Em memória de Gilberto Barranqueiro

Com profundo pesar, lamentamos a partida de Gilberto Barranqueiro, querido livreiro que por anos trabalhou na Unicamp. Sua paixão pelos livros e seu compromisso com a disseminação do conhecimento deixaram uma marca indelével.

Foto: Rafa Marques (Blog do Arcanjo)

Com profundo pesar, lamentamos a partida de Gilberto Barranqueiro, querido livreiro que por anos trabalhou na Unicamp. Sua paixão pelos livros e seu compromisso com a disseminação do conhecimento deixaram uma marca indelével. Recordamos com carinho como ele trazia bolos para a equipe da Boitempo, sempre pronto para compartilhar também histórias e risadas, desde os tempos em que jogava futebol profissional pelo São Paulo Futebol Clube. Sua falta será profundamente sentida por todos que tiveram o privilégio de conhecê-lo e desfrutar de sua amizade calorosa e acolhedora.

A missa de sétimo dia será no sábado (13/07) às 17h, na Paróquia Santo Antonio – Vila Jaguara, São Paulo (Rua Paúva, n. 526).

Seguem alguns depoimentos em homenagem a Gilberto.

“Gilberto foi um grande parceiro da editora. Em quase 20 anos de parceria ele nos representou em muitos eventos. Estava sempre nos corredores da Unicamp com nossos livros. Sentiremos sua falta e somos gratos por esses longos anos de parceria. Um amigo que será sempre lembrado.”
Ivam Oliveira, gerente comercial da Boitempo

“Gilberto foi figura presente nos debates, lançamentos e encontros durante muitos e muitos anos no IFCH-UNICAMP. Livreiro assíduo, nesta era onde as livrarias físicas são dizimadas e as plataformas turbinadas, sua figura gentil e atenciosa fará muita falta.”
Ricardo Antunes, professor da Unicamp

“Por muitos anos, em muitos de meus eventos por São Paulo e mesmo por outras regiões do país, o camarada Gilberto estava presente nas atividades de divulgação, exposição e venda de meus livros. Totalmente dedicado à ambiência livreira, era erudito e politizado. Possibilitou formar uma geração de leitores críticos. Trata-se de um estimado amigo que a vida dos livros me deu.”
Alysson Leandro Mascaro, professor da USP

