A questão da Palestina e as Brigadas Internacionalistas

A Palestina sangra, os povos em luta em grande medida estão sozinhos. Os revolucionários de todo o mundo devem marchar para encontrar meios e formas de se fazerem presentes nos campos de batalha onde estão ocorrendo os confrontos decisivos da classe trabalhadora e daqueles em que a reação da nossa classe esteja na ordem do dia, assim como nas lutas por libertação nacional, a exemplo da resistência palestina contra a barbárie nazisionista.

Por Milton Pinheiro

A história do tempo presente está sendo marcada pela longeva crise do capital, ações do imperialismo e a operação da burguesia na atualização da contrarrevolução permanente. É nesse cenário de crise condensada que avança a lógica do Estado mundial da burguesia para reafirmar seu papel na destruição dos direitos da classe trabalhadora, na repressão constante aos povos que lutam contra a sociabilidade da ordem do capital que estruturam as diversas formas de opressões.

Na lógica de desenvolvimento desse projeto burguês, o Estado capitalista utiliza da estrutura militar que dispõe para fazer invasões e ações de extermínio de populações nos variados espaços dos territórios nacionais invadidos. São povos “sem pátria” a exemplo dos milhões de curdos, aqueles que lutam por independência como, o povo saarauí no Saara Ocidental e a questão mais candente, a invasão de Israel ao território palestino, entre outros.

A luta histórica do povo palestino, que enfrenta uma dominação colonial há 76 anos, está, nos últimos dias, passando mais uma vez pelo sofrimento causado pela tentativa de extermínio com os massacres em curso. O governo de Israel, apoiado pelos EUA e por países centrais da União Europeia, ambos gerentes da OTAN, age de forma cruel e perversa para destruir Gaza e cercar a Cisjordânia. Trata-se de um extermínio televisionado, cujo interesse central do governo nazisionista de Benjamin Netanyahu é dizimar esse povo, colocá-lo em outro ciclo de Nakba e avançar na invasão do histórico território palestino.

A esse povo nunca foi permitido a paz, o tratamento humano e digno. Ele resiste da forma que a luta lhes impõe. Consolidou-se um conflito em que a guerra suja é tão desproporcional e covarde que deveria abalar a opinião pública mundial pelo seu caráter de total agressão à condição humana.

Essa desproporção, em favor das tropas letais e assassinas de Israel, é apresentada pela mídia corporativa dos EUA, União Europeia e Brasil como se fosse simplesmente o direito de defesa do Estado de Israel, sem entrar no mérito que essa desproporção já matou mais de 15 mil palestinos, em sua maioria crianças e mulheres, destruiu a moradia de quase um milhão de pessoas, bombardeou e destruiu 12 hospitais e dezenas de escolas. Eles não permitem o básico, o povo palestino não tem água, comida e o mínimo de atendimento médico.

A máquina de guerra do nazisionismo também age para assassinar qualquer possibilidade de se ter informações que contenham o mínimo de verdade. Existe em curso uma campanha ideológica sem precedentes para colocar as ações da resistência do povo palestino no campo do terrorismo e vitimizar o Estado de Israel. Não existe a menor conduta ética da mídia corporativa no processo de divulgação das principais informações sobre o “conflito” em curso.

O apoio da burguesia mundial e do Estado capitalista global ao Estado nazisionista de Israel abre um debate necessário nesse momento. Como prestar solidariedade ao povo palestino e como agir a partir das indicações históricas do internacionalismo proletário? A esquerda mundial está preparada para ter um papel protagonista no apoio a esse povo?

Antes de refletir sobre essas básicas necessidades de ação, temos que chamar atenção e jogar luz em algumas questões que não estão tendo a devida repercussão entre os Partidos Comunistas e Operários, nos segmentos das organizações trotskistas e em movimentos revolucionários da classe trabalhadora, ou seja, como operar a autodefesa, agir ao lado das lutas dos povos e participar dessa resistência?

