Cultura inútil | Mesquinharias da vida alheia… isso é que interessa?

De Carlos Drummond de Andrade a Chico Xavier, passando por Bob Marley, Tati Bernardi e Jorge Amado, Mouzar Benedito faz uma seleção de frases sobre o interesse pela vida alheia.

IMAGEM: COLAGEM DE @GABECOLLART

Por Mouzar Benedito

Tem gente – e muita! – que parece se interessar mais pela vida alheia, principalmente os “defeitos” dos outros, do que por sua própria vida. Esparramam algumas verdades ou muitas falsidades sobre os outros, sempre num tom maledicente. Fazem fofoca direto. Resolvi inverter a coisa: falar mal dessa gente. Começo pelos sinônimos do que fazem: fofoca, maledicência, boato, toada, falácia, fosquinha, falatório, parlatório, mexerico, resenha, ruge-ruge, trica, futrica, onzenice, urdimaço, enredo, fofocagem, sussurro, murmúrio, chocalhice, balela, detratação, disse-se me disse, dixe-me dixe, intriga, díxeme, urdimaça, ouvi dizer, chocalhice, zum-zum, a voz pública, fuxico, coscuvelhice, corrilho, bisbilhotice, tagarelice, vitupério, tecedura,  besouragem…

E o adjetivo para eles? Aí vão alguns: fofoqueiro, cesta-rota, zizaneiro, gazeteiro, saco-roto, onzeneiro, tagarela, calhandeiro, coscuvilheiro, boateiro, novidadeiro, chocalheiro, chocalho, intriguista, bisbilhoteiro, novelista, cavaqueador, tesoura, murmurador, mexeriqueiro, assacador de aleives, cavilador, maldizente, detrator, aleivoso, vilipendioso, mordente, injurioso, pechoso, vipério, sardônico, insidioso, introsca, enxerido, espora, leva e traz, de língua viperina, fuxiqueiro, futriqueiro, arengueiro, turgimão, porta-novas…

Mas tem quem gosta de ser fofocado. Artistas, por exemplo, principalmente uns que não são tão bons e esperam ganhar fama sendo fofocados, até reivindicam: “Falem mal, mas falem de mim”. Não é à toa que sempre existiram fofoqueiros profissionais, comentando a vida de artistas em revistas, jornais, emissoras de rádio ou de TV. E tem público pra isso. Acho que é coisa de gente de vida bem medíocre que alimenta sua mediocridade se interessando por mesquinharias da vida alheia.

Num dos muitos desempregos meus, apareceu a chance de trabalhar um mês, cobrindo férias de um jornalista, numa revista semanal dedicada a futilidades do meio artístico e à vida de “famosos”, às vezes nem tão famosos. Fiquem brabas, feministas (com razão): revistas desse tipo eram chamadas de “femininas”.

No meu primeiro dia de trabalho, o assessor de imprensa de um ator de novelas da Globo, de quem eu nunca tinha ouvido falar, ligou para lá e eu atendi. O cara disse o seguinte: “O fulano está reclamando que faz uns três meses que vocês não falam nada dele. Se quiserem, passo umas fofocas pra vocês. Podem falar mal”.

Eu me espantei, mas nos dias seguintes vi que isso era uma rotina ali. Um casal de apresentadores de telejornais foi além. O assessor de imprensa deles me disse no telefone: “O fulano e a beltrana vão passar uma tarde na praça Vilaboim. Vão passar na banca de revistas e depois tomar um café na padaria em frente. Se vocês derem capa pra eles, eles dão exclusividade para vocês”. Achei ridículo, mas passei a ligação para o editor da revista, achando que ele mandaria o cara à merda. Duas semanas depois a capa da revista trazia o casal folheando revistas na banca e, nas páginas internas, fotos deles tomando café na padaria e o texto com algumas fofocas, como se eles tivessem sido encontrados ali por acaso, por algum paparazzi – termo utilizado para fotógrafo que vive perseguindo “celebridades” para fazer fotos inéditas delas e vender a revistas e jornais desse tipo.

Enfim, a sociedade do espetáculo incorporou a fofoca. Quando algum artista (ou mesmo esportista) gosta de ser notícia de qualquer jeito e vai caindo no anonimato, inventa qualquer coisa para aparecer. Anuncia que se separou ou vai se separar, que virou gay, que desvirou, que está tendo um caso com não sei quem… e tem quem noticie essas bobagens, e tem (antes nessas revistas, agora nas redes sociais) também público pra isso, repito.

Ah… mas meu trabalho tinha a ver com isso: a revista trazia oito páginas de fotos “flagradas” por paparazzi, de preferência mostrando alguma coisa meio safada. Uma artista casada beijando apaixonadamente alguém que não é seu marido, era um prato cheio. Eu tinha que pôr legenda nas fotos e algum texto malicioso. Mas vi que essas fotos nem sempre eram obtidas por perseguição dos fotógrafos. Muitas eram combinadas.

Terminado meu mês de trabalho, o editor veio me propor que cobrisse mais um mês de férias, de outro jornalista. Não topei. Procurando não o ofender, falei mais ou menos isso: já fiquei sabendo tudo o que precisava deste tipo de revista.

Bem… muita gente falou de interesse pela vida alheia, fofocas e termos afins. Vamos a frases desse pessoal:

Carlos Drummond de Andrade: “Não preciso de dez mandamentos para viver, me basta só um: não interferir na vida dos outros”.

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Erich Fromm: “Interferir na vida dos outros nos alivia das nossas próprias dúvidas”.

