A revolução de Outubro e Cuba

A revolução de Outubro teve diversas repercussões em Cuba ao longo da década de 1920, tanto em termos ideológicos como políticos. E essa influência seria sentida com bastante intensidade em matérias de jornalistas e dirigentes, em manifestações públicas e na organização partidária e sindical dos trabalhadores da ilha por vários anos.

Colina Lênin, em Regla, Havana.

Por Luiz Bernardo Pericás

Fundado em agosto de 1925, no Instituto Politécnico Ariel, em Havana, o Partido Comunista de Cuba foi o resultado das lutas políticas e experiências do movimento operário local ao longo das décadas anteriores, assim como também herdeiro direto da revolução de Outubro, do leninismo e da atuação dos bolcheviques. Lembremos que no dia 6 daquele mês, a comissão executiva da Agrupación Comunista da capital emitiria uma convocatória para suas homólogas em outras cidades, para que participassem, de forma clandestina, de seu primeiro congresso nacional, dez dias mais tarde, com o objetivo de discutir a organização e estruturação do PCC; propor o projeto de estatutos; buscar o reconhecimento do Comintern; indicar os comitês central e regionais da agremiação; e debater as questões tática, agrária, camponesa e eleitoral, além de temas como trabalho dentro de organizações de massa, movimento feminino e imprensa. Em meio aos eleitos para o presidium, personagens emblemáticos, como o dirigente sindical Carlos Baliño, o líder estudantil Julio Antonio Mella e o novo secretário-geral, José Miguel Pérez. 

É verdade que na reunião encontrava-se um grupo de imigrantes judeus da Europa Oriental, entre os quais, o polonês Fabio Grobart (Abraham Simjovich ou Yunger Simjovich, secretário da UJC de Bialostok), assim como um representante do Partido Comunista Mexicano (que chegara três meses da constituição da agremiação, com o objetivo de auxiliar em seu processo de estruturação), para supostamente supervisionar o encontro.1 E que no final de 1919, Mikhail Borodin (membro do Comitê Executivo da IC) e Charles Francis Phillips (também conhecido como Charles Shipman, Manuel Gómez, Jesús Ramírez e Frank Seaman, um slacker norte-americano que ajudara a construir o PCM) estiveram em Havana, onde conversaram com duas lideranças anarco-sindicalistas, Marcelo Salinas e Antonio Penichet, com a intenção de criar uma seção comunista na ilha (em maio de 1920 seria lançada a revista Nueva Aurora, com um manifesto anunciando o surgimento de uma seção cubana que, teoricamente, acabara de se afiliar ao Comintern; seus representantes, contudo, não seriam convidados a participar do II Congresso em Moscou por não constituírem um “partido” e pelo próprio caráter político-ideológico do grupo).2 Por outro lado, é fundamental recordar a atuação de organizações políticas endógenas a partir dos primeiros anos do século XX, como o Clube de Propaganda Socialista, o Partido Obrero, o Partido Obrero Socialista, o Partido Socialista de Cuba, a Agrupación Socialista e a Agrupación Comunista da capital, assim como o papel importante de Julio Antonio Mella na Federação de Estudantes Universitários (FEU), no grupo marxista Renovación, na Universidade Popular José Martí e na Liga Anti-imperialista das Américas. Essas experiências, combinadas com a inspiração da revolução russa, contribuiriam para o desenvolvimento do PCC e das lutas operárias no país. 

A revolução de fevereiro de 1917 foi fartamente divulgada pela imprensa da América Latina. Muito do que se escrevia na região, entretanto, se baseava nos informes das agências de notícias internacionais, como a Havas e a United Press. Ou seja, informações muitas vezes incompletas, filtradas e carregadas de preconceitos contra os bolcheviques. Enquanto Kerensky e o governo provisório eram, em geral, vistos como progressistas e legítimos representantes das aspirações populares, Lênin, por seu lado, seria retratado como um “extremista socialista”, “espião a soldo do kaiser” e “agente da Alemanha”. Após os eventos de Outubro, as incertezas continuariam.3

Em Cuba não seria diferente. Os jornais do país, como o Diario de la Marina, La Discusión e La Lucha narrariam os eventos de forma dramática. Com manchetes como “Anarquía en Rusia: preocupación mundial”4 e “La situación de Rusia es lamentable pero no crítica pues el resto del país no secunda la rebelión”,5 os periódicos locais defenderiam Kerensky, a quem chamavam de “homem de ferro”. Já os bolcheviques seriam descritos naquela situação (a partir de citações de fontes diplomáticas russas no exterior) como “malvados maximalistas”, “anarquistas” e “perturbadores de Petrogrado”, que só pretendiam levar o “país à ruína”. Aquela revolução, segundo os mesmos informantes, não teria encontrado apoio em nenhuma outra cidade ou distrito, já que se tratava de um fenômeno exclusivamente local, que logo seria aplastado6 (uma matéria do dia 9 de novembro chegaria a afirmar, peremptoriamente, que o interior da nação teria recebido com profundo desgosto a atuação dos novos dirigentes no poder).7

A reação dos intelectuais e líderes operários, contudo, seria bastante distinta. É só recordar que Carlos Baliño acompanhava os acontecimentos na Rússia desde a revolução de 1905, escrevendo intermitentemente sobre o que se passava lá.8 Em seu “La revolución rusa”, publicado em La Voz Obrera, em 19 de agosto de 1906, por exemplo, demonstrava inequívoco apoio ao Partido Operário Social Democrata Russo, conclamando auxílio à agremiação “irmã”, através da solidariedade internacional e da propaganda socialista na imprensa e na tribuna.9 Em abril de 1917, viria à luz “En marcha hacia la vida y la libertad”, no qual o autor colocaria todas as esperanças nos desdobramentos da revolução de fevereiro, enfatizando a libertação de milhares de “presos políticos”, “judeus revolucionários”, “desterrados administrativos”, “terroristas condenados”, “suspeitos” de fazer propaganda subversiva, “conspiradores” e exilados de todo tipo na Sibéria. 

