O ódio ao intelectual
Ao ser revelada a tensão, o ódio ao intelectual não encontra justificativa. Comezinho, ele replica apenas a impotência diante do pensamento que se pensa para além do que está posto. Esse ódio cede espaço rapidamente ao anti-intelectualismo e encontra muita aceitação entre os crentes de ideologias mil. O discurso e prática anti-intelectuais, reativos hoje, renegam inclusive a possibilidade de que estudantes negros e pobres possam se tornar intelectuais.
ILUSTRAÇÃO: BEPPE GIACOBBE
Por Douglas Rodrigues Barros
“Sabemos muito bem como vivemos à parte”, essas palavras de Nietzsche, um ano antes de sucumbir à loucura, podem descrever a situação de expatriado do intelectual. Não se trata apenas de não pertencer a grupos de afinidades, trata-se mais de um não-querer-pertencer. Uma recusa inconsciente já que uma de suas tarefas é colocar em suspensão saberes comunitários. A verdade da autoridade, mantida pelo grupo, cede então espaço para a verdade conquistada no e pelo debate de ideias. Trabalho não reconhecido e muitas vezes, não sem razão, odiado, já que o intelectual joga sempre água no chope da convicção. Diluindo laços de afinidades, ele expõe assim a fragilidade comunitária.
O ódio ao intelectual é um fato em todas as modernas sociedades onde reina o modo de produção capitalista. Mas, sejamos honestos, não apenas nela. Pensemos apenas num dos casos mais famosos: o caso de Boris Pasternak.1 O trabalho intelectual é visto com desconfiança, rispidez e, invariavelmente, indiferença. A sua reprodução como figura caricata foi imposta pelo cinema hollywoodiano: soturno, silencioso, míope e às vezes um maluco lutando contra um jovem herói. Este último, medíocre em raciocínios, mas grandioso em ações de combate, o que desperta a identificação imaginária da impotente plateia.
O próprio intelectual é um produto da sociedade capitalista. Quem sabe alguém que escapou do cercadinho da especialização e se livrou da limitação de ser um técnico do saber prático? Alguém que escapou de se tornar Le chien de garde, como dizia Paul Nizan. Lembro-me, por exemplo, dos dengosos planos do jovem Marx: casar-se com uma aristocrata, ter filhos e ser um catedrático em Bonn. Bons planos já que garantiriam um château margaux uma vez por ano, charutos à vontade e sossego para fazer exegese dos textos de Hegel. Quis o destino, porém, o contrário. Soubesse Frederico Guilherme IV que sua proibição da filosofia de Hegel radicalizaria os jovens hegelianos e que alguns deles – não mais que um punhado, é verdade – acordariam do idealismo para encampar a mais grave crítica ao novo modo de vida social (burguês) que então emergia naquela atrasada Alemanha ainda fragmentada e absolutista – é provável que deixasse Bruno Bauer, mentor do grupo, quietinho fazendo suas tão ácidas quanto inofensivas interpretações dos textos bíblicos. Espalhados pela Europa, porém, os jovens hegelianos encarnariam uma tensa e intensa luta para desnudar o novo modo de produção e reprodução social. E aqui, falo da turma toda: Bakunin, Tchernichevski, Karl Marx, Engels, etc.
Com certeza, esses intelectuais revolucionários se enquadram na defesa da “categoria” que Sartre fará 123 anos depois. “Vocês dizem que eles são feitos para conservar e transmitir a cultura, são, portanto, em essência, conservadores, mas que eles se enganaram quanto a seu ofício e papel e se tornaram críticos […]”, disse o filósofo sobre o papel dos intelectuais, para então concluir: “o que não seria tão grave se não tivessem enganado o povo […]” (SARTRE, 1994, p.21). Esse lugar da maldição, ou do bode expiatório, ao mesmo tempo que superestima também subestima o papel do intelectual. Ou conservador ou revolucionário, ele permanece nesse não-lugar figurando uma tensão entre a ideologia e o ofício do saber.
