Succession: coroa ou guilhotina?
Veremos se haverá coroação no próximo domingo, ou se o reino será queimado por uma invasão de descontentes prontos para queimar o palácio e guilhotinar a família real.
Por Janaina Tokitaka
Desde criança gosto de histórias sobre reis e famílias reais. Elas sempre dão certo em folhetins, dos romances de cavalaria do Rei Arthur até as versões contemporâneas como The Crown. Sopranos é minha série preferida até hoje e vem dessa matriz narrativa, a trilogia Godfather também e Succession nada mais é do que a história de um Rei que está morrendo. Um bom Rei sabe que o Reino está acima de sua vida. Logan Roy (a raiz etimológica de Roy é rei) é um mau Rei. Um Rei extremamente poderoso, mas tirano. Ao entender seus filhos como ameaças à sua vida e juventude, como competição, ele os ensina a ser exatamente isso e assim a profecia se cumpre.
Kendall, como bom filho arquetípico, sonha em ser seu pai. Roman só quer o amor de Logan. Sua sede por poder vem mais de uma vontade de se provar digno desse amor do que pelo poder em si, do qual logo se cansaria e abandonaria. Shiv no fundo sabe que não está jogando o mesmo jogo dos irmãos – não é homem, não poderia ser herdeira legítima e essa regra extremamente implícita é veladamente entendida por todos. A figura mais patética, Connor, vive em um mundo de faz de conta assombrosamente sustentado pelo poder do dinheiro. Connor se casa com a mulher que escolhe, concorre à presidência e segue brincando de ser o que quiser sem que a realidade o confronte.
Em comum aos candidatos ao trono, vemos que eles são superfície, mímicos do pai e de seu universo. Falam e se vestem como poderosos, mas não são. Cresceram à sombra e não puderam ser. Um bom rei escolhe e prepara seu sucessor, entendendo que deste ato dependerá a sobrevivência do reino. Logan Roy não quis acreditar que morreria, mas um Rei não é um Deus. Na elegia do último episódio de domingo, fica subentendido que Logan Roy era legitimamente poderoso. Ou seja: que de fato ele era competente, que havia algo de especial dentro de si. Eu, que gosto de histórias de reis, mas sou contra qualquer tipo de monarquia, adoraria ver essa farsa desmontada e entender que Logan Roy era tão vazio quanto seus filhos. Veremos se haverá coroação no próximo domingo, ou se o reino será queimado por uma invasão de descontentes prontos para queimar o palácio e guilhotinar a família real.
O deus dinheiro, de Karl Marx ilustrado por Maguma
Em O deus dinheiro, o artista espanhol Maguma cria um mundo surreal alimentado pelo desejo insaciável do consumismo, baseado no conto bíblico da Queda e em extratos dos Manuscritos econômico-filosóficos, escrito por Karl Marx em 1844. À época, Marx era um jovem contestador e crítico de um ainda emergente mundo de ganância e consumo desenfreado.
O dinheiro, de Émile Zola
O dinheiro aborda a especulação financeira na época em que Paris operava uma das maiores bolsas de valores do mundo. A obra traz muitas similaridades com o mundo contemporâneo com enredos que envolvem crise bancária e financeira, práticas ilícitas, manipulação da imprensa, política, poder e sexo.
O capitalismo como religião, de Walter Benjamin
Organizado e introduzido pelo sociólogo Michael Löwy, o livro traz textos surpreendentes, em particular os ditos de juventude, que vêm à tona com a liberação da obra benjaminiana para o domínio público. Löwy reuniu escritos de Benjamin inéditos em português ou difíceis de consultar, que contêm, em graus variados, uma crítica radical da civilização capitalista-industrial moderna.
No entanto, ela se move: a crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismoa crise de 2008 e a nova dinâmica do capitalismo, de Iuri Tonelo
Neste livro, o sociólogo Iuri Tonelo acompanha os desdobramentos e as rupturas do capital, a partir da crise econômica de 2008, que levaram a uma nova fase do capitalismo pós-2016. A obra não se limita, porém, ao terreno da análise econômica e busca desvendar as relações entre política, economia e luta de classes estabelecidas na última década, desde a crise que acertou o coração do sistema financeiro.
Televisão: tecnologia e forma cultural, de Raymond Williams
O livro ajuda a tirar do lugar-comum o debate político-cultural candente em que a televisão muitas vezes figura isoladamente como vilã. Em Williams, a televisão é tratada com rara sensibilidade crítica e desprovida de preconceito.
Mídia, poder e contrapoder: da concentração monopólica à democratização da comunicação, de Dênis de Moraes, Ignacio Ramonet e Pascual Serrano
Organizada por Moraes, a obra reúne seis textos que fazem uma reflexão crítica sobre o poder mundial da mídia, a cultura tecnológica, a comunicação globalizada, o jornalismo contra-hegemônico em rede, as políticas públicas de direito à comunicação e a democratização da informação na América Latina.
Videologias: ensaios sobre televisão, de Eugênio Bucci e Maria Rita Kehl
Com prefácio da professora de filosofia da USP Marilena Chaui, Videologias está dividido em cinco partes que tratam do desafio da crítica televisiva; da relação entre TV e violência; das tênues fronteiras entre telejornalismo e teledramaturgia; do fenômeno dos reality shows e o voyerismo; e do impacto da TV na política e no espaço público brasileiro, particularmente o da Rede Globo. Traz ainda uma proposta política de dez ‘direitos do telespectador’.
Mal-estar, sofrimento e sintoma: uma psicopatologia do Brasil entre muros, de Christian Dunker
Unindo teoria social e psicanálise, o autor conclui que a privatização do espaço público transforma a própria vida em formas de condomínio, com seus regulamentos, síndicos, gestores e muros: o sonho brasileiro de consumo elevado a paradigma da forma de vida hegemônica no imaginário nacional.
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Janaina Tokitaka é bacharel em artes visuais pela Universidade de São Paulo (USP), escritora e roteirista. Começou sua carreira como escritora quando publicou seu primeiro álbum ilustrado, Tem um monstro no meu jardim (Escrita Fina, 2010). Desde então, publicou quarenta outras obras para o público infantojuvenil. É criadora e roteirista chefe de Mila no Multiverso (Disney Plus) e roteirista de De volta aos 15 (Netflix). Pela Boitempo, lançou Pode pegar! (2017) e Fala baixinho (2020).
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