Cansados, feridos, mutilados… Homens que haviam tentado fugir e eram recapturados… Prisioneiros torturados pelas autoridades em colônias penais… Todos agora livres, anistiados pelo governo provisório… Descritas de forma vívida e emocionada, cenas das multidões se trasladando pelas estradas e ferrovias, provenientes dos recantos mais distantes do Império, após serem soltas, além da própria experiência daqueles indivíduos nas prisões. Tudo contado de maneira detalhada e realista pelo conhecido sindicalista cubano.   

“E a semente jogada no sulco germinou e deu como fruto a maior transformação política e social que ocorreu no mundo depois da Revolução Francesa”, diria Baliño. Então completava: “Bem merecem toda ventura e toda glória os apóstolos e os lutadores da Revolução que voltam da horrível Sibéria, não para descansar seguramente, mas para continuar sua obra emancipadora”.10

No ano seguinte, ele escreveria artigos e poemas em tributo à revolução de Outubro, reclamando o apoio dos cubanos ao novo grupo dirigente no poder.11 Não custa lembrar que em 1922, depois de dizer que aquela era “a data mais luminosa da história”,12 comentaria que, apesar de “cinco anos de luta ingente contra um mundo de inimigos, contra as nações capitalistas do mundo inteiro que veem a revolução proletária da Rússia como o inimigo comum”, lá se demonstrava, ao mesmo tempo, como trabalhar e combater, já que nas milhares de escolas fundadas após 1917 se ensinava uma “cultura nova”, que correspondia à grande experiência que ali estava sendo construída.13

O fato é que as repercussões da revolução de Outubro seriam percebidas rapidamente no movimento operário da ilha. No dia 23 de março de 1918, uma bandeira vermelha seria hasteada no “Centro Obrero” de Havana e em 1º de maio, ocorreriam paralisações na indústria, nos transportes e no comércio, tanto naquela cidade como no interior.14 Uma onda de greves no setor de calçados e tabaco na capital, assim como dos mineiros de Matahambre, pôde ser verificada ao longo daquele ano.15

No dia do trabalho, em 1919, novamente o estandarte rubro seria içado, desta vez em Santiago, enquanto no luxuoso teatro Payret, em Havana (inaugurado em 1877 e localizado no Paseo de Martí), operários locais fizeram um protesto veemente contra o envio de tropas estrangeiras em Vladivostock. Vale lembrar que aquela era a maior casa de espetáculos do país em capacidade de audiência e quase não comportou o público no local. Presentes no encontro para encaminhar a sessão, os dirigentes dos tipógrafos, Francisco Villamizar e Alfredo López, além do barbeiro Federico Sánchez.  Luís Fabregat (representante dos trabalhadores da província do Oriente), leria a moção do Sindicato do Ramo da Construção: “Pede-se aos governos europeus que se cesse a perseguição aos camaradas bolcheviques na Rússia, cuja causa todos os trabalhadores de Cuba fazem a sua”.16 A lista de oradores seria extensa: Agustín Hernández (pelo sindicato dos marceneiros); Alejandro Barreiro, José Bravo e Modesto Resgart (os três, de diferentes áreas da indústria tabaqueira); Florentino Suárez (do setor da construção civil); Roberto León Expósito (Federação de Empregados na Indústria, Comércio e Bancos); Federico Sánchez (barbeiros); Basílio Bello (elaborador de gesso); e Alberto Delgado (pelos motoristas e condutores da Habana Electric), só para citar os mais conhecidos. Ao longo da tarde, foram recorrentes as saudações à Rússia soviética e a lembrança dos feitos dos bolcheviques, usando o exemplo da revolução de Outubro como inspiração para as lutas dos cubanos naquele momento.17 Em outro teatro da capital, o Alhambra (entre as ruas Consulado e Virtudes), uma peça que tinha como intuito ridicularizar a revolução socialista encabeçada por Lênin e seus camaradas foi interrompida por protestos do público e gritos de “viva” aos bolcheviques. Já no final daquele mês, um grupo de trabalhadores seria detido e mandado para a prisão por, supostamente, estar conspirando para tentar constituir uma “república soviética” na ilha.18 Além disso, no ano seguinte, durante o “Primer Congreso Nacional Obrero”, os delegados reunidos ali enviariam “uma fraternal saudação aos irmãos que na Rússia estabeleceram a República Socialista do Soviete, fundando com sacrifícios infinitos e energias sobre-humanas, num país que ocupa a sexta parte de superfície do planeta, o governo dos trabalhadores e para os trabalhadores”.19

No dia 1º de maio de 1920, como já mencionado anteriormente, a “suposta” seção do Comintern fundada por anarquistas (estabelecida após as sugestões de Borodin e Phillips, no ano anterior), iria emitir um manifesto, no qual nitidamente demonstrava pouco conhecimento da dinâmica política na Rússia soviética e os embates internos naquele país. Nele diria: 

Reunidos em Moscou, os representantes mais caracterizados das classes produtoras (operários, camponeses, intelectuais, homens de ciência) constituíram a III Internacional dos trabalhadores. Em seu nome, falamos os que constituímos, no presente, a Seção Comunista de Cuba.  […] A III Internacional proclama a necessidade de abolir por completo o sistema burguês, com o proletariado apoderando-se do Estado, por meio da ação direta, estabelecendo um comunismo econômico de forma tal que garanta a independência e a liberdade a todos os povos da terra e concentrando transitoriamente o poder nos sovietes ou Conselhos proletários […] Defenderão as conquistas da Revolução contra toda contingência reacionária (criando um Exército Vermelho) e darão às relações entre os diferentes países tal diafaneidade que os conflitos de ordem internacional deixem de existir e que a cada dia os diferentes povos se aproximem mais e mais, chegando a constituir os Estados Unidos Livres do Mundo.  […] Então não haverá razão alguma para existir a ‘ditadura’, que desaparecerá naturalmente, deixando o campo livre ao esforço voluntário.20    

