O segundo assassinato de Ernesto Guevara

Sem a pretensão de ser biográfica, “Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia”, de Luiz Bernardo Pericás, mergulha profundamente no universo criado em torno à figura do Che, sua relação com mineiros, camponeses, partidos e personalidades da época, investigando, inclusive, a influência dos acontecimentos no imaginário popular e na sociedade boliviana atuais.

Por Osvaldo Coggiola

A obra que nos apresenta Luiz Bernardo Pericás é uma pesquisa que procura esmiuçar as circunstâncias históricas e políticas que envolveram o desaparecimento do revolucionário cubano-argentino Ernesto “Che” Guevara. Sem a pretensão de ser biográfica, Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia mergulha profundamente no universo criado em torno à figura do Che, sua relação com mineiros, camponeses, partidos e personalidades da época, investigando, inclusive, a influência dos acontecimentos no imaginário popular e na sociedade boliviana atuais. Pode-se aceitar ou não a definição de Jean-Paul Sartre: o Che foi o maior ser humano do século XX. Em qualquer hipótese, ela está mais perto da verdade do que a canonização do Che Guevara, sua transformação em “mito”. Este livro tenta exatamente ir além da aura mítica e redescobrir o significado histórico e político do Che.

Em seu prefácio a O Estado e a revolução, Lênin observava que, quando já não era mais possível caluniar a vida e a obra de um revolucionário porque elas se impunham na escala histórica, a reação ideológica passava a castrá-lo, a deformar seu ensinamento, a “adocicá-lo” para torná-lo palatável aos interesses das classes dominantes. Removida da cena histórica, a pessoa e seu programa passam a fazer parte da mitologia, a situar-se na esfera inatingível para o comum dos mortais. No caso do Che, ele foi transformado no símbolo admirável, mas convenientemente morto, dos “loucos anos 1960”, de suas aspirações utópicas e ingênuas, algo como um Jimi Hendrix do marxismo, compartilhando com este uma espécie de vocação suicida devido a seus próprios excessos.

Nessa linha, Rogélio García Lupo constatou: “O tempo amadureceu a figura de Che até convertê-la no símbolo de uma geração, mas também cobrou seu preço. O Che, que representa mais que tudo a geração dos anos 1960, é acatado também por seus inimigos, desde os ideológicos até os que combateram contra ele, encurralaram-no e terminaram por lhe dar a morte”.1

“Deram a morte”, no caso, é a pudica e, agora, oficial designação daquilo que não foi senão um assassinato a sangue-frio, cujos responsáveis pessoais ou institucionais (os organismos de “Inteligência” dos Estados Unidos e seus agentes) estão perfeitamente vivos e impunes, gozando até de certa celebridade por seu “feito” – matar à bala um homem ferido e desarmado: “Aqueles que em 1967, com o apoio e sob comando da CIA e do Pentágono, contando com forças cem vezes superiores, perseguiram implacavelmente, até exterminar, a pequena e isolada coluna guerrilheira, hoje querem aparecer como adversários cavalheirescos de uma justa medieval”.2

A imagem do Che, hoje objeto de consumo individual ou religioso – Jon Lee Anderson, um de seus biógrafos recentes, afirma que “a conversão de Che à política se dá como a iluminação de um santo, embora um santo decidido a acabar com quem atravessasse o caminho”3 –, é convenientemente dissociada das ideias políticas do Che, que outro biógrafo, o mexicano Jorge G. Castañeda, descreve como irreais para seu próprio momento, e anacrônicas hoje: “Guevara está totalmente dissociado do significado da ação e do discurso político, das mudanças sociais e da iconografia atual; mas os tempos que evoca formam parte da memória que o mundo cultiva pelos tempos melhores, ainda que estes nunca cheguem”.4

Se tudo isso for verdade, cabe perguntar: por que Guevara foi cruelmente assassinado, com a intervenção direta da CIA, que despachou um agente executor especial, o cubano-“gusano” Félix Ismael Rodríguez, indiciado como a conexão hondurenha de Oliver North no escândalo Irã-Contras? Por que o Che não foi simplesmente preso, usado como símbolo do fracasso da “subversão comunista” e até utilizado pelo governo boliviano como refém e elemento de chantagem contra Cuba, oferecendo a troca de um homem derrotado por presos cubanos contrarrevolucionários? O próprio Castañeda conseguiu estabelecer o engajamento total da CIA na perseguição e assassinato planejados de Guevara, por meio de depoimentos de seus mais altos “dignatários”, junto aos quais Castañeda parece gozar de facilidades de trânsito só comparáveis às que possui junto à esquerda latino-americana.5

