Cultura inútil | O gado merece o oportunista

De Octavia Butler a Karl Marx, passando por Amílcar Cabral, Goethe e Napoleão, Mouzar Benedito faz uma seleção de frases sobre o oportunismo.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Mouzar Benedito

Oportunista: indivíduo que se aproveita dos outros ou que, em determinadas situações, tira vantagens pessoais. É o famoso aproveitador, sanguessuga, por aí.

Certo, tem situação em que ser chamado de oportunista é elogio, como no caso de um atacante de futebol que está sempre bem colocado perto do gol, a bola chega sempre a ele, e ele sabe colocar dentro das redes.

Na política, há algumas graduações de oportunismos, transformando alguns em atos de esperteza. Por exemplo, Getúlio Vargas disse certa vez: “Eu não sou um oportunista. Sou um homem de oportunidade. Se o cavalo passar encilhado na minha frente, eu monto”. Tem sentido, às vezes. Mas tornou-se comum o cara dizer que não pretende se candidatar a um determinado cargo, mas se o cavalo passar encilhado, ele monta. Ou seja, se achar que vai dar certo, aproveita.

Mas meu assunto aqui é o primeiro, metido a esperto. É um tipo que pode até ser burro, mas consegue enganar as pessoas, e quando essas pessoas são um bando de trouxas, engana mais ainda. Sua ética consiste nisso, se precisar, tira até a comida da boca de quem acredita nele. Por exemplo, apesar de ter milhões e milhões de reais, quem sabe até bilhões, chora nas redes sociais por ter que pagar multas de quase um milhão por não ter violado seguidamente as leis que obrigavam a usar máscara no tempo do auge da covid-19. Aí seus seguidores trouxas – alguns ricos, mas a maioria vive matando cachorro a grito – depositam ao oportunista o que podem e o que não podem. E o cara arrecada mais de R$17 milhões, e goza dizendo que sobrou dinheiro para comer pastéis na feira com a senhora patroa. Ah… e tem quem diga que ele tentou não pagar as multas, ficar até com essa grana. Não sei.

Colhi umas frases sobre oportunistas… Aí vão.

Octavia Butler: “Ser liderado por um tolo é ser liderado pelos oportunistas que controlam o tolo”.

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João Pedro Stédile: “O papel do movimento não é agradar a classe média, que sempre foi oportunista. Não vim aqui para puxar o saco de vocês”.

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Stanley Baldwin: “Prefiro ser um oportunista e flutuar do que ir ao fundo com meus princípios amarrados ao pescoço”.

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Lori Greiner: “Caros otimista, pessimista e realista – enquanto vocês estavam ocupados discutindo sobre a taça de vinho, eu bebi! Atenciosamente, o oportunista!”.

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José de Alencar: “A ocasião faz o homem, como o choco faz o pinto: sem ela, o homem é um ovo goro”.

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Ditado popular: “A ocasião faz o ladrão”.

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Provérbio francês: “Sempre há cachorros demais em torno de um osso”.

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Manuel Bernardes: “Que atalho é mais breve para a ruína? A ocasião”.

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Ditado popular: “Depois da batalha, aparecem os valentes”.

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Ditado popular: “Inimigos honestos são mais dignos de confiança do que amigos oportunistas”.

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Maurice Chapelan: “Todo mundo é oportunista, mas nem todos sabem sê-lo com oportunidade”.

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Katharine Hepburn: “Acho que todo mundo é oportunista se tiver alguma oportunidade”.

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Immanuel Kant: “Ages de tal maneira que uses a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de qualquer outro, sempre e simultaneamente como fim, e nunca simplesmente como meio”.

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Edouard Herriot: “Oportunismo é a forma política do egoísmo”.

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Alexandre Dumas, pai: “Em política, meu caro, sabe tão bem quanto eu, não existem homens, mas ideias; não existem sentimentos, mas interesses; em política, ninguém mata um homem: suprime-se um obstáculo”.

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François Mitterrand: “Muitas vezes notei que os políticos mais oportunistas perdem o equilíbrio assim que começam a servir a uma ideia. Esse é o começo de sua perda”.

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Ambrose Bierce: “A política é a condução dos negócios públicos para proveito dos particulares”.

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Austin O’Malley: “Ao cobrar impostos e ao tosquiar ovelhas, é bom parar quando você chega à pele”.

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Ernest Hemingway: “A primeira panaceia para uma nação mal administrada é a inflação da moeda; a segunda é a guerra. Ambas trazem uma prosperidade temporária; ambas trazem ruína permanente. Mas ambas são refúgio de oportunistas políticos e econômicos”.

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Noam Chomsky: “Barack Obama é um oportunista apoiado principalmente pelas instituições financeiras. Ele não tinha posição sobre nada. Ele é muito inteligente. Se você olhar o programa dele, quase nenhuma substância. Mudança, esperança, o que é isso? Quero dizer: ele tinha umas políticas, mas é quase certo que desistiria delas instantaneamente, o que ele fez”.