As próprias organizações políticas de esquerda iriam se radicalizar. Em 14 de outubro de 1921, a Agrupación Socialista de Havana, presidida por Carlos Baliño, lançaria um manifesto em apoio à “heroica república” proletária soviética, no qual conclamava os trabalhadores cubanos a ajudar como pudessem os camaradas soviéticos: “Os trabalhadores de Cuba partirão seu pão com os camaradas russos, realizarão esse belo ato por dever e por consciência, porque a Rússia é um povo digno de que se façam por ele os maiores sacrifícios… Ajudai a Rússia, é um dever que o trabalhador não pode eludir”.21

Mais importante ainda, em termos políticos, foi a declaração de princípios da mesma organização, divulgada em 11 de agosto de 1922. Sua assembleia geral extraordinária, no dia 16 do mês anterior, autorizou o Comitê a publicar suas deliberações, que indicavam que a Agrupación se identificava com os princípios da revolução russa; que observaria a tática do Comintern; e que condenava a II Internacional, por trair os princípios socialistas no começo da guerra e colaborar com a burguesia.22

Após fazer enormes elogios à “pátria do socialismo”, reforçava que seguiria os encaminhamentos da IC através de suas 21 condições, aprovadas no Segundo Congresso celebrado em Moscou, evitando, assim, que elementos espúrios se introduzissem “nas fileiras comunistas para desviar a orientação consciente e honrada do movimento socialista internacional”.23 A Agrupación Socialista, portanto, se comprometia a desenvolver uma intensa propaganda entre os trabalhadores urbanos e rurais, com o objetivo de constituir uma frente única proletária; imprimir nas organizações operárias o espírito de luta de classes; provocar a ação de massas; combater a colaboração de classes; convencer as organizações a aderir à Internacional Sindical Vermelha; e criar interesse entre os trabalhadores para que estes prestassem sua cooperação e se oferecessem a intervir, decididamente, na atividade revolucionária, dando ao movimento “societário” do país “uma firme orientação comunista”.24 Em 18 de março de 1923, nos salões do “Centro Obrero” de Zulueta n. 37, os membros daquela organização que haviam decidido romper com a II Internacional e aderir ao Comintern fundaram a Agrupación Comunista, que viria a ser o embrião do primeiro PC do país.25       

O historiador e latino-americanista australiano Barry Carr chegou a dizer que o partido foi estabelecido relativamente tarde.26 Na verdade, ele surgiu na onda de estruturação de diversas agremiações ligadas à IC e antes de vários grupos análogos em outros países da região. Afinal, o Partido Socialista do Peru, fundado por José Carlos Mariátegui, foi criado em 1928 (em 1930, ganharia o nome de “comunista”). Na Colômbia, o PSR surgiria em 1926, tornando-se PC em 1930, enquanto os homólogos do Equador (PSE em 1926) e da Venezuela, se estabeleceriam oficialmente como partidos comunistas em 1931. 

O PCC, ainda que pequeno, era composto por militantes bastante capacitados e politicamente preparados, como estudantes, artesãos, operários e intelectuais. Além disso, a organização possuía setores constituídos por militantes estrangeiros: imigrantes da Europa Oriental (poloneses, romenos e russos), espanhóis (em especial, ligados à indústria açucareira, ferrovias e transporte público urbano) e chineses (que mantinham vínculos com a Alianza Protectora de los Obreros y Campesinos).27

Apesar de tudo, como aponta Carr, o Comitê Central se reunia de forma irregular e, paradoxalmente, não produzia material interno nem literatura política, que era preparada por estudantes ou por um camarada judeu em iídiche, precisando ser, depois, traduzida para o castelhano.28 O aspecto financeiro também deve ser levado em conta. No começo de 1933, por exemplo, apenas um funcionário do partido recebia salário por suas funções, enquanto seus membros, de maneira geral, estavam desempregados e, portanto, não podiam pagar as “cotas” correspondentes ou mensalidades para os caixas da agremiação. Os fundos provenientes da URSS, por sua vez, eram parcos e muitas vezes, sequer enviados. Agentes infiltrados e prisões também eram frequentes naqueles primeiros anos.29 Além disso, os comunistas cubanos, de acordo com o mesmo estudioso, só tiveram um órgão regular de imprensa a partir de 1931, quando o periódico El Trabajador começou a ser publicado (o Lucha de Clases, o “primeiro periódico marxista-leninista cubano”, da Agrupación Comunista de Havana, por sua vez, já havia se tornado, antes disso, órgão do partido). 

No começo da década de 1930, o PCC, ainda assim, cresceria em número de filiados e seria bastante atuante no movimento operário e nas lutas políticas do país.30 Obras como O Estado e a revolução, de Lênin, e O ABC do comunismo, de Nikolai Bukhárin, seriam lidas e discutidas pelos militantes do partido naquele período.31  

O nome mais emblemático da geração dos anos 1920 foi, muito provavelmente, o já citado Julio Antonio Mella, que notoriamente sofreu grande influência da revolução de Outubro. Mella foi quem melhor uniu o ideário martiano e o “bolivarianismo” com o marxismo, o anti-imperialismo e o “internacionalismo” de Lênin.32 Como diria Christine Hatzky, Mella era “não só um nacionalista latino-americano, mas também um comunista não ortodoxo”.33

