Cultura inútil | Hoje é dia de rock, bebê!
De Rita Lee a Tom Jobim, passando por Keith Richards, Elton John, Renato Russo, Bob Dylan e Courtney Love, Mouzar Benedito faz uma seleção de frases sobre o rock.
Foto : Vale Arellano (Unsplash).
Por Mouzar Benedito
Nunca fui chegado ao rock. Chegou na minha terra quando eu era adolescente e começava a dançar, mas dança, pra mim, era de um casal, de preferência agarrado, de rosto colado e, se possível, com muita libidinagem. E era principalmente nos boleros e tcha-tcha-tchas que tínhamos isso. Via os roqueiros dançando separados e não via graça.
Uns anos depois, chegaram os Beatles. Muita gente da minha geração, inclusive da universidade, gostava muito. Não me incomodava – “cada um na sua” – mas eu preferia os bons sambas e outros gêneros melodiosos. Ouvia gente como Chico Buarque, Vandré, Sérgio Ricardo, o grupo dos baianos, João Bosco e Aldyr Blanc, Paulinho da Viola, Elis Regina etc. E foi quando comecei a me interessar por ritmos regionais, como o baião e outros ritmos do forró, e a boa música caipira, legítima.
Achava que tinha muita música boa pra gostar, não precisava dos Beatles, Rolling Stones e dos rocks em geral. E tinha a Jovem Guarda, que eu achava pura bobagem “infantilóide”.
Mas aí a coisa começou a avacalhar. Se o pagode que chegou na época seguisse o embalo de Zeca Pagodinho, ótimo. Uma forma de samba apreciável. Mas virou uma coisa melosa, sem graça. E a música sertaneja… nunca gostei. E piorou, radicalizou: o sertanejo universitário é insuportável. Depois dele comecei a achar bonitos uns gêneros musicais que não gostava antes. Até o rock. Aliás, quando “não gostava” de rock via nele um lado irreverente, divertido, como Rita Lee cantando “Orra meu”, os Ratos do Porão cantando “Mardito fiapo de manga”, o Joelho de Porco…
Sei que hoje tenho uma sensação horrível de que a música brasileira acabou. Bossa nova, samba autêntico, música caipira, choro, frevo, baião… nada disso tem vez mais. Só se ouve uns barulhos que ofendem os ouvidos, com cantores pra lá de brega ganhando milhões para cantar coisas desagradáveis a que chamam de música. O Rio de Janeiro, avesso ao sertanejo, aderiu logo. Até as festas juninas tradicionais do Nordeste foram invadidas por esse barulho.
Enfim, recentemente comecei a selecionar frases sobre o rock que eu não gostava e agora tenho até saudade (mas saudade mesmo é de sambas de Noel e outros, de chorinho, do samba paulista de Adoniran e Vanzolini…). Podia falar de outros gêneros que não aprecio, mas não me agridem tanto, como o axé e o tecnobrega paraense.
Era para selecionar umas frases mais “otimistas”, mas achei mais divertido pegar só um pouquinho destas e muito mais de um pessoal crítico sobre o rock. Ranhetas? Alguns são. Mas achei interessante pegar umas de uns roqueiros falando de outros, muita fofoca, cutucões. Ah… Uma das frases que tenho anotada há muitos anos, foi dita por Júlio Medaglia, não sei em que circunstância. Acho que peguei de um livro de Ruy Castro, mas não tenho certeza. Assim disse o maestro: “O rock é a Aids da música”, mas acho que depois ele mudou de opinião, pelo menos em parte, pois falava muito bem da Rita Lee, chegou a dizer até que por causa dela Londres deixou de ser a capital do rock: São Paulo merecia o título.
Bem… vamos às frases.
Rita Lee: “Roqueiro brasileiro sempre teve cara de bandido”.
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Tom Jobim: “Tenho esperança que o rock vai evoluir e descobrir o quarto acorde, porque fazer música com três acordes é difícil, né?”.
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Paulo Francis: “Rock é música de jeca misturada a jazz”.
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Christiane Torloni: “Hoje é dia de rock, bebê!”
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Keith Richards: “Se você não conhece blues, não adianta pegar o violão e tocar rock and roll ou qualquer outra forma de música popular”.
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Keith Richards, de novo (sobre os Rolling Stones): “Houve uma época em que os em empresários queriam nos obrigar a incluir animais nossos shows. Eu os mandava à merda. Não trabalho com animais. Já trabalhei com Elton John, e isso chega”.
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Truman Capote: “Se as letras dos Rolling Stones quisessem dizer alguma coisa, seriam péssimas”.
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Abbie Hoffman: “Os anos 60 acabaram, as drogas nunca serão tão baratas e o rock and roll nunca será tão bom”.
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Camile Paglia: “Se você vive no rock and roll, como eu, você vê a realidade do sexo, da luxúria masculina e das mulheres sendo despertadas pela luxúria masculina. Atrai mulher. Isso não repele”.