Sendo, portanto, fruto da sociedade moderna, aquela que organizou a moderna divisão do trabalho, o intelectual geralmente advém do conjunto dos técnicos do saber prático, definição dada por Sartre àqueles que se especializam buscando lugar ao sol do emprego moderno. Esse saber prático, não obstante, foi consolidado na luta que a burguesia estabeleceu contra o feudalismo e que construiu a ideologia cientificista apoiada na razão analítica (SARTRE, 1994, p.22). Com esmerada lucidez, o filósofo francês demonstra por A+B que os técnicos são fruto das relações de classe e da finalidade burguesa que não almeja outra coisa senão o lucro. É a classe dominante, aliás, quem decide o número de seus técnicos. A tecnização do saber é, por isso, definida de cima e a especialização uma ambição sempre presente para consolidação do status quo.
Os técnicos do saber, portanto, são ao mesmo tempo especialistas e servos da hegemonia. Nesse sentido, o papel da ideologia cientificista não pode ser ignorado: na tentativa de conservar o humanismo burguês, a ideologia burguesa é justificada. O universal se torna propriedade e o sujeito se torna o capitalismo que ultrapassa qualquer fronteira. Como encerra Sartre ao pensar sobre o papel dos psiquiatras para justificar o colonialismo: eles “fizeram trabalhos, tidos como rigorosos, para estabelecer a inferioridade dos africanos quanto à anatomia e à fisiologia de seus cérebros… outros trabalhos estabeleciam da mesma maneira a inferioridade das mulheres: a humanidade era feita de burgueses brancos e homens” (SARTRE, 1994, p.23). A esse instinto de teólogo da ordem, advindo dos técnicos – hoje especialistas se quisermos – é preciso fazer guerra. Com a consciência comprada à luz do dia, a verdade do especialista vai se encaixar na definição de Paul Nizan – feita em 1932: “ela serve a tudo, é boa para tudo, é dócil a tudo; esta fêmea passiva acasala com qualquer um. Inteligência útil à verdade, à falsidade, à paz, à guerra, ao ódio, ao amor” (NIZAN, 1960), ou seja, ao gosto do freguês.
O leitor mais atento já deve ter concluído o que eu espero: o técnico é hoje confundido invariavelmente com o intelectual. A diferença reside no fato de que enquanto o técnico do saber está atrelado à finalidade do emprego e da eficiência do serviço, o intelectual no emprego do saber toma consciência da limitação ideológica e passa a combatê-la. O técnico especialista, visto por Nizan como cão de guarda, não rompe com sua classe, pelo contrário se aferra de todas as formas possíveis para assegurar seu imaginado prestígio ante às classes subalternas. É claro que todo técnico é potencialmente um intelectual, mas a diferença reside no fato de que o intelectual toma consciência da oposição entre a busca da verdade e a ideologia dominante. O intelectual toma consciência da falsa universalidade praticada em nome da particularidade burguesa e do seu sistema reprodutor de mercadorias. Suprima daí o suspiro, é claro que há intelectuais cínicos, estes são os intelectuais de direita ou conservadores.
Roger Scruton é um célebre exemplo kitsch deste tipo. Convido o desocupado-leitor a assistir uma filmagem alemã, igualmente kitsch, intitulada “O Belo e a consolação”. Nela este paladino da extrema-direita contemporânea se expõe ao ridículo ao ir caçar lebre – ironicamente não conseguiu matar a lebre e voltou de mãos abanando num sorriso sem graça. A despeito do ridículo kitsch de Scruton, para o tolerante observador fica factível a consciência que Scruton tem ante a falsidade do discurso burguês contemporâneo, mesmo sendo um cínico, ele usa Heidegger para reivindicar a terra e os valores da tradição – como a caça.
Seja como for, o intelectual é este que tomou consciência da tensão existente entre a verdade de sua tarefa com relação ao saber e à ideologia dominante. Por exceder sua função, atribuída pela especialização escolhida para trabalhar, o intelectual acaba por suspender as acomodações que sustentam os espaços sociais ditados pelas classes dominantes. É justamente isso que torna sua posição vítima de ressentimentos díspares: a posição do intelectual é a de não-lugar de fala. Ele só pode ser pela sua atividade de crítica e de não aderência às ideologias, aos lugares sociais definidos pela ordem ou aos discursos. É concebido então como uma figura que não está nem totalmente dentro e nem totalmente fora dos espaços de organização da vida comum. O incômodo surge porque ele fala em nome dos ideais que são transversais a todos. Por sua posição “especial”, ou maldita, ele atua como uma voz fora-de-lugar, e que deve ser ouvida ou silenciada.