“Conheci o ‘Seu Gilberto’ muito antes de entrar na Unicamp. Muito antes de me imaginar trabalhando como livreiro. O conheci nas feiras de livros da USP – ele já como livreiro – um bom tempo atrás. Não nos tornamos amigos nesse momento, mas sempre conversávamos. Até porque era impossível não conversar com seu Gilberto, dada sua enorme simpatia. Muitos anos depois, o encontrei na Unicamp, o ‘Seu Gilberto’ da Boitempo. Era assim que ele era conhecido, mesmo não sendo um funcionário da editora. Eu sempre passava na banquinha de livros dele, batia um papo e comprava algum livro quando podia. Seu Gilberto conhecia muito sobre livros, editoras, autores e tudo o mais. Contava histórias sobre eventos que ia, pessoas que conheceu, viagens que fazia para acompanhar os eventos pelo interior de São Paulo. Passado um tempo, eu também comecei a vender livros na saída do restaurante universitário da Unicamp. Como aluno pobre e periférico, a falta de dinheiro pra sobreviver em Barão Geraldo era uma constante. Mesmo morando na moradia estudantil e sendo bolsista-trabalho (uma modalidade de permanência estudantil). Eu vendia livros de literatura, poesia e literatura marginal/periférica. Mas as pessoas não compravam muito e começaram a me pedir livros da área das Ciências Humanas. Assim, comecei a vender alguns livros meus e, quando podia, pegava livros na feira da USP para revender na Unicamp. Passado um tempo, tive um revés na minha vida, que me deixou deprimido e muito mal. Precisava encontrar algo que me desse alguma satisfação pessoal e ao mesmo tempo, me ajudasse mentalmente e emocionalmente, além de financeiramente. Resolvi transformar meu bico de vendas de livros em algo mais sério.  E fui falar com o Seu Gilberto. Logo de cara, ele me incentivou, me falando das editoras, dizendo para entrar em contato com as mesmas.  Me falou como trabalhava, dando dicas e sugerindo coisas. Me acolheu da melhor maneira possível. A partir de então, toda semana eu passava pelo ‘chão preto do Instituto de Economia’ só para encontrá-lo. Sempre com aquele sorriso, postura altiva, e aquele aperto de mão firme, seguido de um tapinha nas costas. Esse elo só foi crescendo, mediante o tempo que passava. Trabalhamos juntos em eventos, ele vinha em casa, sempre que podia, inclusive durante a pandemia, e passou até mesmo a me indicar para alguns eventos em que era chamado, na Unicamp. Lembro das vezes que nos encontrávamos em São Paulo, eu carregado caixas e caixas de livros, de ônibus e metrô, e seu Gilberto, aparecia, do nada, e me dava uma carona. Sempre foi muito generoso comigo e me fazia sentir muito importante pela consideração que tinha comigo. Em recíproca, eu lhe chamava de mestre. Por vezes dizia a ele, brincando: ‘Seu Gilberto, o senhor é o Mestre Yoda dos livreiros!’ Uma brincadeira verdadeira, porque para mim, ele foi meu mestre, mentor, camarada e amigo. Não sei se mereço, mas me sinto como seu discípulo.  Se no mundo dos livreiros existe algum tipo de árvore genealógica, com certeza sou algo como um filho do Seu Gilberto. Não sei se mereço. Não tenho essa soberba. Mas muito do que sou hoje como livreiro e pessoa, foi graças ao Seu Gilberto, que dentre outras coisas, me mostrou que a solidariedade entre trabalhadores é algo que não tem preço, pois possui um enorme valor. Sua perda, inusitada, deixa um vazio enorme em minha vida, e acredito que em todas as pessoas que o conheceram. Um vazio que pretendo preencher com seus ensinamentos, sorrisos e afetos, cravados profundamente em minha memória. Hoje e sempre, Seu Gilberto presente!”
Silvio Rogério, livreiro, responsável pelo sebo/livraria ambulante Palavras são Navalhas. Também é formado em Antropologia e Sociologia pela Unicamp, possuindo mestrado em Antropologia Social pela mesma instituição. Atualmente é aluno de doutorado em Antropologia Social, também pela Unicamp.

“Há uns dez anos atrás, seu Gilberto me deu algumas gravuras da Boitempo e pediu pra escolher uma pra levar pra casa. Eu já tinha passado pelos livros da sua banca, olhado sem muita esperança o preço de muitos deles e já estava claro que não tinha dinheiro pra comprar nenhum. Mas ele viu meus olhos brilharem com um desenho do Cássio Loredano e me pediu pra escolher uma gravura. Uma generosidade que ele tinha com todos e que ficou na minha memória. Desde então, nessa década, encontrá-lo em frente aos auditórios do IFCH ou no IE era pra mim sempre uma alegria tranquila. Sua banca de livros, organizada de maneira impecável, era bonita de ver – aquele trabalho dedicado, paciente e caprichoso de quem conhece sua profissão como poucos. Sempre com uma ideia boa pra trocar, um sorriso e uma recomendação. Sempre muito generoso, com as reflexões e com os marca-textos. Na última vez que nos encontramos, disse a ele que eu tinha voltado a ser são-paulino, agora que o São Paulo tinha finalmente ganhado um título. Ele riu da brincadeira com coisa séria e contou um pouco de sua história de jogador – uma história que eu gostaria de ter ouvido mais. Fará muita falta o seu Gilberto. Foi um privilégio ter podido dividir alguns momentos com ele.”
Murillo van der Laan é integrante do grupo de pesquisa Mundo do Trabalho e suas Metamorfoses e do conselho editorial do selo Mundo do Trabalho, da editora Boitempo, ambos sob a coordenação do prof. Ricardo Antunes

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