A experiência soviética, sem dúvida, marcou o pensamento e atuação do jovem dirigente. No Primeiro Congresso Nacional de Estudantes (convocado e encabeçado por ele), ocorrido em outubro de 1923, houve uma conclamação ao governo para que reconhecesse formalmente o regime socialista, expressando ao mesmo tempo uma condenação ao isolamento imposto pelas nações capitalistas à “nova Rússia”.34 Já na revista Alma Mater, órgão oficial da FEU, Mella insistiria que a nova geração deveria seguir os passos de Martí e Maceo para completar a independência de Cuba e depois, inspirados em Bolívar, lutar pela unidade da América Latina. Na legenda de uma caricatura do próprio Mella, na mesma publicação, havia a indicação jocosa e provocadora de que ele era  o “embaixador de Lênin”.35 Em outra revista, Juventud (fundada por ele), o rapaz mostrava seu amadurecimento político, apoiando-se, gradualmente, nos princípios ideológicos do marxismo e do leninismo.36 Quando o líder soviético faleceu, em janeiro de 1924, Mella escreveria o artigo “Lenin Coronado”, publicado em Juventud, no mês seguinte.37 O mesmo faria Baliño, com “Lenin”, lançado nas páginas de Lucha de Clases na edição de 30 de maio daquele ano.38 Após elogiar a vida e atuação do autor de Imperialismo, fase superior do capitalismo, ele diria: “E fica de pé a Internacional Comunista organizada por Lênin, mais sábia, mais previsora,mais poderosa que nunca, composta por mais de cinquenta partidos comunistas em outros tantos países, imenso organismo de uma coesão maravilhosa, apesar de sua diversidade de nacionalidades, de raça e de idiomas, em cujo seio lutadores de colossal inteligência sustentam ardentes discussões sem que jamais se rompa a necessária unidade de ação”.39

Um tributo político, porém, marcaria o país em janeiro de 1924. Em Regla, o prefeito Antonio Bosch y Martínez,40 após afirmar que Lênin era um “grande cidadão do mundo” (e que merecia o reconhecimento de todos os habitantes do globo), decidiu declarar que sábado, dia 26 daquele mês, seria dedicado ao dirigente bolchevique. A data seria mudada para o domingo, quando os moradores locais eram instados a paralisar toda atividade social (os veículos deveriam parar; os estabelecimentos não efetuariam qualquer operação comercial; os indíviduos, solicitados a ficar em silêncio) por dois minutos, a partir das cinco horas da tarde, quando seria plantada uma oliveira na “Loma del Fortín” (depois chamada de “colina Lênin”).41

O ato acabou ocorrendo às quatro e meia da tarde, num dia de chuva torrencial. A comitiva encabeçada por Bosch, com representantes de grêmios e federações da capital, incluindo os municípios de Guanabacoa e de Regla (delegados da “Unión de fogoneros”, marinheiros, estivadores e tabaqueiros), se deslocou primeiro ao Palácio Municipal e depois, em procissão de mais de mil pessoas (ou “quinhentos” trabalhadores, segundo outras fontes)42 até “El Fortín”. Levada pelo alcaide, uma muda de oliveira, que foi plantada por ele, com a colaboração de muitos dos assistentes. 

Fizeram uso da palavra diversos líderes de associações de trabalhadores (sindicalistas como Gervaiso Sierra, Carmelo García, Bonifacio Ruiz, Manuel Landrove e Manuel Quintana), além de Fernández Ros (diretor do jornal La Noche), David Rachlin (engenheiro russo), Roberto León (em nome das “juventudes socialistas” espanholas), Santiago Castillo (Federação dos torcedores de tabaco de Havana e Pinar del Río) e José Miguel Pérez (pelos comunistas), entre outras personalidades. O último discurso do evento foi proferido pelo chamado “alcalde modelo”.43

A atitude seria muito elogiada pela população e pelos jornais, como atestam as diversas cartas recebidas pelo político e as matérias favoráveis na imprensa, ainda que um artigo do Diário de la Marina tenha dito, de forma irônica: “Sabe-se que os bolcheviques de Regla também têm preparado ao primeiro prefeito de seu credo uma sentida homenagem póstuma. Consistirá em mudar o atual nome do local… pelo mais ribombante de Boschgrado”.44

Um poema para Lênin, dedicado ao “doutor” Antonio Bosch, “joven y progresista Alcalde Municipal del Término de Regla”, seria escrito por Francisco Simón naquela época. Como o bardo não conseguira ler seus versos durante o ato em “El Fortín” nem no Palácio Ayuntamiento, pediu aos editores de El Sol de Regla que publicassem sua homenagem em suas “colunas ilustradas”. O poema dizia:      

Fue más grande que Bhuda, que con muda,
Noción del sacrificio y la clemencia,
Predicó una doctrina de indolencia,
Útil para el tirano de alma ruda,
Más que Cristo también, que como Bhuda,
Haciendo una virtud de la indigencia,
En cobarde respuesta la violencia,
Dio su carne misérrima y desnuda. 

El respondiendo a la opresión ingente,
Mácula vil del siglo omniasapiente,
Armó la rebelión contra los yugos. 

Y vio entre justas iras ancestrales,
Bajo un deslumbramiento de puñales,
Rodar la pudrición de sus verdugos.45

Cartas e telegramas elogiando Bosch seriam enviados por representantes da Unión Obrera de Gibara, da Central “Hershey” de Havana, da loja maçônica “Pi y Margall”, da Sociedade dos Torcedores de Tabaco de Guanabacoa e do Grêmio de Carpinteiros de Regla, entre outros.46 A importância de Lênin certamente podia ser notada em Cuba naquele momento. 

Outras homenagens ao líder soviético ocorreriam no país. No dia 4 de fevereiro, a Agrupación Comunista de Havana renderia tributo a Lênin no “Centro Obrero”, que teria seu salão lotado por estudantes e trabalhadores. Naquela ocasião, Alfonso Bernal, José Miguel Pérez e Mella fariam discursos ao público presente47 (em 9 de novembro daquele ano, a mesma agremiação realizaria mais um evento, desta vez pelo aniversário da revolução russa).48 

Em termos simbólicos, contudo, o episódio da chegada do cargueiro soviético Vatslav Vorovski a Cuba, em agosto de 1925, seria ainda mais marcante. O navio (o primeiro da URSS a visitar a ilha), deveria carregar cinquenta mil sacos de açúcar, mas foi proibido pelo governo de Gerardo Machado de ancorar no porto da capital. As festividades para receber sua tripulação também não seriam autorizadas, o que gerou grande descontentamento entre os comunistas locais (a embarcação recebeu ordens para se deslocar ao porto de Cárdenas). 

