2023: um recomeço

Um compilado de tudo que rolou por aqui no ano que se encerra. Em 2024, desejamos um ano vibrante, repleto de realizações coletivas.

Após um período difícil, de terror sanitário, 2023 começou trazendo esperança de novo para os brasileiros e brasileiras. Logo nas primeiras semanas do ano, no entanto, pudemos perceber os desafios para desbolsonarizar o país. A coletânea Brasil sob escombros, organizada por Juliana Magalhães e Luiz Felipe Osório, buscou dar voz a pessoas de diferentes áreas para dar respostas, muitas delas sendo ouvidas na série de mesmo nome na TV Boitempo. Maria Rita Kehl também analisou o Tempo esquisito que vivemos nos últimos anos, direcionando luz para o presente e para o futuro. A matéria brasileira continuou sendo tema com a edição número 40 da Margem Esquerda, que contou com entrevista de Roberto Schwarz e especial sobre o conservadorismo neoliberal brasileiro. Os 10 anos das manifestações que abalaram o país foram retomados na coletânea Junho de 2013 e na série Das cidades rebeldes à rebelião fantasma. Temas conjunturais importantes como a revogação do Novo Ensino Médio pautaram textos no Blog da Boitempo e vídeos em nosso canal.

A precarização do trabalho continuou sendo preocupação incontornável por aqui. Pela coleção Mundo do Trabalho, Icebergs à deriva, organizado por Ricardo Antunes, ofereceu um estudo multidisciplinar sobre o trabalho nas plataformas digitais e a expansão sem precedentes desse modelo. Já Ruy Braga, em A angústia do precariado: trabalho e solidariedade no capitalismo racial, pautou o tema no último volume de uma trilogia consagrada à formação do precariado global. Ricardo Festi, no As Origens da Sociologia do Trabalho, explorou a evolução histórica das teorias sociológicas sobre o trabalho, destacando suas raízes e influências fundamentais e os percursos cruzados entre Brasil e França. Já em Colonialismo digital, pela coleção Estado de Sítio, Deivison Faustino e Walter Lippold investigaram criticamente a influência do colonialismo nas estruturas digitais contemporâneas, analisando como o poder e a desigualdade persistem no cenário tecnológico global.

A questão ambiental também ocupou lugar de destaque com a publicação de Enfrentando o Antropoceno: capitalismo fóssil e a crise do sistema terrestre, de Ian Angus, que abordou de maneira crítica e propositiva os desafios impostos pela era do Antropoceno, propondo reflexões e ações para uma coexistência sustentável entre humanidade e meio ambiente. A luta pela terra foi o tema do dossiê Pão, política e terra, na edição 41 da revista Margem Esquerda. A luta contra as opressões marcou ainda presença no ano que chega ao fim, com a publicação do clássico Por um comunismo transexual, de Mario Mieli.

A continuidade da Guerra na Ucrânia, o genocídio palestino perpetrado por Israel e a ascensão da extrema-direita no mundo pautaram artigos no Blog da Boitempo. Em tempos de crises e incertezas, A ordem do capital, de Clara Mattei, aprofundou de forma interdisciplinar a relação entre austeridade e ascensão do fascismo. Por outro lado, o sucesso das reformas de mercado na China foi analisado por Isabella Weber em Como a China escapou da terapia de choque, tema do episódio mais ouvido da Rádio Boitempo, com a presença de Elias Jabbour, Tings Chak e Celso Rocha de Barros.

Em comemoração aos 10 anos de publicação pela Boitempo de O Capital [Livro 1], brindamos nossos leitores com uma terceira edição da obra, com posfácio de Leda Paulani. Enquanto principal casa editorial de Karl Marx no Brasil e referência internacional pelas edições de sua obra, também tivemos dois novos volumes da coleção Marx-Engels: o célebre Capítulo VI (inédito), de Karl Marx, e Resumo de O capital, de Friedrich Engels. Na TV Boitempo, a nova série Coleção Marx-Engels trouxe grandes nomes para apresentar as mais de trinta obras já publicadas pela editora. O nosso já tradicional Dia M, o aniversário de Marx, foi um sucesso de público com muita festa no Armazém do Campo.

Em Marx, esse desconhecido, Michael Löwy explorou facetas menos conhecidas da vida e da obra desse autor incontornável, proporcionando uma compreensão mais profunda do seu pensamento. Na Rádio Boitempo, os marxismos foram tema da segunda temporada, com episódios sobre os legados de György Lukács, Antonio Gramsci, Rosa Luxemburgo, Walter Benjamin, Leon Trótski e Vladímir Lênin.

György Lukács, um dos mais influentes filósofos do século XX, teve destaque neste ano com a aguardada publicação do primeiro volume da Estética, além de História e consciência de classe, 100 anos depois, organizado por José Paulo Netto, Por que Lukács?, de Nicolas Tertulian e Teoria social, verdade e transformação, de Mario Duayer. Para aqueles que estão iniciando as leituras sobre o autor, publicamos Lukács: uma introdução, de José Paulo Netto, que ministrou um curso exclusivo para os assinantes do Armas da crítica, o clube do livro da Boitempo.

A literatura não deixou de estar presente com a volta do detetive Mario Conde, de Leonardo Padura, em Pessoas decentes. Tivemos também a estreia de Marcelo Ridenti na ficção com Arrigo, uma mescla de realismo e fantasia que retratou cem anos de história da esquerda brasileira. Já em Viagem de Petersburgo a Moscou, pela coleção Clássicos Boitempo, as condições sociais e políticas da Rússia do século XVIII são descritas por Aleksandr Radíschev.