Muitos apoiam a tese de que a importância dessa voz sem lugar se ergue pela primeira vez durante o caso Dreyfus por meio do chamado de Zola. Em 13 de janeiro de 1898, Émile Zola escreve um manifesto chamado J’Accuse em que não só defendia abertamente o judeu Dreyfus das acusações de traição à pátria – acusações cujo viés era claramente antissemita – como acusava nominalmente juízes e generais envolvidos no caso. Na abertura desse artigo explosivo, temos condensada a atividade do intelectual público sintetizada na célebre frase: “meu dever é de falar, não quero ser cúmplice. Minhas noites seriam atormentadas pelo espectro do inocente que paga, na mais horrível das torturas, por um crime que ele não cometeu” (ZOLA, 2007). Alfred Dreyfus era capitão da artilharia francesa, tornou-se réu após ser acusado como informante dos alemães, foi condenado à prisão perpétua e só teve o caso revisto após a manifestação pública de Zola, de Anatole France e do poeta Charles Péguy.
O dever de falar “para não ser mais cúmplice” seguiu sendo a sina do intelectual desde então. Já não podendo ficar passível no trabalho que conquistou, com anuência da seletiva classe dominante, efetua outro trabalho que é o desnudamento da própria ideologia e das misérias sociais. Uma curiosidade válida: Adorno, no parágrafo 84 da Minima moralia, por outro caminho que não o meu, vai desnudando como o trabalho do intelectual “é prazer ainda no esforço mais desesperado” (ADORNO, 1981, p. 132). Sem distinguir o trabalho do técnico do saber daquele realizado pelo intelectual, Adorno nem por isso deixa de enfatizar o quanto “até as chamadas profissões intelectuais surgem de todo desprovidas de prazer pela sua semelhança com o comércio” (ADORNO, 1981, p. 132). Quer dizer, o alemão já apreende ali a tecnização do saber intelectual monopolizado pela especialização. Imaginem se ele fosse contemporâneo do capitalismo acadêmico brasileiro atual.2
O lugar de classe do intelectual no Brasil
Uma vez que nos cercamos de uma conhecida definição do que é ser intelectual, cumpre refletir sobre o ódio que a ele é dirigido no Brasil. Para tanto, é preciso concluir: primeiro, há uma radical dificuldade em separar o intelectual do técnico, e; depois é preciso levar em consideração o corte de classe da categoria. A situação do Brasil é peculiar frente à radical desigualdade e recente atenção devotada às universidades. Para se ter uma ideia clara do fosso, nos anos 1960 o país contava com pouquíssimas instituições – um pouco mais de cem para todo território nacional – todas voltadas para reprodução de quadros da elite nacional. O quadro universitário brasileiro nessa década era de menos de 100 mil estudantes com predominância do sexo masculino. Imaginem isso!
A história do ensino superior brasileiro é uma verdadeira aula de luta de classes – inclusive com suas determinações: gênero e raça. A instituição universitária pública aqui sempre foi o lugar da formação de quadros para a classe dominante. Isso muito às claras. O início da expansão das universidades federais só ocorreu sob o regime militar, francamente neodesenvolvimentista, nos anos 1970. O segundo boom de expansão, ocorrido graças ao projeto Reuni, já na segunda metade da década de 2000, solidificou a importância das universidades federais na formação de quadros administrativos. Esse boom, entretanto, se foi amplo em relação à história do país por um lado, por outro, foi tímido em relação ao financiamento federal destinado a universidades particulares. Se nos idos dos fatídicos anos 1960 o Brasil contava com menos de 100 mil universitários, em 2019 o país tinha 8,6 milhões de estudantes de ensino superior, sendo 6,5 milhões de redes particulares de ensino. Se nos anos 1960 pouco mais de cem instituições de curso superior atuavam no Brasil, em 2019, 2608 instituições ofereciam cursos superiores no país, sendo que apenas 302 eram públicas.