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Steve Jobs: “Seu tempo é limitado. Então não fique vivendo a vida dos outros”.

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Paulo Coelho: “Não devemos julgar a vida dos outros, porque cada um de nós sabe sua própria dor e renúncia. Uma coisa é você achar que está no caminho certo, outra é achar que seu caminho é o único!”.

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Oscar Wilde: “Egoísmo não é viver à nossa maneira, mas desejar que os outros vivam como nós queremos”.

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Millôr Fernandes: “Vocês não sabem como é divertido o absoluto ceticismo. Pode-se brincar com a hipocrisia alheia como quem brinca com a roleta russa com a certeza de que a arma está descarregada”.

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Millôr, de novo: “Quando todo mundo quer saber é porque ninguém tem nada com isso”.

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Mário Quintana: “O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso”.

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Bertand Russell: “Ninguém fofoca sobre as virtudes secretas das outras pessoas”.

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Provérbio coreano: “Palavras não possuem asas, mas podem voar milhares de milhas”.

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Provérbio espanhol: “Quem quer que fofoque para você irá fofocar sobre você”.

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Camilo Castelo Branco: “O ciúme vê com lentes, que fazem grandes as coisas pequenas, gigantes os anões, verdades as suspeitas”.

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Nelson Rubens: “Se não fosse a fofoca, muitos artistas talentosos não estariam no pedestal”.

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Brigid Brophy: “Quando alguém lhe contar o que andam dizendo de você, conte a essa pessoa o que falam dela. Isso resolve a questão”.

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Jean Ronstand: “Um amigo é a pessoa a quem mais se dá crédito quando fala mal de nós”.

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Gandhi: “Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga a nossa vida”.

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Ditado popular: “Pela boca morre o peixe”.

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Tati Bernardi: “Se for falar mal de mim me chame, sei coisas terríveis a meu respeito”.

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Marquês de Maricá: “Os maldizentes, como os mentirosos, acabam por não merecer crédito ainda que digam verdades”.

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Elvis Presley: “Fofocas são apenas palavras pequenas vindas de mentes pequenas”.

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Nelson Mandela: “Fofocar sobre os outros é certamente um defeito, mas é uma virtude quando aplicada a si mesmo. Questione-se sempre”.

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Blaise Pascal: “Poucas amizades subsistiriam se cada um soubesse aquilo que o amigo diz de si nas suas costas”.

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Jorge Amado: “A sorte me acompanha, tenho o corpo fechado à inveja, a intriga não me amarra os pés, sou imune ao mau olhado”.

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François de La Rochefoucauld: “Há quem prefira falar mal de si mesmo a não falar”.

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Provérbio judaico: “O que você não vê com os seus olhos, não testemunhe com a sua boca”.

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Voltaire: “Aqueles que não conseguem vencer na vida, vingam-se falando mal dela”.

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Caio Fernando Abreu: “As pessoas falam coisas, e por trás do que falam há o que sentem, e por trás do que sentem há o que são e nem sempre se mostra”.

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Martha Medeiros: “Ficar amarrado à vida alheia faz você viver menos a sua”.

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Jacinto Benavente y Martinez: “Ninguém aprende a viver pela experiência alheia; a vida seria ainda mais triste se, ao começarmos a viver, já soubéssemos que viveríamos apenas para renovar a dor dos que viveram antes”.

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Confúcio: “Exige muito de ti e espera pouco dos outros. Assim, evitarás muitos aborrecimentos”.

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Confúcio, de novo: “O homem superior atribui a culpa a si próprio; o homem comum, aos outros”.

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Charles Bukowski: “Acho que a gente devia encher a cara hoje, depois a gente fala mal dos inúteis que se acham superimportantes”.

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Marguerite Yourcenar: “A vida alheia nos parece sempre mais fácil porque não é vivida por nós”.

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Chico Buarque: “Eu gostava de falar mal do governo quando os jornais não o faziam”.

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Bob Marley: “Seja feliz do jeito que você é, não mude sua rotina pelo que os outros exigem de você, simplesmente viva de acordo com o seu modo de viver”.

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Fernando Pessoa: “Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também”.

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Ditado popular: “Mulher de janela fala de todos e todos dela”.

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Sêneca: “Não se pode acreditar que é possível ser feliz procurando a infelicidade alheia”.

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Wilhelm Leibniz: “Amar é encontrar a própria felicidade na felicidade alheia”.

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Miguel Unamuno: “Ler, ler, ler… viver a vida que outros sonharam”.

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Provérbio ugandense: “O macaco que vai atrás ri do rabo do macaco que vai à frente”.

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Leon Tolstói: “Falar mal dos outros agrada tanto às pessoas que é muito difícil deixar de condenar um homem para comprazer os nossos interlocutores”.

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Rousseau: “Não julgue e você nunca estará errado”.

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Leandro Karnal: “Pessoas elevadas falam de ideias; pessoas medianas falam de fatos; pessoas vulgares falam de pessoas”.

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Chico Xavier: “Se nos julgamos melhores que os outros, por que esperamos deles melhores atitudes que as nossas?”.


O Boitatá e os boitatinhas

Em O Boitatá e os boitatinhas, Mouzar Benedito questiona o “progresso” que destrói a natureza e expulsa as comunidades tradicionais. As ilustrações vibrantes de Hallina Beltrão mostram aos pequenos leitores os encantos da fauna e flora.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.

1 comentário em Cultura inútil | Mesquinharias da vida alheia… isso é que interessa?

  1. Bom dia!
    Gosto de ler seus textos. São divertidos e instigantes. Parabéns. Abraços

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