Neste ano, a literatura infantil ganhou ainda mais fôlego com autoras e autores já conhecidos: Ranheta ruge rosna, de bell hooks, Julián no casamento, de Jessica Love, Bicho Bolota, de Olga de Dios e O que você vê, de Alexandre Rampazo. Também tivemos estreias, com Toi toi toi, de Catarina Sobral, Mamãe vai para a Antártida, de Anna Cabré Albós, Era uma vez uma ave, de Gastón Hauviller e Dipacho, e A misteriosa história do ca.di.re.me., de Tatiana Filinto.O aprendiz de feiticeiro, de Johann Wolfgang von Goethe com ilustrações de Nelson Cruz e O homem no buraco, de Antonio Gramsci com ilustrações de Raysa Fontana, lembraram que autor de gente grande também tem lugar entre os pequenos e pequenas.

Por fim, o ano foi novamente marcado por lançamentos de alguns de nossos grandes autores: Os líderes e as massas e Vozes da terra, ambos de Antonio Gramsci pela coleção Escritos gramscianos; Imperialismo e questão europeia, de Domenico Losurdo; URSS, um novo mundo e O mundo do socialismo, de Caio Prado Junior; Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, de Luiz Bernardo Pericás.

Foram mais de quarenta títulos novos, com a reimpressão de outras centenas de livros do catálogo. Nosso blog cresceu, superou 1 milhão de acessos em mais de 200 postagens, e nosso canal do YouTube, a TV Boitempo, atravessou a marca dos 370 mil inscritos, com 130 novos vídeos. Nosso podcast, a Rádio Boitempo, chegou a 60 mil reproduções em quase 30 países. E nosso clube de assinantes, o Armas da Crítica, completou três anos oferecendo a mais fina seleção de títulos do pensamento crítico do Brasil e do mundo. Nada disso teria sido possível sem o apoio generoso de todos os que nos acompanham – autores, colaboradores, professores, parceiros, livreiros e leitores –, parte essencial da história da Boitempo.

Que 2024 inaugure um novo tempo, vibrante, repleto de realizações coletivas.

Livros publicados em 2023

  1. Capítulo VI (inédito), de Karl Marx
  2. Ranheta ruge rosna, de bell hooks
  3. Os líderes e as massas, de Antonio Gramsci
  4. Arrigo, de Marcelo Ridenti
  5. URSS, um novo mundo e O mundo do socialismo, de Caio Prado Junior
  6. Imperialismo e questão europeia, de Domenico Losurdo
  7. Mamãe vai para a Antártida, de Anna Cabré Albós
  8. Brasil sob escombros: desafios do governo Lula para reconstruir o país, de Luiz Felipe Osório e Juliana Paula Magalhães
  9. Resumo de O capital, de Friedrich Engels
  10. Margem esquerda 40
  11. Como a China escapou da terapia de choque, de Isabella M. Weber
  12. As origens da sociologia do trabalho, de Ricardo Festi
  13. O que você vê, de Alexandre Rampazo
  14. Colonialismo digital, de Deivison Faustino
  15. O Capital [Livro 1], de Karl Marx
  16. Junho de 2013: a rebelião fantasma, de Breno Altman e Maria Carlotto (Org.)
  17. Icebergs à deriva, de Ricardo Antunes
  18. Tempo esquisito,de Maria Rita Kehl
  19. Viagem de Petersburgo a Moscou, de Aleksandr Radíschev
  20. Julián no casamento, de Jessica Love
  21. Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, de Luiz Bernardo Pericás
  22. O aprendiz de feiticeiro, de Johann Wolfgang von Goethe
  23. Por um comunismo transexual, de Mario Mieli
  24. Marx, esse desconhecido, de Michael Löwy
  25. Era uma vez uma ave, de Gastón Hauviller
  26. A angústia do precariado, de Ruy Braga
  27. Lukács: uma introdução, de José Paulo Netto
  28. História e consciência de classe, cem anos depois, de José Paulo Netto (org.)
  29. Estética: a peculiaridade do estético – Volume 1, de György Lukács
  30. Teoria social, verdade e transformação, de Mario Duayer
  31. Por que Lukács?, de Nicolas Tertulian
  32. Margem Esquerda 41
  33. Toi toi toi, de Catarina Sobral
  34. Enfrentando o Antropoceno, de Ian Angus
  35. A misteriosa história do ca.di.re.me., de Tatiana Filinto
  36. Bicho Bolota, de Olga de Dios
  37. A ordem do capital, de Clara Mattei
  38. Vozes da terra, de Antonio Gramsci
  39. Pessoas decentes, de Leonardo Padura
  40. Um homem no buraco, de Antonio Gramsci
  41. República do capital, de Décio Saes
  42. O desenvolvimento do capitalismo na Rússia, de Vladímir Ilitch Lênin


Até breve! Boas festas!

Equipe Boitempo

Ana Slade, Davi Oliveira, Elaine Ramos, Frank de Oliveira, Frederico Indiani, Higor Alves, Isabella Meucci, Isabella Teixeira, Ivam Oliveira, Ivana Jinkings, Kim Doria, Letícia Akutsu, Livia Campos, Luciana Capelli, Marcela Sayuri, Marina Valeriano, Marissol Robles, Mateus Rodrigues, Maurício Barbosa, Pedro Davoglio, Raí Alves, Renata Carnajal, Thais Rimkus, Tulio Candiotto.

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