A história da luta de classes nos informa que, quando o mundo foi atacado pelo nazifascismo e quando os povos em guerra reagiram à barbárie, lá estavam os pelotões internacionalistas composto por Brigadistas revolucionários para lutar em defesa da humanidade e enfrentar as hordas que foram criadas pela sociabilidade capitalista. Esses/as revolucionários/as lutaram nos campos de batalha da Segunda Guerra Mundial, se bateram em defesa da República na Espanha, e em várias partes da Europa se juntaram aos partisans na resistência ao nazifascismo e em defesa da revolução proletária.

Esse heroico movimento, que orgulha a história da humanidade, teve no PCB um compromisso revolucionário ativo. Muitos militantes desse centenário partido lutaram nos combates na Itália ao lado da Força Expedicionária Brasileira, estiveram na Resistência francesa e na guerra civil espanhola. Essa é a marca indelével do internacionalismo proletário que os comunistas brasileiros confirmaram nos campos de batalha, onde Apolônio de Carvalho, Davi Capistrano da Costa, Dinarco Reis, Salomão Malina, Jacob Gorender, José Mendes de Sá Roriz e outros comandaram tropas para defender o futuro da humanidade e derrotar o que havia de pior naquela época.

Nesse momento, a quadra histórica está marcada pela violência do Estado capitalista, pelo avanço do imperialismo e pela contrarrevolução que funciona para derrotar os trabalhadores. Portanto, se faz necessário que as forças que lutam em defesa da revolução mundial se organizem para enfrentar, no espaço dos seus respectivos países, a representação do capital e esse ciclo de destruição da condição humana. É urgente organizar a autodefesa, pensar nas questões de segurança para lutar e examinar formas adequadas para reagir ao Estado capitalista e avançar no seminal enfrentamento de classe.

Mas, diante das lutas que movimentam batalhas pelo mundo e das formas violentas que são operadas pela estrutura militar do Estado capitalista, devemos constituir o freio de emergência do nosso tempo para despertar nas organizações revolucionárias o sentido de executar os mais diversos tipos de solidariedade aos que lutam, ao tempo em que os revolucionários devem se somar no campo de batalha àqueles que estão enfrentando a barbárie capitalista. O freio de emergência de nossa época é organizar a contraofensiva.

No entanto, alguns pontos devem ser examinados. Independente da importância da divulgação das lutas revolucionárias nas redes virtuais, elas não podem ser um fim em si mesmo, nem podem ser responsáveis por formar uma juventude que é militante apenas nas redes de contágio e no diletantismo que fomentam os debates teóricos intermináveis. A classe trabalhadora, nessa quadra histórica, necessita da militância que se coloque no campo da realidade concreta e que opere as diversas táticas de enfrentamento que alimentam a contraofensiva e organize o universo estratégico da revolução.

A Palestina sangra, os povos em luta em grande medida estão sozinhos. Os revolucionários de todo o mundo devem marchar para encontrar meios e formas de se fazerem presentes nos campos de batalha onde estão ocorrendo os confrontos decisivos da classe trabalhadora e daqueles em que a reação da nossa classe esteja na ordem do dia, assim como nas lutas por libertação nacional, a exemplo da resistência palestina contra a barbárie nazisionista.

Os revolucionários do mundo devem organizar seus pelotões de Brigadistas Internacionalistas, diante do cenário em que nos encontramos? Poderia afirmar como resposta que existe uma premissa para a ação que advém de uma determinada lógica do pensamento marxista que nos orienta no sentido de que diante da consolidação do capitalismo global, com sua estrutura política e militar operando de forma violenta e destrutiva para impedir a sobrevivência dos trabalhadores, que esses pelotões de Brigadistas devem ser organizados aos milhares para dar forma ao enfrentamento mundial dos trabalhadores, nos mais diversos níveis do compromisso internacionalista.

O enfrentamento da classe trabalhadora à ordem do capital deve passar por um forte movimento de massas, mas, também, por formas alternativas que colocam em xeque essa ordem. Portanto, organizar Brigadas Internacionalistas para se somar aos povos em luta é uma obrigação dos revolucionários e seus instrumentos da operação política.