A Agrupación havia realizado reuniões com dirigentes operários, no mês anterior, para tentar estabelecer contatos entre diferentes sindicatos e programar atos de boas-vindas aos russos (em um dos encontros, na “Sociedad de Torcedores de La Habana”, Alejandro Barreiro anunciara aos presentes que um grande evento em tributo aos estrangeiros estava marcado para ocorrer no Teatro Nacional). No manifesto à população, publicado no periódico El Heraldo, os comunistas anunciavam sua proposta e convocavam os interessados: 



Dentro de poucos dias chegará a este porto um navio representando o único governo de operários e camponeses: o regime Soviético da Rússia. Esta Agrupación, divulgadora destes ideais entre o povo de Cuba, acredita ser importante para o futuro da classe trabalhadora em nosso país receber os embaixadores proletários, exteriorizando todo o afeto que o trabalhador de Cuba tem pelos instauradores do novo regime na Rússia. 

A Agrupación Comunista de Havana e várias organizações operárias concordaram celebrar em um dos principais teatros da cidade uma função e outros atos em honra dos ilustres visitantes, da hora que a embarcação chegar a nosso porto até sua partida ao país de origem.  […]      

Trabalhadores, unámo-nos nestes momentos para demonstrar que somos uma só classe em todo o Universo, que já está no poder na Rússia.49

O presidente da “Comisión de Festejos” seria Julio Antonio Mella, o secretário José M. Gallego e o tesoureiro, Mateo González. No programa, também incluída, uma visita à “colina Lênin”, em Regla. 

Mas nem todos estavam satisfeitos. A imprensa atacaria as mobilizações e a chegada do Vatslav Vorovski. Até mesmo a Federação Anarquista, crítica à URSS, defenderia a proibição. Machado, se aproveitando dos ataques dos setores de oposição, impediu que o navio atracasse na capital e que seus homens pudessem desembarcar (depois se tornou público que as autoridades cubanas haviam recebido uma recomendação do Departamento de Estado norte-americano para que fossem tomadas “medidas indispensáveis” no sentido de impedir a “propaganda bolchevique”, que supostamente os oficiais e tripulantes vinham realizando por ordens de Moscou). 

Indignada com a decisão arbitrária do presidente, a organização comunista decidiu enviar secretamente uma pequena delegação até o barco, com o objetivo de recepcionar os marinheiros da “pátria do socialismo”. O grupo, que incluía Mella e Ángel Ramón Ruiz, alugou um bote a motor (a lancha “Don”), navegou pela baía de Cárdenas, se aproximou do navio, recebeu autorização para subir e ficou por algumas horas a bordo. Durante todo esse tempo, os ativistas conversaram com a tripulação, que entregou a Mella uma bandeira vermelha com a foice e o martelo, em forma de agradecimento. Após passar a tarde confraternizando com os membros da marinha mercante soviética, os militantes voltaram para Cárdenas, e de lá, de trem para a capital.50 Logo depois, o jovem líder estudantil escreveria o conhecido artigo “Una tarde bajo la bandera roja”, publicado em Lucha de Clases, no qual narraria em detalhes aquele episódio.51

A União Soviética continuaria a ser tema de alguns textos de Mella, como “La provocación imperialista a los sovietes”,52 “Cuadros de la Unión Soviética”,53 “El triunfo de la diplomacia roja”54 e “Octubre”.55 Neles, o jovem comunista discutiria assuntos tão diversos como relações internacionais, questão industrial na URSS, proteção a mulheres e crianças, moradia, cooperativas, arte e cinema. 

Não custa lembrar que Mella esteve na União Soviética em 1927, logo depois de participar do Congresso Mundial contra o Imperialismo e a Opressão Colonial, em Bruxelas, e só teceu elogios para a “pátria do socialismo”. Em Moscou, ficou hospedado no hotel Bristol (junto com o dirigente sindical Ismael Martínez); participou de reuniões da Internacional Camponesa; visitou fábricas; esteve na Ucrânia; aparentemente conversou com membros da Oposição de Esquerda e da ISV; e preparou relatórios para o Comintern sobre a situação política e social do México e de seu país de origem.56 Quando partiu da URSS, produziria artigos laudatórios sobre aquela nação, talvez para contrapor a imagem crítica da terra de Lênin que era divulgada pela grande imprensa ocidental. Ou seja, faria uma defesa intransigente do sistema soviético para seus leitores nos periódicos do movimento operário. 

A revolução de Outubro, portanto, teria diversas repercussões em Cuba ao longo da década de 1920, tanto em termos ideológicos como políticos. E essa influência seria sentida com bastante intensidade em matérias de jornalistas e dirigentes, em manifestações públicas e na organização partidária e sindical dos trabalhadores da ilha por vários anos. 

