Braga Vieira, entre outros. Confira a apresentação da edição feita por Artur Renzo, o sumário completo e saiba como garantir a sua edição.

“Regarding Distance”, de Yazan Khalili

O novo número da Margem Esquerda chega primeiro para os assinantes do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo! Com especial de capa dedicado a Gaza, a edição conta com colaborações de Rashid Khalidi, Tariq Ali, Arlene Clemesha, Samah Jabr, Tithi Bhattacharya, Bruno Huberman, Ilan Pappé, Yazan Khalili e Refaat Alareer; além de um dossiê sobre “Drogas e marxismo”, com textos de Henrique Carneiro, Gustavo Racy, Pedro Costa, Júlio Delmanto, Thiago Rodrigues e Daniela Ferrugem; e artigos de Alysson Mascaro, Leda Paulani e Flávia Braga Vieira. Confira abaixo a apresentação da edição feita por Artur Renzo, o sumário completo da revista e saiba como garantir a sua edição.


Por Artur Renzo

O atual massacre em Gaza é o capítulo mais recente de uma guerra centenária, assimétrica e colonial travada contra o povo palestino. É o que defende Rashid Khalidi na entrevista que abre esta edição. Para ele, é impossível compreender o que ocorre na região desde 1917 sem remeter à participação decisiva do Império Britânico e, depois da Segunda Guerra Mundial, dos Estados Unidos. Contra as explicações hegemônicas que partem do 7 de outubro de 2023 como marco inicial absoluto ou nos remontam a um passado imemorial marcado por um conflito de ordem religiosa ou cultural entre árabes e judeus, Khalidi situa a questão palestina como produto da modernidade – em particular, da incursão imperialista no Oriente Médio e da ascensão dos nacionalismos modernos – e dá uma verdadeira aula sobre a história árabe do século XX à contemporaneidade.

Além de ser resultado dos processos da modernização, Gaza também tem forte poder de revelação sobre esses mesmos processos. Essa inversão, muito familiar à nossa tradição crítica (nascida da apreciação dialética da perversa conjunção entre o moderno e o arcaico na formação social brasileira), é fundamental para analisar o que se passa na Palestina hoje. Afinal, encarar a periferia como verdade do centro é também atinar com o sentido do progresso da acumulação capitalista como regresso a modos “bárbaros” de apropriação e violência. Não à toa, a formulação “palestinização do mundo” tem reverberado cada vez mais no debate público. Essa é a perspectiva que anima o dossiê de capa desta Margem Esquerda.

O fato de Israel ter um enorme mercado para exportar tecnologia de ocupação, vigilância e gestão militar de populações, por exemplo, diz muito sobre um mundo em estado de desagregação social aguda e crise sistêmica. O antissemitismo, vale lembrar, é essencialmente uma ideologia de crise, e sua exacerbação, para além de sua evidente instrumentalização pelo governo de Israel, não deixa de ser um dado sintomático de nosso tempo. A ausência de visão clara de saída política para a guerra em curso (por parte tanto de Netanyahu quanto do Hamas) pressagia uma alarmante perspectiva de generalização do paradigma bélico como modelo de estabilização da crise. Ao mesmo tempo, a sensibilidade apocalíptica, cada vez mais palpável nas ditas “crises da democracia” mundo afora, parece dominar o horizonte político de expectativas na região. (Talvez ainda espante o senso comum orientalista constatar o vocabulário do “milagre” e do “Armagedom” nas palavras sóbrias e esclarecidas de alguém como Benny Morris, que não hesita em qualificar “o projeto sionista como um todo” como “apocalíptico”*).

Abrindo o dossiê, Arlene Clemesha apresenta uma informativa historiografia da Nakba e defende que a partir de Gaza o paradigma do genocídio passa a fazer parte da história palestina. Na sequência, a marxista feminista Tithi Bhattacharya faz uma leitura original da reprodução social da vida palestina e explica por que o enclave continua produzindo uma grande quantidade de poetas. Escrevendo da linha de frente em Gaza, a psiquiatra palestina Samah Jabr discute os limites da abordagem ocidental sobre a saúde mental e nos proporciona um valioso vislumbre da vida psíquica do povo palestino. As inflexões nas teorias marxistas do colonialismo e do genocídio são a matéria-prima do ensaio de Bruno Huberman, que busca esquadrinhar as particularidades do projeto sionista em regime de neoliberalismo. Por fim, o historiador israelense Ilan Pappé faz uma radiografia a quente das fissuras abertas no edifício sionista, elencando seis pontos críticos para pensar o futuro de Israel. O artista escolhido para esta edição é o palestino Yazan Khalili, cujo trabalho explora o efeito da distância geográfica em nossa percepção do território e sua “capacidade de aguçar ou suspender nossos vínculos políticos e sentimentais”. Fecham o volume os últimos versos de Refaat Alareer, assassinado em dezembro por um bombardeio aéreo israelense no norte de Gaza.

