“Pobres criaturas” e nosso reflexo em seu espelho

Enredados na teia da adesão dos ideários representados pela indústria cultural – que é só parte de um todo chamado sociedade do espetáculo – nossos felizes progressistas se dão por satisfeitos com os enunciados conscientes. No filme são vários, dentre os quais um feminismo adocicado e brandas referências ao socialismo – aliás, totalmente à revelia do que ocorre na obra homônima de Alasdair Gray usada para construir o roteiro. Isso basta para tornar o nicho progressista satisfeito.

Por Douglas Rodrigues Barros

Quando Victória se lança da ponte – em grave crise de depressão – vai com ela uma forma de concepção da subjetividade que tinha na economia do desejo sua centralidade. A primeira cena do filme, Poor Things (Pobres criaturas, 2023) dirigido por Yorgos Lanthimos, tem um cenário – cujas referências surrealistas são visíveis e as projeções de câmera remetem ao manifesto dogma 95 – que traduz uma mudança fundamental na economia libidinal do século XXI.

Como era de se esperar, isso escapou à crítica especializada que se manteve no ramerrão bobo. Recolhidas impressões, não se ultrapassou as platitudes comezinhas da publicidade: “ultrajante e hilário!”, brada a BBC. No mesmo compasso, na Time se grita: “estranho e lindo!”, enquanto nas redes o rebanho “progressista” exclama contra as cenas de sexo (uma esquerda conservadora, made in Brazil). Uma das primeiras críticas, na revista Cult, foi mais longe ao dizer que o “enredo […] está bem alinhado com o espírito do nosso tempo e por isso também Bella está se tornando uma heroína tão popular…”.

O fato de que não se saia da superficialidade, e se deduza do conteúdo explícito os adjetivos de um filme, só revela o que deveríamos saber: na era totalitária da imagem não há espaços para o interdito (aquilo que escapa da enunciação de um discurso). Observar o refinamento e as camadas ocultas de uma obra é coisa chata! A crítica passou a se confundir com publicidade, e, com isso, foi para o ralo a observação sobre a ironia (conceito difícil). Poor Things é uma sútil ironia a nós… pobres criaturas.

Enredados na teia da adesão dos ideários representados pela indústria cultural – que é só parte de um todo chamado sociedade do espetáculo – nossos felizes progressistas se dão por satisfeitos com os enunciados conscientes. No filme são vários, dentre os quais um feminismo adocicado e brandas referências ao socialismo – aliás, totalmente à revelia do que ocorre na obra homônima de Alasdair Gray utilizada para construir o roteiro. Isso basta para tornar o nicho progressista satisfeito.

Sem dúvida, o enredo está alinhado com o espírito do tempo, mas pelo que não é evidente… senão por aquilo que escorre dele: a metáfora da individuação no século XXI. Victória se lança da ponte grávida para renascer pelas mãos do Dr. Godwin “God” Baxter (Willem Dafoe) como Bella Baxter (Emma Stone). Ressurreição possível pela substituição de seu cérebro pelo do bebê através de uma transmutação alquímica que possibilita a reconstituição de uma subjetividade nova. Bella tem corpo de mulher, mas uma estrutura psíquica infantil. E é aqui que está chave de uma interpretação do século XXI: a morte de Victória, como sujeito da neurose, possibilitou o surgimento de Bella Baxter, como sujeito da perversão de início polimorfa, mas, aos poucos, estrutural.

Se a ideologia não só se oculta do sujeito, mas convida o sujeito a se ocultar de si mesmo pelos sistemas de representações; a liberdade pós-castração, atingida por Bella Baxter, oculta que ela está em sintonia com as novas formas de subjetivação do capitalismo tardio. É nisso que reside a metáfora: a economia do desejo de Victória é substituída pela fruição perversa do gozo em Bella. E aqui é preciso ir com calma… voltando ao filme:

Ao nascer, Bella desenvolve alguns reflexos e vai adentrando aos poucos o campo da linguagem num treinamento organizado cientificamente por seu “pai”. Importante dizer, Godwin Baxter não se coloca nesse lugar e embora busque fazer às vezes do “não” (nonnom du pére) cede a todos os impulsos de Bella (provavelmente porque foi ele próprio literalmente castrado-mutilado pelo seu pai em nome da ciência). Mas antes disso, pede ajuda a um assistente, Max McCandles (Ramy Youssef), para se certificar dos avanços de sua obra trans-humana.