Em seu momento, o jornalista Ciro Bianchi Ross especulou sobre as causas da covardia assassina: “Conduzi-lo a La Paz seria uma loucura. Submetê-lo a juízo resultaria contraproducente, porque diante de um tribunal não tardaria em converter-se de acusado em acusador. Encarcerá-lo sem processo judicial tampouco seria aconselhável, pois a opinião mundial intercederia em seu favor. No entanto, mantê-lo vivo constituiria um perigo para o governo boliviano e países vizinhos. Portanto, deviam assassiná-lo”.6

Isso é apenas parte da verdade. O assassinato de Che Guevara (e de Fidel Castro) havia sido decidido institucionalmente como objetivo de Estado pelos Estados Unidos, desde que a Revolução Cubana enveredou pelo caminho do anti-imperialismo consequente e do socialismo. O bem-informado jornalista Tad Szulc confirmou: “Em 1961, pouco após o fracasso da invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, por uma brigada de exilados cubanos patrocinados pelos Estados Unidos, o presidente John F. Kennedy leu o manual de Che Guevara sobre a guerra de guerrilhas. O passo seguinte foi ordenar ao Exército dos Estados Unidos que abrisse uma escola de contrainsurgência em Fort Bragg, Carolina do Norte”.7

Nada há de mais grotesco do que descrever a morte de Guevara como o justo preço pago por seus “erros foquistas”, ou como o fim esperado de alguém que “morreu” vítima de seus próprios métodos. No entanto, esse é o caminho trilhado pelos biógrafos Anderson e Castañeda, os quais, sob o pretexto de “objetividade histórica”, descrevem o Che como “idealista”, mas, ao mesmo tempo, “implacável e impiedoso”. O próprio Tad Szulc pintou-o como uma mistura de Trótski, Robespierre e… Torquemada. Mas o assassinato de Guevara não é comparável com a responsabilidade que lhe coube pela morte de diversos agentes da repressão e torturadores da ditadura de Fulgencio Batista, em Cuba. O espírito revolucionário de Che chamava para si as principais responsabilidades, ao mesmo tempo que era avesso a qualquer forma de vingança.

Depois da fuga de Batista, Guevara tornou-se o comandante de La Cabaña, o principal forte de Havana, e presidiu o julgamento de vários capangas do ditador, 55 dos quais foram executados. Guevara procurou certificar-se de que esses homens eram realmente culpados das brutalidades de que eram acusados. Seus procedimentos judiciais, por mais rudimentares que fossem, impediram o linchamento que, de outra forma, teria sido geral. Para Che, desmantelar a velha máquina militar era condição indispensável para realizar a revolução social.8

A crítica ao foquismo não pode fazer nenhuma concessão à sua caricatura burguesa. Para Guevara, o fator revolucionário essencial não era a “vontade iluminada” de um punhado de homens armados, mas a própria Revolução Cubana, que ele via como início da revolução latino-americana, em que estava objetivamente certo, como os processos revolucionários dos anos 1960 e 1970 comprovaram em El Salvador, República Dominicana, Bolívia, Nicarágua, além das fantásticas insurreições operárias na Argentina, Chile, Uruguai, Peru… Revolução que ele defendeu por sua própria força interna, contra o isolamento a que pretendia confiná-lo o “grande acordo mundial” das superpotências de então, patrocinador da (mal) chamada Guerra Fria, posta em evidência na Crise dos Mísseis de 1962. Che afirmava, então:

Todos conhecem o verdadeiro perigo da Revolução Cubana. Os países mais dependentes e, consequentemente, mais cínicos, falam do perigo da subversão cubana, e têm razão. O maior temor do perigo, entretanto, está em seu exemplo, em sua divulgação revolucionária, em que o governo tem podido perceber o poder deste povo, dirigido por um líder de influência mundial, elevado a alturas poucas vezes vistas na história. […] É o exemplo assustador de um povo que está disposto a imolar-se atomicamente, para que suas cinzas sirvam de amálgama às sociedades novas, e que, quando se chega, sem consultá-lo, a um acordo pelo qual se retiram os mísseis atômicos, esse povo não suspira de alívio, não dá graças pela trégua, mas sai às ruas para fazer ouvir sua voz própria e única; fazer sentir sua posição combatente, própria e única, e sua forte decisão de luta, assim como foi contra todos os perigos e contra a mesma ameaça atômica do imperialismo ianque.9