Notas
1 Ver Christine Hatzky. Julio Antonio Mella: una biografía. Santiago de Cuba: Editorial Oriente, 2008, p. 155. Para a convocatória e as atas de fundação do Partido Comunista de Cuba, ver Instituto de Historia del Movimiento Comunista y la Revolución Socialista de Cuba. El Movimiento Obrero Cubano: documentos y artículos, Tomo I. Havana: Editorial Pueblo y Educación, 1977, p. 443-457. O judeu polonês Fabio Grobart chegou a Cuba em 1924, quando tinha apenas 19 anos de idade. Alguns autores acreditam que ele possa ter sido enviado diretamente por Moscou como agente soviético para construir uma organização comunista na ilha. Ver, por exemplo, Pierre Broué. Histoire de L’Internationale Communiste 1919-1943. Paris: Fayard, 1997, p. 502. Os militantes judeus europeus, por sua vez, ingressaram na Agrupación Comunista de Havana em 1925, e logo em seguida, no mesmo ano, participaram da fundação do primeiro partido comunista do país. Entre os participantes, Yoshka Grinberg e Yunger Simjovich, da “Sección Hebrea”, assim como Félix Gurbich, da “Juventud Comunista Hebrea”. Para mais informações sobre Carlos Baliño, ver Luiz Bernardo Pericás, “Carlos Baliño, pioneiro do marxismo na América Latina”, in Revista Eletrônica da ANPHLAC, No. 20, janeiro/junho de 2016, https://www.revistas.fflch.usp.br/anphlac/article/view/2494/2246; Mariana Serra. Carlos Baliño. Havana: Editorial Gente Nueva, 1985; e Carmen Gómez García. Carlos Baliño, primer pensador marxista cubano. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1985. 
2 Christine Hatzky, Julio Antonio Mella: una biografía, p. 155-156; e Victor Jeifets e Lazar Jefeits, “El encuentro de la izquierda cubana con la Revolución Rusa: el Partido Comunista y la Comintern”, in https://www.sinpermiso.info/textos/el-encuentro-de-la-izquierda-cubana-con-la-revolucion-rusa-el-partido-comunista-y-la-comintern. Os anarquistas, em pouco tempo, teriam uma posição bastante crítica em relação aos bolcheviques. No periódico La Protesta, de 14 de dezembro de 1919, Antonio Penichet, contudo, ainda sem conhecer bem os desdobramentos e detalhes da revolução de Outubro, diria: “El Bolshevikismo según aseguran algunos compañeros es el socialismo; yo creo que bolshevikismo es único, es sólo bolshevikismo; producto de los afanes de socialistas, anarquistas y cuantos desean de buena fe el derrumbe del sistema actual… el bolshevikismo no es ni socialista ni anarquismo, pero acerca a unos y otros, recogiendo de todos la energía necesaria para seguir adelante.  […] Los anarquistas lo apoyan porque ven en él el comienzo de un cambio radical en toda la estructura social… del boshevikismo será más fácil llegar al anarquismo que desde el sistema actual… el pueblo lo que desea es que se le explique cómo funciona el soviet de Rusia, importándosele muy poco el cascarón de donde salió”. Ver Antonio Penichet, “Opiniones sobre el bolshevikismo”, in La Protesta, Havana, 14 de dezembro de 1919. Para mais informações sobre Mikhail Borodin e Charles Francis Phillips, ver Daniela Spenser. Stumbling Its Way Through Mexico: The Early Years of the Communist International. Tuscaloosa: The University of Alabama Press, 2011. 
3 Ver Boris Koval. La gran revolución de Octubre y América Latina. Moscou: Editorial Progreso, 1978, p. 44-56; Luiz Alberto Moniz Bandeira, Clovis Melo e A. T. Andrade. O ano vermelho: a revolução russa e seus reflexos no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1967; e Luiz Bernardo Pericás, “José Carlos Mariátegui e a Rússia”. In: Luiz Bernardo Pericás (org.). José Carlos Mariátegui: revolução russa, história, política e literatura. São Paulo: Editora Expressão Popular, 2012, p. 15-24. 
4 Ver “Anarquía en Rusia: preocupación mundial”, La Discusión, 9 de novembro de 1917, reproduzido in Instituto del Libro. La revolución de Octubre y su repercusion en Cuba. Havana: Instituto del Libro, 1967, p. 29-32. 
5 Ver “La situación de Rusia es lamentable pero no crítica pues el resto del país no secunda la rebelión”, La Lucha, Havana, 9 de novembro de 1917, reproduzido in Ibid, p. 32-33. 
6 Ver “Malvada actuación”, La Lucha, Havana, 9 de novembro de 1917, reproduzido in Ibid, p. 33. 
7 Ver “No ha gustado”, La Lucha, Havana, 9 de novembro de 1917, reproduzido in Ibid, p. 37. 
8 Ver, por exemplo, Carlos Baliño, “Las huelgas en Rusia”, La Voz Obrera, Havana, 17 de fevereiro de 1905, e reproduzido in Instituto de Historia del Movimiento Comunista y la Revolución Socialista de Cuba. El Movimiento Obrero Cubano: documentos y artículos, Tomo I. Havana: Editorial Pueblo y Educación, 1977, p. 259-261. 
9 Ver Carlos Baliño, “La revolución rusa”, in Instituto de Historia del Movimiento Comunista y de la Revolución Socialista de Cuba (org.). Carlos Baliño, documentos y articulos. Havana: Departamento de Orientación Revolucionaria del Comitê Central del Partido Comunista de Cuba, 1976, p. 133-135. 
10 Ver Carlos Baliño, “En marcha hacia la vida y la libertad”, in Ibid, p. 141-146. 
11 Ver Instituto de Historia del Movimiento Comunista y de la Revolución Socialista de Cuba (org.), Carlos Baliño, documentos y articulos, p. 261. 
12 Ver Carlos Baliño, “7 de noviembre”, publicado originalmente in Espartaco, Ano I, No. 2, novembro de 1922, e reproduzido in Ibid, p. 173. 
13 Ibid. 
14 Ver Instituto del Libro, La revolución de Octubre y su repercusion en Cuba, Havana, Instituto del Libro, 1967, pág. 6. 
15 Ibid.
16 Ver Roberto León Expósito, “1º de mayo de 1919 en La Habana”, in Comisión Nacional de Activistas de Historia del Departamento de Orientación Revolucionaria del Comité Central del Partido Comunista de Cuba. Los obreros hacen y escriben su historia. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1975, p. 332.    
17 Ibid, p. 332-336. 
18 Instituto del Libro. La revolución de Octubre y su repercusion en Cuba. Havana: Instituto del Libro, 1967, p. 7. 
19 Ibid. 
20 Ver Manifesto publicado no periódico Nueva Aurora, Havana, 1º de maio de 1920, e reproduzido in Olga Cabrera. El movimiento obrero cubano en 1920. Havana: Instituto del Libro, 1969, p. 49. 
21 Ver “Manifiesto de la Agrupación Socialista de La Habana”, in Instituto de Historia del Movimiento Comunista y de la Revolución Socialista de Cuba (org.), Carlos Baliño, documentos y articulos, p. 241-243.
22 Ver “Declaración de princípios de la Agrupación Socialista de La Habana”, in Ibid, p. 245. 
23 Ibid, p. 250 e 251. 
24 Ibid, p. 251-252. 
25 É só lembrar que a Agrupación Comunista tinha, em sua direção, personalidades conhecidas como Carlos Baliño, José Rego López, Alejandro Barreiro e José Miguel Pérez, todos fundadores e futuros dirigentes do Partido Comunista de Cuba.
26 Ver Barry Carr, “From Caribbean Backwater to Revolutionary Opportunity: Cuba’s Evolving Relationship with the Comintern, 1925-34”. In: Tim Rees e Andrew Thorpe (orgs.). International Communism and the Communist International 1919-43. Manchester: Manchester University Press, 1998, p. 236. 
27 Ibid, p. 236-237.
28 Ibid, p. 237. 
29 Ibid, p. 238. 
30 Ver Barry Carr, “From Caribbean Backwater to Revolutionary Opportunity: Cuba’s Evolving Relationship with the Comintern, 1925-34”. In: Tim Rees e Andrew Thorpe (orgs.). International Communism and the Communist International 1919-43, p. 240-249; e Gaspar Jorge García Galló, “Un hombre esclarecido”. In: Lucilo Batlle Reyes. Blas Roca, virtud y ejemplo: la imagen de un hombre excepcional. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 2008, p. 78-87. Para mais informações sobre o movimento operário cubano, ver Carlos del Toro. Algunos aspectos económicos, sociales y políticos del movimiento obrero cubano. Havana: Editorial Arte y Literatura, 1974; e Olga Cabrera. El movimiento obrero cubano en 1920. Havana: Instituto del Libro, 1969.    
31 Ver, por exemplo, Fabio Grobart, “Gran líder de la clase obrera cubana”, in Lucilo Batlle Reyes. Blas Roca, virtud y ejemplo: la imagen de un hombre excepcional, p. 106. 
32 Como diria Luis Vitale, “a Questão Nacional, para Martí, não se restringia a Cuba e Porto Rico, mas se estendia  a toda a América Latina. Retomando a tradição bolivariana, em um novo contexto histórico, Martí propôsa unidade dos povos latino-americanos”. Ver Luis Vitale, Cuba: de la Colonia a la Revolución, Chile, RIL Editores, 1999, pág. 63.  Já Julio Antonio Mella afirmaria que havia “a necessidade de concretizar em uma fórmula precisa o ideal de Bolívar […] esta unidade da América só pode ser realizada pelas forças revolucionárias do capitalismo internacional: operários, camponeses, indígenas, estudantes e intelectuais de vanguarda”. Ver Julio Antonio Mella, “Hacia una Internacional Americana”, publicado originalmente in Venezuela Libre, Havana, Ano IV, No. 14 ao 18, setembro-dezembro de 1925, e reproduzido in Ibid, p. 107.  