O especial “Drogas e marxismo – uma introdução” oferece um panorama dessa questão ainda tão ignorada nas esquerdas, com reflexões sobre o consumo de álcool na URSS, a crítica marxiana aos manicômios, as experiências de Benjamin com psicotrópicos, a economia política da guerra às drogas e um balanço do atual “debate” sobre a legalização no Brasil. A revista conta, ainda, com três artigos de fôlego: Alysson Mascaro mapeia a estética do muralismo; Flávia Braga Vieira identifica as impressões digitais do capitalismo de desastre na enchente do Rio Grande do Sul; e António José Avelãs Nunes desnuda o imperialismo por trás das políticas de globalização neoliberal. Na seção de homenagens, Leda Paulani escreve sobre o legado de Maria da Conceição Tavares, e Anderson Deo presta tributo a Paulo Barsotti. No fechamento desta revista, perdemos também o economista francês Pierre Salama, especialista em América Latina. A ele, dedicamos esta edição.

* Benny Morris, “On Ethnic Cleansing”, New Left Review, n. 26, mar.-abr. 2004, p. 50.


Novo volume da coleção Pontos de partida, Lênin: uma introdução, do filósofo e cientista político João Quartim de Moraes, traz um panorama introdutório sobre a vida do revolucionário russo Vladímir I. Lênin. Começando pelos anos de formação, o autor repassa pontos importantes da vida de Lênin, como a construção do partido, as consequências da Primeira Guerra Mundial, os principais escritos do autor, a prisão na Sibéria, a derrota de 1905 até a grande revolução de 1917 e os anos posteriores até sua prematura morte, em 1924.

“A elaboração teórica de Lênin apoiava-se em três fontes: a crítica marxista da economia burguesa, as lições do movimento operário e socialista europeu e a experiência da construção do Partido Bolchevique nas condições próprias da Rússia. A excepcional capacidade de sintetizar os conceitos e as informações proporcionadas por essas fontes básicas explica o impacto de seus escritos, sejam eles estudos econômicos de fôlego, ou político-programáticos, como os muitos que ele consagrou ao programa agrário, à conexão da revolução democrática com a revolução socialista, à questão do poder, à aliança operário-camponesa etc”, conta o autor na apresentação.

Lênin: uma introdução, de João Quartim de Moraes, tem orelha de Juliane Furno e capa de Maikon Nery.

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Sumário completo

Apresentação
Artur Renzo

ENTREVISTA
Rashid Khalidi
Tariq Ali

ESPECIAL
Pensar a Palestina após Gaza: uma breve historiografia da Nakba
Arlene Clemesha

Descolonizando a saúde mental: considerações sobre a Palestina
ocupada
Samah Jabr

Esqueci de morrer: pensar a reprodução social da vida palestina
Tithi Bhattacharya

Gaza, genocídio colonial e capitalismo
Bruno Huberman

O colapso do sionismo
Ilan Pappé

ARTIGOS
Crítica da arte mural
Alysson Mascaro

Capitalismo de desastres e a “tempestade perfeita” no Rio Grande do Sul
Flávia Braga Vieira

O imperialismo e as políticas de globalização neoliberal
Antonio José Avelãs Nunes

DOSSIÊ: Drogas e marxismo: uma introdução
Apresentação
Thiago Rodrigues, Henrique Carneiro e Luciana Boiteux

O álcool na União Soviética
Henrique Carneiro

Benjamin, as drogas e as “forças da intoxicação”
Gustavo Racy

Das workhouses às comunidades terapêuticas: a crítica de (e a partir de) Marx aos manicômios
Pedro Costa

Os camaradas já não são tão caretas?
Júlio Delmanto

Brasil e as drogas: a vanguarda do atraso?
Thiago Rodrigues e Daniela Ferrugem

HOMENAGEM
Maria da Conceição Tavares, pensadora da economia política do Brasil
Leda Paulani

“Naquela mesa”: tributo a Paulo Barsotti
Anderson Deo

NOTAS DE LEITURA
Contra o sionismo: retrato de uma doutrina colonial e racista, de Breno Altman
Soraya Misleh

Sociologia do Brasil, de Alysson Mascaro
Juliana Paula Magalhães

Do realismo capitalista ao comunismo ácido: o legado de Mark Fisher, de Antonio Galvão
Heribaldo Maia

POESIA
Se eu devo morrer
Refaat Alareer
Seleção, tradução e nota: Flávio Wolf Aguiar

IMAGENS
Yazan Khalili: narrativas visuais como testemunho e resistência
Curadoria: Francisco Klinger Carvalho

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Artur Renzo é editor e tradutor. Formado em filosofia e em cinema, atualmente desenvolve pesquisa de mestrado no Departamento de Filosofia da Universidade de São Paulo.

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