Com o desenvolvimento de Bella, aos poucos suas pulsões sexuais são reveladas na fase fálica (Freud) ressaltada pelos toques genitais e pela masturbação. Será o jovem Max, envergonhado, que tentará impor alguns limites ao dizer que aquilo não é visto com bons olhos numa “sociedade polida”. E falhará nos seus desígnios graças a um terceiro personagem: Duncan Wedderburn (Mark Ruffallo), que adentra à vida de Bella suscitando experiências “aventureiras” correlacionadas ao sexo.     

Livre da castração, Bella desenvolve um supereu distante da neurose. Se para Freud não há possibilidade de consciência sem a formação do supereu, é então preciso apreender que, sem a dimensão da castração que refreia a pulsão e abre caminhos para a economia do desejo, o que habita em Bella é um supereu direcionado único e exclusivamente para o gozo. Mas Freud ia além; a subtração do gozo sobre a pulsão era fundamental para a consolidação do laço social.

Em Bella esses laços são possíveis? De jeito nenhum. Bella busca o gozo, numa ação pseudolibertária (inconsciente), e suas relações são mediadas pelas “aventuras e cavalgadas” em seu amante que serve como objeto masturbatório. Sem a castração, a relação do desejo em Bella se reduz à demanda por novas experiências que promovam satisfação. Nela o caminho do desejo está barrado pela ânsia do gozo e pela experimentação dessublimada e constante.

O riso tem um papel central na composição fílmica. O inconsciente de Bella atua e se extravasa para deleite do espectador. A ironia se mostra patente: a liberdade de dizer e fazer o que se quer não destitui o caráter opressivo do mundo demonstrado constantemente no filme… No meio de suas experiências, em cenários oníricos e punks, há até um deslumbre da falta sentida por Bella – mas não vivida por ela graças sua estrutura perversa. 

Numa cena, em que uma senhora canta um fado português, a carga emotiva de um sofrimento causado pela perda do amor descentra a heroína por instantes. Bella se perde e se encontra com um casal na esquina brigando raivosamente. A câmera, ao se concentrar no rosto da heroína, desnuda sua confusão mental ante uma realidade que mais que estranha lhe é totalmente alheia. Os arroubos sentimentais não parecem se casar com uma personagem que não tem limites para o gozo. O amor se revela inacessível.

Desde já peço desculpas ao hipotético-leitor acostumado com a nomenclatura publicitária. Mas, para entender o alcance dessa subjetividade de Bella é preciso reencontrar a história do conceito de perversão. Freud foi o primeiro a recusar as definições não igualitárias da noção de perversão instituída pela classificação psiquiátrica.

Desde os Três ensaios sobre a teoria da sexualidade, ele colocou a perversão em relação dialética com a neurose. A neurose já era um negativo em relação à perversão. Sendo bem sintético – o que não evita armadilhas – a sexualidade perversa não conhece o processo de castração e nem a sublimação organizada pela economia do desejo. Através da observação conduzida na prática clínica, Freud conclui que a formação da sexualidade é traumática em si mesma.

Ao estudar as chamadas “perversões sexuais” que na época incluíam a homossexualidade, diz de maneira escandalosa à época: “posso assegurar que a tendência inconsciente à inversão (homossexualidade) jamais está ausente” no neurótico.1 Freud rapidamente se deu conta de que a sexualidade humana é em si mesma um desvio organizado por uma perversão polimórfica comum a todos.

É por chegar à conclusão de que os mecanismos “desviantes”, envolvidos nas práticas tidas como “aberrações sexuais” pelo discurso médico, faziam parte do que era considerado comportamento sexual “normal” que não podemos compreender o alcance da noção de perversão sem recorrer às fases do desenvolvimento teórico de Freud. De 1905 a 1915, ele aperta mais o parafuso e organiza algumas modificações à noção de perversão pensando uma organização do eu baseada na clivagem.