33 Christine Hatzky, Julio Antonio Mella: una biografía, pág. 277. Para mais informações sobre a tradição anti-imperialista em Cuba, ver Olga Cabrera (org.). El antiimperialismo en la historia de Cuba. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1985. 
34 Ver Instituto del Libro, La revolución de Octubre y su repercusion en Cuba, p. 8. 
35 Ver Christine Hatzky, Julio Antonio Mella: una biografía, p. 109. 
36 Ibid, p. 131. 
37 Ver Julio Antonio Mella, “Lenine Coronado”. In: Instituto de Historia del Movimiento Obrero y la Revolución Socialista de Cuba (org.). Mella: documentos y artículos. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1975, págs. 86 a 88. 
38 Ver Carlos Baliño, “Lenin”, publicado originalmente in Lucha de Clases, Havana, 30 de maio de 1924 e reproduzido in Instituto de Historia del Movimiento Comunista y de la Revolución Socialista de Cuba (org.), Carlos Baliño, documentos y articulos, p. 189-190.
39 Ibid, p. 190. 
40 Essa, a forma como o próprio político se apresentava em documentos oficiais. Também designado por outros autores como Antonio Celestino Bosch Martínez. 
41 Ver decretos de Antonio Bosch in Instituto del Libro, La revolución de Octubre y su repercusion en Cuba, p. 53-55. 
42 Ver “El alcalde de Regla, Dr. Bosch, a la cabeza de un gentío, rindió un homenaje de cariño a la memoria del creador del soviet. En la histórica loma del Fortín, fue plantado un simbólico olivo en memoria del reformador Lenine. Más tarde en el Palácio Ayuntamiento, varios oradores hicieron el elogio de Lenine y de su obra”, La Prensa, janeiro de 1924, e reproduzido in Ibid, p. 74-75. 
43 Ver “Hermoso acto realizado en Regla: en homenaje a la memoria de Lenine fue plantado un olivo en la loma ‘El Fortín’, que hará imperecedero el recuerdo del gran ciudadano del mundo”, La Noche, 27 de janeiro de 1925, e reproduzido in Ibid, p. 70-71. Ver também “Un bello gesto del Dr. Bosch. El día de Lenine. Significación y alcance del acto. A la intelectualidad cubana”, La Noche, 26 de janeiro de 1924, in Ibid, p. 62-63. 
44 Ver Diario de la Marina, 27 de janeiro de 1924, e reproduzido in Ibid, p. 63-64. 
45 Ver Francisco Simón, “Nicolás Lenine, con motivo de su muerte”, Santiago de las Vegas, 27 de janeiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 69. 
46 Ver cartas e telegramas a Antonio Bosch da Unión Obrera de Gibara, apartado No. 49, Gibara, 28 de janeiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 67; Filógenes Maillard, Central Hershey, Prov. Habana, Cuba, 28 de janeiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 68; Enrique González, Logia “Pi y Margall”, Havana, 29 de janeiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 75-76; de Antonio Bosch a Serafín Rencurrell, Sociedad “Torcedores” de Guanabacoa, Regla, 4 de fevereiro de 1924, reproduzido in Ibid, pág. 80; de Manuel Escobar e Pedro L. Rovira, Gremio de Carpinteros de Regla, Regla, 3 de fevereiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 81; e Manuel Escobar e Pedro L. Rovira, Gremio de Carpinteros de Ribera de Regla, Regla, 28 de fevereiro de 1924, reproduzido in Ibid, p. 91.   
47 Ver Pedro Luis Padrón. Julio Antonio Mella y el movimiento obrero. Havana: Editorial de Ciencias Sociales, 1980, p. 78-79. 
48 Ibid, p. 96. 
49 Ver Ibid, p. 127-128. 
50 Ver Christine Hatzky, Julio Antonio Mella: una biografía, p. 140-141; Pedro Luis Padrón, Julio Antonio Mella y el movimiento obrero, p. 126-133; e Adys Cupull e Froilán González. Julio Antonio Mella en medio del fuego: un asesinato en México. Havana: Casa Editora Abril, 2006, p. 34-36.     
51 Ver Julio Antonio Mella, “Una tarde bajo la bandera roja”, publicado originalmentein Lucha de Clases, Havana, 16 de agosto de 1925, e reproduzido in Instituto de Historia del Movimiento Obrero y la Revolución Socialista de Cuba (org.), Mella: documentos y artículos, p. 192-196.   
52 Ver Julio Antonio Mella, “La provocación imperialista a los soviets”, publicado originalmente in El Machete, No. 67, junho de 1927, e reproduzido in Ibid, p. 280-283. 
53 Ver Julio Antonio Mella, “Cuadros de la Unión Soviética”, publicado originalmente in El Machete, Nos. 67, 68, 69 e 72, México, junho e julho de 1927, e reproduzido in Ibid, p. 296-307. 
54 Ver Julio Antonio Mella, “El triunfo de la diplomacia roja”, publicado originalmente in El Machete, Nos. 92, 93 e 94, México, 10, 17 e 24 de dezembro de 1927, e reproduzido in Ibid, p. 333-342. 
55 Ver Julio Antonio Mella, “Octubre”, publicado originalmente in Tren Blindado, Ano I, No. 1, México, 1928, e reproduzido in Ibid, p. 461-462. 
56 Ver, por exemplo, Luis Vitale. Cuba: de la Colonia a la Revolución. Chile: RIL Editores, 1999, p. 104-105. 