Na condenação sem apelações da guerrilha – que é apenas um método de luta – esconde-se a tentativa de eliminar a vontade humana como fator consciente capaz de transformar a realidade. Bem mais do que os erros teóricos do foquismo (que foram mais teorizados por Régis Debray do que pelo próprio Che), faltaram a Guevara em sua saída de Cuba, primeiro para o Congo e depois para a Bolívia: a) uma apreciação objetiva das relações políticas de força entre as classes nos países latino-americanos; b) uma apreciação sem ilusões das forças políticas nas quais pretendia apoiar-se para deflagrar o processo revolucionário, especialmente os partidos comunistas (PCs), entre os quais o boliviano, que foi justamente acusado de traição contra a guerrilha de Che pela direção cubana: o próprio Che tinha uma intuição clara, quando pretendia também se apoiar em outras forças políticas, incluindo os trotskistas.10

A ida do Che à Bolívia não se explica por ele ser possuidor de um valor moral diferenciado, um “espírito indomável” único, ou por um “humanismo revolucionário” que lhe seria próprio.11 Segundo alguns autores, teria sido uma saída política para um conflito que o levou a ter diferenças de fundo em relação a distintos setores do antigo PC cubano, o PSP. As divergências referiam-se à subordinação crescente à burocracia da União Soviética, sob pretexto de “ajuda econômica”, quando aquela “vendia petróleo (a Cuba) a preços do mercado mundial, ou seja, fixados pelos grandes monopólios internacionais, preço que comporta uma taxa de lucro muito elevada”.12 O Che denunciou isso sem meias palavras.

Contra a “coexistência pacífica”, Che chamou a criar “dois, três, muitos Vietnãs” e, para a América Latina, a defender a revolução socialista contra a caricatura da revolução. Che também condenou a defesa hipócrita e a ajuda em conta-gotas da União Soviética e da China ao Vietnã em luta contra o imperialismo ianque. Está claro que, como afirma o comandante Benigno (Dariel Alarcón Ramírez, guerrilheiro cubano que acompanhou o Che na Bolívia),

Che tinha um pensamento distinto do resto dos dirigentes […] Isso se revela quando pronuncia o Discurso de Argel. Ali marca sua linha política que é repudiada pelos soviéticos e pelos [países] socialistas […] houve certa pressão dos governos socialistas sobre Castro. Isso obrigou a discussões mais profundas entre Castro e o Che […] Para a União Soviética, Che se converte em um antissoviético. Alguns o qualificam de trotskista ou semelhante. Isso não era do conhecimento do povo cubano, mas sim de alguns dirigentes.13

No entanto, o Che não chegou a elaborar programaticamente suas divergências, dando-lhes tão-somente uma saída empírica (a ação contra a passividade).

Na Bolívia, o Che não se propunha tomar o poder a partir do foco guerrilheiro nem repetir a epopeia do Movimento 26 de Julho em Cuba, mas montar uma base para a atividade revolucionária em diversos países. Na lembrança do comandante Benigno: “Em nossos planos, devíamos terminar o 30 de junho com os bolivianos, os argentinos, os brasileiros e os peruanos, numa primeira etapa, para logo os convertermos em assessores da luta em cada um desses países, como soldados de prontidão”.14 Esses planos fracassaram.

A derrota do Che foi política, não histórica. A crítica de seus erros é tão vital para o movimento dos trabalhadores e da juventude quanto a preservação de sua memória revolucionária. Esta deve ser defendida hoje contra seu segundo assassinato, promovido pelos que querem transformá-lo no portador de uma “moral utópica” e anacrônica, num “mito” suscetível de virar uma grife, em vez do homem que entregou sua vida à luta pela revolução socialista latino-americana e internacional, deixada pendente por uma história, nada mitológica, que está bem longe de sua conclusão.      

Publicado originalmente como prefácio em Luiz Bernardo Pericás. Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia (São Paulo, Xamã, 1997).     

