“The Bear”: uma homenagem ao trabalho humano

"The Bear" honra os insubstituíveis movimentos humanos que criam a vida e que nenhuma inteligência artificial é capaz de criar. A vida não pode ser medida a não ser pelo que fazemos artesanalmente dela.

Imagem: Divulgação FX.

Por Cauana Mestre

Levei o maior tempo possível para terminar a terceira temporada de The Bear. Quis, não por acaso, degustar cada segundo dessa temporada que parece ainda mais detalhista que as outras. Os cortes, as cores, as etapas minuciosas de cada preparação, a cidade que se ergue pela manhã, o suor, o corpo, o asfalto. O pedaço de manteiga se desfazendo na panela, a folha de manjericão perfeitamente triangular colocada acima da massa com um fino movimento de pinça. Posso dizer que talvez eu nunca mais frequente um restaurante do mesmo modo.

The Bear é uma homenagem ao trabalho humano. E acabei assistindo a terceira temporada ao mesmo tempo em que acompanhava as Olimpíadas, que são, sem dúvida, também uma grande homenagem ao trabalho humano.

Uma das coisas mais grotescas das nossas sociedades é valorizar o produto industrial infinitamente mais que o processo humano de trabalho. Pagar R$10 mil em um iPhone e pedir desconto à diarista talvez seja uma das formas mais antiéticas de estar no mundo.

The Bear honra os insubstituíveis movimentos humanos que criam a vida e que nenhuma inteligência artificial é capaz de criar. A vida não pode ser medida a não ser pelo que fazemos artesanalmente dela.

Não apenas recomendo que você veja essa série, eu peço. É uma das coisas mais bonitas e minuciosas já criadas para a televisão.


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Cauana Mestre é psicanalista, mestre em Literatura pela UFPR.

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