Por isso, já em 1927, “ao lado da psicose, definida como reconstrução de uma realidade alucinatória, e da neurose, resultante de um conflito interno seguido do recalque, a perversão aparece como uma renegação ou desmentido da castração, com uma fixação na sexualidade infantil”2 que busca atrelar o gozo à lei. Freud estabelece uma estrutura tripartite dos sintomas: neurose, psicose e perversão. E o que isso tem a ver com Bella Baxter?

(Já previno os leitores mais corajosos que se quiserem se aprofundar numa resposta mais alargada se dirijam à porta do Escritos, de Jacques Locão!) Agora, posso começar a responder, afinal, do que trata a ironia de Pobres Criaturas? Em primeiro lugar, o fato mais que comprovado de que a aposta dos neuróticos na perversão – que acreditava na liberalização da sexualidade – deu com os burros n’água – a opressão se reconstituiu com um supereu perverso que demanda diuturnamente o gozo atrelado à mercadoria! Em segundo lugar, a liberalização sexual (autorregulação do corpo) casou-se com a desregulamentação promovida pelo mercado, e isso fica patente mesmo aos olhos míopes da esquerda progressista. Mas vou com calma…

Como sugere Lacan, a vontade de gozo que impulsiona a ação do perverso oculta seu desejo pela lei. O perverso, sem mediação e sublimação do desejo, reduzido à demanda por gozo, quer incorporar a lei e colocar o gozo no seu lugar.3 Embora pareça que extraia da sua ação as satisfações necessárias ao gozo, o fato é que, para o perverso, o gozo é interminável, repondo uma angústia dilacerante de insatisfação. Para o perverso há o mesmo que para Bella: uma busca sem fim de novas aventuras e cavalgadas!

Se a neurótica – Victória – desejava em relação à lei; a perversa – Bella – busca materializá-la diretamente pelo gozo. Não há para ela proibições, só fruições imanentes da multitude de afetos disponíveis em sua “grande aventura” de turismo sexual e prostituição. A lei não é nada além do que meio de gozo. O problema então é que a lei é reposta por outra porta: como Sade, Bella não consegue manifestar qualquer limite à experimentação sexual tornando sua vida um gozo interminável só interrompido pela notícia que seu “God” estava para morrer, ou seja, a suspensão da lei corporificada que impediria seu acesso direto à mesma.

Mas, antes disso, uma breve digressão: enquanto o rebanho progressista se atenta às cenas de sexo despudorado nas redes sociais, com um recalque de fazer inveja às senhoras da Marcha da Família com Deus de 1964, uma das cenas mais irônicas, e que expõe um espelho diante de nossos olhos, é a descida de Bella em Alexandria no Egito (não por acaso, um país de terceiro mundo, colônia de 1882 a 1952, situada no continente africano) e sua súbita consciência da pobreza ensinada pelas mãos de um cínico bon vivant. Eu diria que é nesse momento que sua perversão se torna estrutural.

A cena é central: Bella, ao ver bebês e pessoas passando fome, decide com eles se juntar desesperadamente. Desce uma escada, mas logo percebe que ela está destruída. Há um abismo que a separa daqueles que ela gostaria de defender e ajudar. A solução encontrada: juntar dinheiro, que o amante tinha acabado de ganhar no cassino, e distribuí-lo. Eis, a única possibilidade. A cena é um tanto óbvia, há uma ruptura simbólica que impede qualquer atravessamento com relação ao outro (ou aos outros) e rompe qualquer partilha do sensível, para pensar com o bom Rancière. Ora, não é senão nossa esquerda!

Voltemos ao “God” e seu retorno pródigo. No leito de morte daquele que a deu vida, Bella descobre sua situação de trans-humanidade. Não foi tirada da costela de Adão, mas do filho que carregava em seu ventre, é um Eu=Eu. Sem esboçar muita reação, no entanto, resolve perdoar tanto God como pede em casamento McCandles, o assistente que a auxiliou antes de sua saída. Na cerimônia de casamento – que só poderia conduzi-la à falsificação neurótica e destruir o filme – aparece o marido de Victória, o que lhe dá a oportunidade de novas aventuras e novo gozo. Bella decide então suspender o casamento e se unir a Alfie Blessington (Christopher Abbott), uma espécie de colonizador do velho mundo.