Notas
1 Rogélio García Lupo, “Un símbolo que maduró con el tiempo”, Clarín, Buenos Aires, 13 jul. 1997, p. 7.
2 Andrés Roldán, “Che Guevara”, Prensa Obrera, Buenos Aires, n. 548, 17 jul. 1997, p. 4.
3 Jon Lee Anderson, Che Guevara: uma biografia (trad. M. H. C. Côrtes, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1997).
4 Jorge G. Castañeda, “El Che aún guarda enigmas”, Clarín, Buenos Aires, 24 dez. 1995, p. 22. 
5 Idem, Che Guevara: uma vida em vermelho (trad. Bernardo Joffily, São Paulo, Companhia das Letras, 1997).
6 Ciro Bianchi Ross, citado em Alejandro Torres Rivera, “Che el combatiente”, Pensamiento Crítico, San Juan de Puerto Rico, n. 84, out. 1996, p. 95.
7 Entrevista com Tad Szulc, Folha de S.Paulo, São Paulo, 4 maio 1997, p. 9. 
8 Robin Blackburn, “Che Guevara at the Crossroads”, The Guardian, Londres, 15 jun. 1997, p. 14.
9 Ernesto Guevara, citado em Rodrigo Gicés, Che Guevara: el hombre nuevo (Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1971).
10 Luis Bruschtein, Che Guevara (Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1973), p. 23.
11 Michael Löwy, “O humanismo revolucionário de Che”, Em Tempo, São Paulo, n. 221, out. 1987, p. 16.
12 Jacques Valier, “Cuba 1968-1971: le développement des déformations bureaucratiques et des difficultés économiques”, Critiques de L’Économie Politique, Paris,n. 6, jan./mar. 1972, p. 139.
13 Dariel Alarcón Ramírez, entrevista, La Prensa, Buenos Aires, 29 jun. 1997, p. 33.
14 Dariel Alarcón (Benigno), “La guerrilla en Bolivia no era el objetivo del Che”, Clarín, Buenos Aires, 24 dez. 1995, p. 25.

Referências
ALARCÓN, Dariel. Entrevista, La Prensa, Buenos Aires, 29 jun. 1997, p. 33.
ALARCÓN, Dariel. La guerrilla en Bolivia no era el objetivo del Che. Clarín, Buenos Aires, 24 dez. 1995, p. 25.
ANDERSON, Jon Lee. Che Guevara: uma biografia. Trad. M. H. C. Côrtes, Rio de Janeiro, Editora Objetiva, 1997.
BLACKBURN, Robin. Che Guevara at the Crossroads. The Guardian, Londres, 15 jun. 1997, p. 14.
BRUSCHTEIN, Luis. Che Guevara. Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1973.
CASTAÑEDA, Jorge G. Che Guevara: uma vida em vermelho.Trad. Bernardo Joffily, São Paulo, Companhia das Letras, 1997.
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GICÉS, Rodrigo. Che Guevara: el hombre nuevo. Buenos Aires, Centro Editor de América Latina, 1971.
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VALIER, Jacques. Cuba 1968-1971: le développement des déformations bureaucratiques et des difficultés économiques. Critiques de L’Économie Politique, Paris,n. 6, jan./mar. 1972.


Che Guevara foi umas das mais importantes personalidades políticas do século XX. Após lutar no Congo, combateu na Bolívia, onde já estivera em sua juventude, em meados de 1953. Em 8 de outubro de 1967, foi capturado por uma unidade dos rangers locais (treinados por instrutores militares norte-americanos) e, no dia 9, assassinado no pequeno povoado de La Higuera.

Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, do historiador Luiz Bernardo Pericás, é uma investigação profunda e detalhada sobre os aspectos da vida política, econômica e social da Bolívia nos anos 1960 e a guerrilha naquele país. Com ampla bibliografia atualizada e rigor acadêmico, o autor discute a trajetória do Che na luta guerrilheira na Bolívia, a partir de entrevistas com camponeses, políticos e intelectuais bolivianos (incluindo um militar, o general Gary Prado, na época dos acontecimentos ainda capitão e o oficial responsável pela captura do Che), livros e documentos (alguns dos quais, inéditos no Brasil).

A obra também perpassa um contexto mais amplo, como o período em que Guevara esteve no Congo, o tempo que passou na clandestinidade na Tanzânia e Tchecoslováquia, seu retorno a Cuba, seu treinamento na ilha e sua ida à Bolívia. O texto é também rico em detalhes sobre a atuação do Exército de Libertação Nacional (ELN). Conta ainda com capítulos que narram o que aconteceu com os diários do Che após sua execução e a continuidade da luta revolucionária (guerrilha de Teoponte). Nos anexos, o leitor encontrará vasta documentação relacionada ao tema.

Veja o debate de lançamento de Che Guevara e a luta revolucionária na Bolívia, com Luiz Bernardo Pericás, Antonio Carlos Mazzeo, Fernando Garcia e mediação de Cecília Brancher, na TV Boitempo:

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Osvaldo Coggiola é professor titular de história contemporânea da Universidade de São Paulo. Nascido na Argentina, é autor, entre outros livros, de Teoria econômica marxista: uma introdução, e organizou a edição da Boitempo do Manifesto comunista de Karl Marx e Friedrich Engels. Colaborador da revista semestral da Boitempo, a Margem Esquerda, também tem textos publicados nos livros Curso Livre Marx-Engels, organizado por José Paulo Netto e István Mészáros e os desafios do tempo histórico, organizado por Ivana Jinkings e Rodrigo Nobile. 

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