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Amílcar Cabral: “Devemos andar rapidamente, mas não correr. Não devemos ser oportunistas, nem permitir que nossos entusiasmos nos façam perder a visão da realidade concreta”.

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Deborah Nwakwesili: “Nem todos que te ajudam tiveram realmente boas intenções, algumas dessas pessoas são oportunistas que escondem a verdade e mantêm as opções para a realização do seu propósito”.

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Verônica Roth: “Não sei em que mundo você vive, mas, no meu, as pessoas só têm dois motivos para fazer algo por você: o primeiro é que querem algo em troca; e o segundo é que creem te dever algo”.

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Goethe: “Essa concorrência, e o modo como ficam atentos, um procurando obter vantagem sobre o outro; vejo as paixões mais mesquinhas, mais miseráveis, sem qualquer tipo de pejo”.

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Igazio Silone: “O governo tem um braço comprido e outro curto: o comprido serve para apanhar e chega a toda a parte; o braço curto serve para dar e só alcança os mais chegados”.

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Henry Louis Mencken: “Nunca deixe que os seus inferiores lhe façam um favor. Pode custar-lhe caro”.

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Mencken, de novo: “Quando ouvir um homem falar de seu amor à pátria, é sinal de que espera que lhe paguem por isso”.

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Marquês de Maricá: “O interesse explica os fenômenos mais difíceis da vida social”.

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Hippolyte Taine: “Existem quatro tipos de homens no mundo: amantes, curiosos, oportunistas e imbecis. Os mais felizes são os imbecis”.

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Jean-Louis Gagnon: “Atacar fumantes tornou-se o chique do politicamente correto. Chama-se oportunismo”.

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Benjamin Disraeli: “A segunda melhor coisa do que saber aproveitar uma oportunidade na vida, é saber quando deixá-la passar”.

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Mário de Andrade: “As conveniências muitas vezes prolongam a infelicidade”.

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Ivan Lessa: “Só se escreve para provocar um inimigo, conquistar uma mulher ou ganhar muito dinheiro”.

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Smiley Blanton: “Os homens erram quando acham que podem ser exploradores desumanos em sua vida profissional e maridos e pais afetuosos em casa”.

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Daniel Defoe: “A gratidão não é uma virtude inerente à natureza do homem e nem sempre os homens guiam seus atos pelos favores que recebem, mas antes pelas vantagens que esperam conseguir”.

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Delfim Netto: “Fernando Henrique tem um lema: todos no meu palanque e eu no palanque de ninguém”.

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Jean Baptiste Massilon: “Tudo quanto utilizais além das necessidades e das conveniências do vosso estado é uma desumanidade que cometeis contra os pobres”.

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Nicolas Chamfort: “Nas grandes coisas os homens se mostram como lhes convém mostrar-se. Nas pequenas, como são”.

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Freddie Mercury: “O amor é para mim uma roleta russa. Ninguém ama meu verdadeiro eu. Estão enamorados de minha fama, meu estrelato”.

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Edmund Burke: “A idade do cavaleiro se passou. Ele foi sucedido pelos sofistas, os economistas, os calculadores; e a glória da Europa se extinguiu para sempre”.

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Charles Dudley Warner: “A política faz estranhos amantes”.

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Leon Trótski: “Todos esses oportunistas que se dizem socialistas podem ir-se. São, por acaso, algo mais que um resíduo que a história jogará no cesto de lixo?”.

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John Lennon: “A religião é só uma maneira de tirar o dízimo dos ignorantes, só existe um Deus, e esse não se enriquece como os padres charlatões”.

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François de La Rochefoucauld: “Virtudes e vícios são movidos por interesses”.

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Pablo Castellano Cardallaguet: “A direita acusa a esquerda de ideologizar tudo. A direita tem o costume de fazer negócio com tudo”.

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Blanca Miosi: “É o preço de ser rico, nunca se sabe quem é um verdadeiro amigo, nem quem é o verdadeiro amor”.

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Graciliano Ramos: “Escolher marido por dinheiro. Que miséria! Não há pior espécie de prostituição”.

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Montesquieu: “Alguém a quem prestamos pequenos favores, esperando receber em troca favores maiores”.

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Napoleão Bonaparte: “Todo homem luta com mais bravura pelos seus interesses do que pelos seus direitos”.

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Antonio Guevara: “As amizades que se fundam a partir de interesse, por interesse terminam”
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Karl Marx: “Os economistas têm um modo singular de proceder. Para eles, não há mais que dois tipos de instituições: as artificiais e as naturais. As instituições do feudalismo são instituições artificiais; as da burguesia, naturais. Nisto se parecem com teólogos, que estabelecem dois tipos de religiões. Toda religião que não seja a sua… [deixo pra vocês concluírem]


O Boitatá e os boitatinhas

Em O Boitatá e os boitatinhas, Mouzar Benedito questiona o “progresso” que destrói a natureza e expulsa as comunidades tradicionais. As ilustrações vibrantes de Hallina Beltrão mostram aos pequenos leitores os encantos da fauna e flora.


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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.

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