Essas Brigadas devem criar condições para levar os mais elementares atendimentos, realizar variadas formas de apoios, proceder a um grande conjunto de ajudas ao processo de reconstrução, mas também ser capaz de contribuir nas batalhas que estão abertas pela defesa da terra palestina, ou de qualquer outro povo, em luta por autodeterminação. Esse instrumento do internacionalismo proletário deverá ser organizado para combater a partir das decisões políticas dos povos em luta, mas não para dizer o que eles devem fazer.

Os revolucionários, ao lado da classe trabalhadora, precisam despertar para um amplo conjunto tático de ações de autodefesa e contraofensiva que fomentem a partir da luta de classes um espaço de ação que desvele a cena política e possa modificar a relação de força que existe entre capital e trabalho. A questão principal desse processo é colocar ideologicamente a revolução como algo concreto para os trabalhadores e os povos oprimidos.    

A revolução não é uma reação meramente espontânea aos ataques do capital ou a determinação etérea de uma necessidade histórica de ruptura com a ordem. A revolução passa, também, pela organização das formas de lutas que realizam os enfrentamentos. São lutas concretas que surgem da extrema necessidade humana por transformação, mas que devem contar com um programa que possa ajudar a construir a unidade da Frente Única Revolucionária. Isso passa, também, pela necessidade de fazer emergir massivas ações para movimentar o Bloco Revolucionário do Proletariado na perspectiva de ruptura que coloque na ordem das contradições a dualidade de poder que, em sendo vitoriosa, opere a alternativa de transição socialista.


Caminhos divergentes, de Judith Butler
A partir das ideias de Edward Said e de posições filosóficas judaicas, Butler articula uma crítica do sionismo político e suas práticas de violência estatal ilegítima, nacionalismo e racismo patrocinado pelo Estado. Além de Said, reflete sobre o pensamento de Levinas, Arendt, Primo Levi, Buber, Benjamin e Mahmoud Darwish para articular uma nova ética política, que transcenda a judaicidade exclusiva e dê conta dos ideais de convivência democrática radical, considerando os direitos dos despossuídos e a necessidade de coabitação plural.

Ideologia e propaganda na educação, de Nurit Peled-Elhanan
A professora de linguagem da educação investiga os recursos visuais e verbais utilizados em livros didáticos de Israel para representar a população palestina. Mobilizando o arcabouço teórico e metodológico da análise crítica do discurso e da análise multimodal, Nurit Peled-Elhan examina a apresentação de imagens, mapas, layouts e o uso da linguagem em livros de história, geografia e educação moral e cívica. O resultado é uma detalhada exposição dos mecanismos pelos quais esses materiais escolares moldam um imaginário de marginalização dos palestinos. 

Cultura e política, de Edward W. Said
Edward Said imprime uma visão universalista em suas análises sobre a questão palestina, inserindo-a no conjunto das grandes lutas pelo reconhecimento de todos os povos a afirmar sua identidade e ter sua expressão política. Sua obra denuncia o racismo ocidentalista, que tenta se legitimar como visão hegemônica do mundo, opõe-se à criminalização da luta do povo palestino e de todos aqueles considerados fora dos padrões da chamada civilização ocidental.

A liberdade é uma luta constante, de Angela Davis
Esta ampla seleção de artigos traz reflexões sobre como as lutas históricas do movimento negro e do feminismo negro nos Estados Unidos e a luta contra o apartheid na África do Sul se relacionam com os movimentos atuais pelo abolicionismo prisional e com a luta anticolonial na Palestina. A obra da intelectual e ativista Angela Davis ensina também a pensar a nossa luta em relação a todos os “condenados da terra”, como escreveu Frantz Fanon.

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Milton Pinheiro é sociólogo e cientista político, professor titular de história política na Universidade do Estado da Bahia (UNEB) e autor/organizador de 12 livros, entre eles, Ditadura: o que resta da transição (Boitempo, 2014) e Partido Comunista Brasileiro: 100 anos de história e lutas (Lutas Anticapital, 2023).

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