As faculdades privadas, fortemente financiadas pelo dinheiro federal, estabeleceram em sua maioria cursos técnicos totalmente devotados ao mercado. Elas aparecem como faculdades para trabalhadores com tempo de especialização reduzido e prática de EAD (Ensino à distância) para se encaixar no tempo livre do trabalho precarizado e flexível da maioria de seus estudantes. Essas instituições, que não são mais do que fábricas de diplomas, oferecem todos os tipos de descontos e vitória ao fim do percurso. No entanto, o que se vê é uma explosão de endividamento dos que recorreram ao Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies). A taxa de inadimplência dos contratos já chegou a 50% e, em 2021, o saldo da dívida era de 6,7 bilhões! Ainda em 2021, 3,5 milhões de alunos se evadiram das faculdades privadas!
Com essa translúcida política de fortalecimento das instituições privadas voltadas ao mercado, a universidade pública fatalmente entra na mira. O ódio à universidade pública, que é também um ódio à intelectualidade que ali se forma, é catapultado pelo ressentimento de classe. Muitos brasileiros sequer tem ideia de que existem universidades gratuitas e olham as grandes universidades como o lugar das classes privilegiadas. Evidentemente essa impressão se mostra equivocada. Cada vez mais a classe dominante se transnacionaliza, preferindo criar seus herdeiros fora do país. A universidade pública, sustentáculo das classes médias, por seu lado, sofre cortes radicais e, por décadas, tem depredada sua estrutura. A luta contra a universidade pública é uma pauta transversal à extrema-direita, os cortes no orçamento feitos pelo governo Bolsonaro sinalizam o projeto de devastação do ensino público. Aliás, não podemos esquecer que o último ato contra o ensino público no país foi o bloqueio, por parte do Ministério da Educação (MEC), de R$244 milhões do orçamento das universidades federais do país.
Se o ódio da extrema-direita contra a universidade pública e seus intelectuais é declarado, por outro lado, não é brincadeira a negociata feita em nome da educação pública por governos de direita e de centro-esquerda. As chamadas parcerias público-privadas, que significam lucro privado e prejuízo público, foram o sonho a guiar milhares de reais para os bolsos dos capitalistas da educação. A depredação da universidade pública segue curso por décadas e não parece arrefecer. Estamos numa sinuca de bico: ou nos dobrarmos às fundações ou sucumbirmos à falta de infraestrutura.
Se os conflitos de classe se dão até na possibilidade da escolha da instituição, se pública ou privada, também no interior da universidade pública esse conflito se impõe. Claro que as relações de classe regulam a seleção dos especialistas. No Brasil, levou muitos anos para que pouquíssimos elementos vindos das classes populares (operários negros e pobres, moradores de periferia no geral) pudessem adentrar a essa categoria social. Embora de 2010 a 2019 tenha ocorrido um aumento expressivo de 400% de alunos negros na universidade pública, somando 38,15% de todo contingente estudantil, ainda é flagrante a dificuldade que alunos pobres tem para terminar a graduação. Já na camada média das classes médias brasileiras, o jovem daí oriundo se guia por um caminho já de todo flanqueado pela experiência familiar. Sabe como prestar o vestibular, quais bolsas pedir, como viajar para uma universidade fora do país para reforçar o currículo, às vezes fica na casa de algum parente na Alemanha ou na França, para depois ter aberto o caminho até o concurso feito pelos seus pais anteriormente, etc.
Daí me surge uma maldade contra Sartre: se o intelectual advém de certas classes médias, cujo caminho já foi aberto por seus “ancestrais” burocratas, e descobre o serviço que presta à ideologia da classe dominante ao ver reinar a desigualdade e o particularismo; para aqueles que advém das classes baixas, e entram nas universidades, há a condenação de se tornarem ou intelectuais ou cínicos. Postos devidamente de lado os essencialismos e as causalidades, o humor nos serve aqui para demonstrar que a figura representativa do intelectual no Brasil, não sem motivo, foi vista como o branco e o burguês. O filme “E, agora, o que”? revela muito dessa representação. Nesse filme, há uma cena habermasiana em que Safatle se põe na tentativa de discutir com alguns integrantes de um coletivo de periferia. Os rapazes que compõe o coletivo, no entanto, passam a hostilizá-lo por ser branco e, sendo intelectual, evidentemente burguês. Afora a imaginária identidade que evocam – pobres, periféricos e negros – se negam a discutir sobre o Estado e um deles chega a dizer que o Estado é por demais abstrato. A experiência comunicativa habermasiana de Safatle fracassa completamente. Como se confunde o técnico do saber com o intelectual, o intelectual de fato, mesmo tendo traído sua classe, se vê apunhalado por todos os lados. Essa imagem facilmente recorda outra: a personagem de Angústia de Graciliano Ramos, um homem que foi separado de seus amigos e de sua classe graças à literatura. O intelectual como figura demoníaca que sabe do essencial, mas não pode comunicá-lo.
