Junho de 2013: a rebelião fantasma

Isabela Kalil comenta a obra "Junho de 2013: a rebelião fantasma", organizada por Breno Altman e Maria Carlotto: "Um livro importante para entender um dos momentos mais marcantes da história recente do Brasil, além de refletir sobre a importância da mobilização social e política na transformação da sociedade."

FOTO: MAIKON NERY

Por Isabela Kalil

Em Junho de 2013: a rebelião fantasma, somos levados de volta a um momento crucial da história recente do Brasil. Os autores nos conduzem a uma jornada instigante e esclarecedora pelos protestos que abalaram o país naquele mês inesquecível. O livro convida-nos a revisitar um evento histórico e refletir sobre as transformações desencadeadas a partir das mobilizações contra o aumento da tarifa de transporte urbano em 2013.

Entender as transformações na sociedade brasileira a partir daqueles protestos tornou-se uma questão complexa para estudiosos e analistas. Por um lado, é possível visualizar um caráter progressista nesses eventos; por outro, pode-se entendê-los como parte de uma virada conservadora e autoritária. Um dos desafios para se compreender o ciclo de protestos de junho é considerar seu caráter híbrido e contraditório. Eis um ponto forte deste livro: apresentar diferentes vozes, pontos de vista e perspectivas para esse debate.   

A obra oferece uma análise das circunstâncias históricas, sociais e políticas que levaram às manifestações nas ruas, onde milhares de brasileiros reuniram-se em protestos que ecoaram suas insatisfações, esperanças e anseios por mudanças. Aborda também o desenvolvimento e a disseminação de atos pelo país, bem como as estratégias de mobilização utilizadas pelos manifestantes e a resposta das autoridades. Os autores discutem as pautas, tensões e conflitos que surgiram durante os protestos, além do papel da mídia no enquadramento desses eventos.

Por fim, Junho de 2013: a rebelião fantasma é um livro importante para entender um dos momentos mais marcantes da história recente do Brasil, além de refletir sobre a importância da mobilização social e política na transformação da sociedade. Oferece uma análise rica e multifacetada dos protestos e seus desdobramentos. É uma obra indispensável para quem quer compreender melhor o Brasil contemporâneo e os desafios do presente para a reconstrução da sociedade brasileira.


A rebelião de 2013 chegou sem aviso prévio. Afinal, a economia emitia sinais de prosperidade, com taxa de crescimento. Mas em junho daquele ano, gigantescas multidões tomaram as ruas das principais cidades. O que havia começado como um movimento contra o aumento das passagens de ônibus se transformou em uma insurgência que sacudiria a vida política do país.

Entender o que havia ocorrido se tornou um dilema para estudiosos e agentes políticos. Era necessário compreender os impactos daqueles acontecimentos sobre o processo político dos anos seguintes. Após dez anos, é possível traçar um diagnóstico daquele momento? As manifestações foram uma explosão popular autônoma? É possível afirmar que Junho de 2013 contribuiu para o aumento e consolidação da extrema direita nas esferas de poder do país?

Essas e outras perguntas servem de bússola para os nove artigos e o ensaio visual que compõem a obra Junho de 2013: a rebelião fantasma, organizada por Breno Altman e Maria Carlotto. Além de textos dos organizadores, o livro traz contribuições de Camila Rocha, Jones Manoel, Lucas Monteiro, Mateus Mendes, Paula Nunes, Raquel Rolnik, Roberto Andrés e Vladimir Safatle, prólogo da ex-presidenta Dilma Rousseff, além de fotografias das manifestações feitas por Maikon Nery e texto de orelha de Isabela Kalil. Com diferentes perspectivas, os autores buscam desvendar aquele momento, que se tornou uma das maiores ondas de mobilização social dos últimos anos. A obra tem apoio da Fundação Friedrich Ebert Brasil.


DAS CIDADES REBELDES À REBELIÃO FANTASMA

Das cidades rebeldes à rebelião fantasma, a nova série de lives da TV Boitempo analisará os 10 anos das manifestações que tomaram as ruas do Brasil e seus legados. O lugar das esquerdas, a ascensão da extrema-direita, a disputa de narrativas, a questão urbana, a participação do precariado e o fortalecimento do movimento negro serão debatidos por autores das coletâneas Cidades rebeldes, publicada ainda quando se desenrolavam as manifestações em 2013, e Junho de 2013: a rebelião fantasma, um balanço dos acontecimentos uma década depois.

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Isabela Kalil é mestre e doutora em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP). Docente da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), onde coordena o LED (Laboratório de Etnografia Digital) com pesquisas sobre manifestações políticas no espaço público e no ambiente digital, gênero, conservadorismo, extrema direita, teorias conspiratórias e desinformação

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