Che Guevara foi umas das mais importantes personalidades políticas do século XX. Após lutar no Congo, combateu na Bolívia, onde já estivera em sua juventude, em meados de 1953. Em 8 de outubro de 1967, foi capturado por uma unidade dos rangers locais (treinados por instrutores militares norte-americanos) e, no dia 9, assassinado no pequeno povoado de La Higuera.

Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, do historiador Luiz Bernardo Pericás, é uma investigação profunda e detalhada sobre os aspectos da vida política, econômica e social da Bolívia nos anos 1960 e a guerrilha naquele país. Com ampla bibliografia atualizada e rigor acadêmico, o autor discute a trajetória do Che na luta guerrilheira na Bolívia, a partir de entrevistas com camponeses, políticos e intelectuais bolivianos (incluindo um militar, o general Gary Prado, na época dos acontecimentos ainda capitão e o oficial responsável pela captura do Che), livros e documentos (alguns dos quais, inéditos no Brasil).

A obra também perpassa um contexto mais amplo, como o período em que Guevara esteve no Congo, o tempo que passou na clandestinidade na Tanzânia e Tchecoslováquia, seu retorno a Cuba, seu treinamento na ilha e sua ida à Bolívia. O texto é também rico em detalhes sobre a atuação do Exército de Libertação Nacional (ELN). Conta ainda com capítulos que narram o que aconteceu com os diários do Che após sua execução e a continuidade da luta revolucionária (guerrilha de Teoponte). Nos anexos, o leitor encontrará vasta documentação relacionada ao tema.

Veja o debate de lançamento de Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, com Luiz Bernardo Pericás, Antonio Carlos Mazzeo, Fernando Garcia e mediação de Cecília Brancher, na TV Boitempo:

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Luiz Bernardo Pericás é professor de História Contemporânea na USP. Formado em História pela George Washington University, doutor em História Econômica pela USP e pós-doutor em Ciência Política pela FLACSO (México), foi Visiting Scholar na Universidade do Texas. Seu livro Caio Prado Júnior: uma biografia política (Boitempo, 2016)lhe rendeu o troféu Juca Pato de Intelectual do Ano e o Prêmio Jabuti de melhor biografia. Pela Boitempo, também publicou Os cangaceiros – ensaio de interpretação histórica (2010), o romance Cansaço, a longa estação (2012), Che Guevara e o debate econômico em Cuba (2018), Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia (2023), as coletâneas Intérpretes do Brasil: clássicos, rebeldes e renegados, organizada em conjunto com Lincoln Secco, e Independência do Brasil: a história que não terminou (2022), com Antonio Carlos Mazzeo, além da antologia Caminhos da revolução brasileira (2019). É coordenador da coleção Caio Prado Júnior.

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