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Marshall McLuhan: “Rock e jazz nada mais são do que uma tradução dos sons horríveis e irracionais do ambiente industrial para a linguagem industrial”.
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Freddie Mercury: “Não serei uma estrela do rock – serei uma lenda”.
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Frank Sinatra: “Rock and roll é a marcha nupcial de todos os delinquentes juvenis da face da Terra”.
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Frank Sinatra: “Rock and roll é a forma de expressão mais brutal, mais hedionda, mais cruel que infelizmente tive o prazer de ouvir”.
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Elvis Costello: “Rock and roll é a forma de vida mais baixa conhecida pelo homem”.
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Milan Kundera: “O chato primitivismo rítmico do rock: o batimento cardíaco é duplicado para que o homem não esqueça por um segundo sua marcha rumo à morte”.
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Ozzy Osbourne: “Você vê muito mais violência em um filme de Tom & Jerry do que num show meu”,
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Chuck Berry: “Não sou o rei do rock, mas o primeiro-ministro”.
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Elton John: “Dizem que Chuck Berry é Deus, mas que merda ele fez?”.
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Little Richard: “Elvis pode ser o rei do rock, mas eu sou a rainha”.
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Elton John: “Eu sou a Connie Francis do rock and roll”.
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Elton John, de novo: “Mick Jagger é a perfeita estrela do rock. Ninguém é tão perfeito. Ele é nojento, feio e sexy ao mesmo tempo, ele é brilhante”.
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Michel Braudeau: “Não ser sexy em um palco de rock and roll é uma desvantagem”.
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Malcolm McLaren: “Se as pessoas comprassem discos pela música, o rrock já teria acabado há muito tempo”.
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Alice Cooper: “Sexo, drogas e rock and roll são fáceis. O verdadeiro cristianismo… é a rebelião”.
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Angus Young: “Rock é a melhor droga do mundo”.
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John O’Connor: “Certos gêneros de rock são aliados do diabo”.
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Jimmy Hendrix: “Sou meio quieto, meio fechado. Na maior parte do tempo, não falo muito. O tenho a dizer, digo com a guitarra”.
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Cazuza: “Nós ouvimos rock e somos loucos, eles destroem o mundo e são normais”.
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Iggy Pop: “Música é vida, e vida não é um negócio”.
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Roger Walters: “O rock and roll está se tornando uma ganância oculta na forma de entretenimento, exatamente como a guerra se tornou uma ganância oculta na forma de política”
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Renato Russo: “Quando você faz sucesso com banda de rock and roll, tem que conviver justamente com as pessoas de quem você queria fugir ao fundar uma banda de rock and roll”.
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Kurt Cobain: “Se é ilegal fazer rock and roll, jogue minha bunda na cadeia”.
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Courtney Love: “Eu não queria me casar com uma estrela do rock, queria ser uma”.
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Bob Dylan: “Todos os meus discos são uma comédia”.
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Lou Reed: “Bob Dylan me dá nos nervos. Se estivesse comigo numa festa, eu o mandaria calar a boca”.
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Garry Trudeau: “Chegamos a um ponto em que a primeira dama do Canadá é vista dando umas voltinhas com Mick Jagger e ela é que é acusada de alpinismo social”.
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Jerry Lee Lewis: “Sempre achei os Beatles um lixo”.
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John Lennon: “Tudo o que fazíamos, os Stones tentavam fazer igual – três meses depois”.
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Mick Jagger: “Nunca gostamos dos Beatles. Eram uns provincianos e não queriam que os outros soubessem disso”.
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Mick Jagger: “O rock é como um orgasmo. Às vezes, um orgasmo é melhor. Em outras, o rock é melhor”.
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Tom Wolfe: “Os lábios de Mick Jagger pendem de seu rosto como miúdos de frango, e seus olhos se derramam sobre a borda de brotinhos com uma suavidade de xarope caro”.
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Raul Seixas: “Rock and roll não se aprende nem se ensina”,
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George Harrison: “O principal do rock é ganhar aas crianças. É o velho truque da Igreja Católica: ela te fisga em criança, aplica uma lavagem cerebral e te tem para o resto da vida””.
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George Harrison, de novo: “Paul McCartney faz música para menores mentais de catorze anos”.
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Paul Anka: “Sempre achei que Buddy Holly ficaria melhor servindo hambúrgueres numa lanchonete”.
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Pete Townshend: “O rock é muito, muito importante e muito, muito ridículo”.
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Elvis Presley: “Não sei uma nota de música. Nem preciso”.
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Frank Zappa: “Um ouvinte típico de rock é um garoto tão analfabeto que não consegue ler nem o selo do disco que acabou de comprar”.
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Frank Zappa, de novo: “Um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler”.
Em O Boitatá e os boitatinhas, Mouzar Benedito questiona o “progresso” que destrói a natureza e expulsa as comunidades tradicionais. As ilustrações vibrantes de Hallina Beltrão mostram aos pequenos leitores os encantos da fauna e flora.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.
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