Um retrato fiel e respeitoso da vida e da obra de Lukács
Saudemos, portanto, a iniciativa da Boitempo de incluir entre os volumes da coleção Pontos de Partida este Lukács: uma introdução. Suas poucas páginas oferecem um conteúdo rico e enriquecedor, tanto para quem já tem alguma familiaridade com a biografia e o pensamento do homenageado quanto para os que se interessam por conhecê-lo.
Por João Leonardo Medeiros
Não é fácil reconstituir sinteticamente a trajetória de vida e a produção intelectual do filósofo húngaro György Lukács. Além da necessidade de percorrer uma obra vasta, densa, cheia de pontos de inflexão, há de se dar conta da vida de uma pessoa que jamais optou pela comodidade diante de escolhas que poderiam ameaçar a própria sobrevivência. Lukács foi, de fato, um dos maiores pensadores marxistas de todos os tempos, além de um militante corajoso, ativo, polêmico.
Por razões diversas, a vida desse homem complexo entrelaçou-se com a de pessoas que tiveram influência marcante na história do século XX: de Thomas Mann a Bertolt Brecht, de Karl Korsch a Ágnes Heller, de Vladímir Lênin a Angela Davis, entre outras tantas. Boa parte dessas relações se deve ao fato de Lukács ter se envolvido com grande empenho na luta pela construção do socialismo tanto em seu país, a Hungria, como mundialmente.
Tendo participado do movimento revolucionário durante o período que vai de 1918 até sua morte, em 1971, Lukács não pôde se esquivar da necessidade de oferecer respostas às mais difíceis questões colocadas pela conjuntura, a começar pela influência nefasta do stalinismo sobre a construção do socialismo real. Boa parte de sua produção teórica, ainda que rigorosa e abstrata, é não apenas motivada pelas questões candentes de sua época como diretamente relacionada a elas.
Não é qualquer pessoa que está habilitada a elaborar um retrato fiel e respeitoso da vida e da obra de Lukács. A rigor, há poucos no mundo capazes de fazê-lo. Entre os brasileiros, o nome mais indicado é o do professor, pesquisador e militante político José Paulo Netto, um patrimônio do marxismo e do socialismo. Por muitas razões, entre as quais se destacam seu vasto cabedal teórico e sua vida dedicada à causa socialista, Netto dificilmente deixaria de ser a escolha do próprio Lukács.
Saudemos, portanto, a iniciativa da Boitempo de incluir entre os volumes da coleção Pontos de Partida este Lukács: uma introdução. Suas poucas páginas oferecem um conteúdo rico e enriquecedor, tanto para quem já tem alguma familiaridade com a biografia e o pensamento do homenageado quanto para os que se interessam por conhecê-lo.
Terceira obra da coleção Pontos de Partida, Lukács: uma introdução é apresentado aqui por José Paulo Netto, conhecido intelectual marxista brasileiro e coordenador da Biblioteca Lukács, coleção que conta com dez obras do filósofo e destaca-se por oferecer o essencial do pensamento lukacsiano em traduções diretas do alemão.
O leitor terá em mãos um convite e um caminho para desvendar a extensa e complexa obra de György Lukács (1885-1971), autor que produziu ao longo de seis décadas um trabalho intelectual rigoroso e em diversos aspectos bastante polêmico. Para Zé Paulo, a obra lukacsiana continua a se mostrar uma esfinge para o leitor comum: “Entretanto, aqui não se repete o dilema grego: ‘Decifra-me ou devoro-te’; o desafio proposto pela obra lukacsiana é diverso – resume-se num ‘Decifra-me e compreenderás melhor o teu mundo’, provoca Zé Paulo.
A obra de Lukács é marcada por sua diversidade e riqueza. Inúmeros assuntos foram tratados pelo filósofo ao longo de sua vida: as indagações que fazem parte da perplexidade humana, seu cruzamento com a história, a cultura e as artes, a estrutura da vida cotidiana, a transição socialista e a filosofia clássica. Lukács: uma introdução é uma preciosa bússola para nortear o leitor iniciante em sua caminhada pelos escritos desse magistral pensador.
Veja o lançamento antecipado de Lukács: uma introdução, com debate entre José Paulo Netto e Ranieri Carli, mediação de Carolina Peters, na TV Boitempo:
***
João Leonardo Medeiros é professor do Departamento de Economia da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Deixe um comentário