Há um espetáculo pavoroso que organiza a desigualdade brasileira combinando-a com o lucro favorável às classes exploradoras. Isso se explicita também nos locais de formação. No Brasil a forte estratificação dos espaços de saber que são condicionados pela classe – e suas determinações: raça e gênero – contribui para o afastamento do especialista da vida cotidiana do país. Há faculdades para pobres e faculdades para as classes médias; faculdades técnicas para o trabalho precário e faculdades para formação de quadros administrativos e políticos. Tudo segmentado conforme nossa velha herança colonial.
Se isso elucida em partes o ódio ao intelectual brasileiro, por outro lado, não nos deve fazer esquecer dos perigos subjacentes a esse ódio. Ao ser revelada a tensão, o ódio ao intelectual não encontra justificativa. Comezinho, ele replica apenas a impotência diante do pensamento que se pensa para além do que está posto. Esse ódio cede espaço rapidamente ao anti-intelectualismo e encontra muita aceitação entre os crentes de ideologias mil. O discurso e prática anti-intelectuais, reativos hoje, renegam inclusive a possibilidade de que estudantes negros e pobres possam se tornar intelectuais. Só para ficar nos exemplos, não é difícil encontrar autonomeados “comunistas” dizendo que a maioria dos males do Brasil adveio da elite intelectual uspiana, do mesmo modo que a todo instante algum youtuber da extrema-direita brasileira atual esbraveja que todos os estudantes de universidades públicas federais são marxistas em potencial.
A questão é que se a esquerda se acha o baluarte da inteligência, pelo menos em suas fileiras tais práticas deveriam ser condenadas, não permitindo que as tendências mais regressivas se manifestem à sombra de um senso comum dado como revolucionário. Como os franquistas que atravessaram a aula magna de Unamuno, não é que não se sabe o que é técnico, acadêmico, intelectual ou academicista, a questão é já não querer saber porque a inteligência, fora do quadro posto pela miséria do saber prático, é vista como ofensiva. Como se é impotente para combater as classes dominantes, opta-se por combater o bode expiatório favorito dos poderes estabelecidos. Contra o discurso anti-intelectual, que grassa no submundo das redes interconectadas e ganha coro nas fileiras da esquerda, já dizia um dos maiores intelectuais orgânicos do mundo: “nem tudo que brilha é relíquia nem joia!”.
Notas
1 O livro Doutor Jivago de Pasternak foi proibido na URSS apesar das convicções comunistas do autor.
2 Sobre a noção de capitalismo acadêmico ver a transcrição da fala de Paulo Arantes https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5773980/mod_resource/content/1/Fala%20do%20Paulo%20Arantes_Capitalismo%20acad%C3%AAmico%20-%20revis%C3%A3o%20final.pdf
Referências bibliográficas
ADORNO, T. W. Minima moralia. Tradução Artur Morão. Lisboa: Edições 70, 1981.
NIETZSCHE, F. W. O Anticristo: maldição ao cristianismo; Ditirambos de Dionísio. Tradução, notas e posfácio Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia de Bolso, 2016.
NIZAN, P. Les chiens de garde. Paris: Gallimard, 1960.
SARTRE, J-P. Em defesa dos intelectuais. Tradução Sergio Goes de Paula. São Paulo: Editora Ática, 1994.
ZOLA, E. Eu acuso: o processo do capitão Dreyfus. São Paulo: Editora Hedra, 2007.
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Douglas Rodrigues Barros é escritor, doutor em Ética e Filosofia política pela Unifesp, editor e conselheiro editorial do Lavra Palavra e autor dos livros Lugar de negro, lugar de branco? Esboço para uma crítica à metafísica racial (Hedra, 2019) e Racismo (Fibra/Brasil, 2020). Militante do movimento negro, foi coordenador político da Uneafro.
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