Puta socialista ou heroína neoliberal?
Bella é uma heroína perversa. Uma das questões, talvez a mais fácil, é: o que isso tem a nos dizer? Muito mais interessante, me parece, entretanto, uma outra questão: o que isso diz de nós? Creio já ter chegado no cerne do meu argumento quando digo que o desejo do perverso é incorporar a lei ao gozo. Sem mediação para estruturar uma economia do desejo, ele volta-se para a busca de um gozo alargado totalmente atado à demanda por satisfação que jamais cessa recolocando a insatisfação como seu principal impulso.

Não é difícil simpatizar com a personagem, afinal é uma criança instalada no corpo de uma bela mulher sem qualquer sinal de neurose. Bella atua em nome do gozo! Uma sexualidade infantil num corpo que não é mais de um infans! Um impasse do contemporâneo que remete à infantilização do sujeito e especificamente da mulher pela perspectiva da fruição mantida pelo feminismo liberal na ânsia de uma liberação sexual ingênua que se concentra no corpo, na saúde privada e na cosmética.5

Sem passado, ela vive num presente alargado marcado pela experiência de satisfação e de não negação de suas pulsões. O supereu é estruturado no sentido de realização incessante do gozo e todos ao seu redor se reduzem a ele. E é por isso que ela não constitui laços senão por conveniência. O riso causado pela exposição incessante do inconsciente de Bella é fundamental para sustentar a ironia do filme.

Somos nós as pobres criaturas, afinal. Alimentados por um outro registro simbólico que forja nossa subjetividade atrelada num capitalismo que precisa acelerar a demanda por consumo capturando nosso gozo, rimos de nós. Se para Freud a subtração do gozo era fundamental para preservação do laço social, numa estrutura social em que se pede o gozo incessante através do consumo, a neurose fatalmente cede espaço à perversão. E é aqui que Poor Things ganha valor de metáfora: ele se refere aos impactos que a mudança nas economias mercantil, política e simbólica tiveram sobre a vida psíquica.

Se não há desejo sem a subtração originária do gozo, como ficamos numa sociedade na qual a função da castração é tolhida e no seu lugar há a busca incessante pela satisfação? Sabemos que a estrutura superegóica procede da recusa que a função paterna exerce na pulsão incestuosa do filho pela mãe. Pensar o pai como uma função simbólica, e não como uma presença de carne e osso, faz toda diferença. É o “não” (non) operado por essa função, vai nos ensinar Lacan, que estrutura a subtração do gozo. O pai funciona como uma ideia reguladora que organiza o desejo, é uma função simbólica dele.

O reverso disso é que o que se estrutura na neurose é uma autoridade imaginária sobre o gozo que organiza o desejo. E o paradoxo é que um “menos gozar” deve ser aceito para que uma verdadeira autonomia possa ser exercida e constituir laço com o outro. Aliás, é o “menos gozar” que permite não só a saída da perversão polimorfa como a captura do discurso e mediação do desejo. Acontece que isso era totalmente alheio ao progressismo difuso da esquerda dos anos 1960 e 1970 que apostava na libera(liza)ção total.

O irônico é que Victória, histérica e sofrendo de melancolia, usa essa autonomia para dar cabo à vida e em seu lugar nasce Bella, livre das repressões organizadas pela função paterna e estruturada a partir da perversão. Temos então dois sujeitos: um moderno, pré-maio de 1968, e um pós-moderno, ligado à dinâmica neoliberal pós 1970. Ambos condensados metaforicamente no mesmo espaço-tempo do filme.

Um, ligado à repressão excessiva – afinal, sabemos quem era o marido de Victória e intuímos que a relação de ambos era de total violência; o outro, ao desrecalcamento radical como meta política da esquerda dos anos 1960. O que não se contava é que esse desrecalque seria impulsionado pelo novo modelo dominante do laço social neoliberal que atrelou a satisfação ao consumo. O filme diz exatamente isso de nós: somos uma sociedade perversa. Para nós, em nossas poltronas refrigeradas pelo ar condicionado e pipocas cheias de manteigas, nada deve barrar a expressão e a satisfação de nossa pulsão.   

Alguns acusaram o filme de terminar conformista. Obviedade à parte. A proposta do filme é conformista o tempo inteiro e o seu final mostra a coroação das propostas da esquerda do maio de 68 rastejante – para usar uma expressão maldita do Comitê invisível. Daí que a radical conformação ao capitalismo contemporâneo só é percebida quando relacionada ao conceito de perversão que estrutura a subjetividade da heroína correlacionando com o tempo presente.

Se a perversão do capitalismo tardio se casa bem com uma subjetividade que deve fruir sem estruturar laços perenes, nem formas de camaradagem para além do registro do gozo, através, óbvio, do usufruto da mercadoria, então o projeto Bella, feito pelo Dr. Godwin, só poderia ser bem-sucedido. Um casamento feliz entre uma dinâmica social perversa – que não respeita limites espaciais ao capital que fagocita tudo ao redor – e uma subjetividade pervertida, desterritorializada, fluída e na busca incessante de gozo.

Mas há mais uma volta nesse parafuso que pode elucidar as nossas tramas. Lacan deixou muito claro que a demanda por gozo contínuo, por parte do perverso, oculta sua relação com a lei. O perverso busca incorporar a lei ao gozo. Então, esse supereu obsceno se exprime na particularidade demandando uma lei que única e exclusivamente se reduza às aspirações egóicas do gozo. Numa relação gregária em que o outro é o objeto de seu gozo pela identificação.

Bella não se torna outra coisa senão aquela que dirige o cenáculo à sua volta. Com Godwin morto, ela se assenta em seu lugar estudando o que ele estudava e dirigindo a vida de todos ao seu redor. Ao fim e ao cabo, toda a liberalização da sexualidade e a busca permanente pelo gozo repôs o mesmo circuito. O mundo continua o mesmo, mas o importante é gozar e fazer o que se quer em busca sempre de “novas aventuras” destituindo os laços em nome de uma demanda privada! A questão que permanece é que pervertidos, como somos, adoramos a lei do mais gozar e infantilizamos nossa relação com a sexualidade!

Notas
1 FREUD, S. Obras completas volume 6: três ensaios sobre a teoria da sexualidade. São Paulo: Companhia das letras, 2006.
2 ROUDINESCO E PLON. Dicionário de psicanálise. Tradução Vera Ribeiro. Rio de Janeiro, Zahar, 1998.
3 Conclusão tirada de uma conversa com Cian Barbosa.
4 Mais uma vez, Cian Barbosa me ajudou nesse raciocínio.


***
Douglas Rodrigues Barros é escritor, doutor em Ética e Filosofia política pela Unifesp, editor e conselheiro editorial do Lavra Palavra e autor dos livros Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafísica racial (Hedra, 2019) e Racismo (Fibra/Brasil, 2020). Militante do movimento negro, foi coordenador político da Uneafro.

1 comentário em “Pobres criaturas” e nosso reflexo em seu espelho

  1. Ana Paula Begrow // 23/03/2024 às 4:51 pm // Responder

    Não vejo algumas coisas da mesma maneira. Quando ela escolhe o militar ao invés do marido não vai atrás do gozo. Já sabe o lugar que a faz feliz, no entanto nega para descobrir um lado escuro do seu eu. Da mesma maneira, acho que existem laços sociais verdadeiros além do gozo e do capital. A relação, especialmente com outras mulheres, aponta para relações sociais de outra natureza, mais sutis e complexas. A senhora no barco não oferece gozo. Além de uma antevisão de futuro dela mesma e de oferecer conhecimento e dor, há uma troca. Bella preocupa-se, dá dicas à senhora, apesar do pouco que tem. A amiga do bordel também é retirada do prostíbulo. O socialismo também pode ser visto como uma procura por acrescentar algo naquele mundo recém descoberto. O fim me parece menos narcisista do que apontado. Embora o filme seja uma exploração narcísica, não vejo que se resume a isso.

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