Jesus e Lula

Se todos somos filhos de Deus, devemos ter liberdade de escolha. O que vale dizer, devemos ter o maior valor da liberdade de consciência. Todo homem e mulher têm seu livre-arbítrio. E lhes asseguro enfim, amigos, que tudo isso sobrevirá a esta geração. Nas igrejas, para todo cristão, Jesus é Lula. De hoje até o fim dos tempos do fascismo no Brasil.

IMAGEM: THIAGO DOS ANJOS/BRASIL DE FATO

Por Urariano Mota

Sei que o título acima pode parecer oportunista. Mas é necessário e entendam por quê. Neste momento das eleições do Brasil, quando o voto em Lula pode levá-lo à vitória no primeiro turno, neste exato instante, existe perseguição nas igrejas a evangélicos que irão votar no maior líder da América Latina.

A resposta à intolerância contra os cristãos está nas notícias de toda imprensa: perseguidos e decepcionados, fiéis antibolsonaristas buscam alternativas para manter sua prática religiosa e, com a ajuda das redes sociais, encontram-se e formam agrupamentos informais… Nas últimas semanas, foram identificadas várias ocorrências de ataques, discriminação, perseguição e linchamentos simbólicos contra quem se identifica com as esquerdas políticas. “Lideranças evangélicas por liberdade, democracia e paz” é o nome do evento que ocorreu na última quinta-feira, 22 de setembro, no auditório da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio. A promoção foi do movimento “Somos um pela democracia. Somos todos pelo Brasil”, em ação motivada por acontecimentos recentes no ambiente das igrejas.

No entanto, os pastores, que perseguem a consciência livre dos irmãos nas suas igrejas, são os mesmos que se vendem ao infame ocupante da presidência e cobram dinheiro por suas igrejas. Para os próprios bolsos como uma nova arca. Se Jesus Cristo fosse vivo, esses espertos seriam expulsos dos templos sob chicote de cordas aos gritos de justiça: “Não façais da casa de meu Pai uma casa de comércio!”.

O belo pensamento que reza “onde está o teu tesouro, aí também está o teu coração” se transformou em “onde está o tesouro, aí estará também o teu coração”, pois a cobiça e desonestidade tomam conta dos guias dos pobres crentes e carentes. Que desonra para um ideal de salvação da alma!

Aquelas palavras universais de empatia profunda de humanidade, que viam em todos os homens famintos a própria fome, e agradeciam aos que lhe deram comida em outras bocas, que sentiam a dor dos imigrantes sem guarida, que se identificavam com os nus que recebiam roupas, que se viam presos a receberem visitas, foram mudadas para a pergunta e destino maldito: “O que podemos ganhar em dinheiro vivo com os recursos da Educação e com a ignorância sem remédio da fé? Pois a graça não é mais de graça”.

Mas, para nossa felicidade, o movimento altivo das lideranças evangélicas que não aceitam papel de gado é um novo cumprimento de bem-aventurança. O movimento cresce com o sofrimento da perseguição por causa da justiça, porque dos homens e mulheres é o reino dos céus, criado na luta por seu voto a partir da terra brasileira.

O conselho do momento é, para todos os crentes das igrejas: tomem as suas precauções, mas conservem a calma, e não tenham medo nem vacilem nos seus corações por causa do furor dos restos de lenha fumegantes, do pesadelo bolsonarista no fim. Ainda que venham a sofrer porque vivem em justiça, serão felizes. A ordem maior é que não se atemorizem por causa de ameaças, e nem mesmo se alarmem.

Como bem falam os bravos: “Os adversários de Deus assumiram o controle desta nação, mas isso vai ter fim, em nome de Jesus. Eles levaram o nosso povo à fome, à miséria, à angustia, nossos filhos perderam a esperança. Eles destruíram a educação, a soberania nacional, eles acabaram com o emprego. Nós vamos pelejar e a nossa arma, irmãos, é a palavra de Deus, que faz a verdade triunfar”, disse o pastor Ariovaldo Ramos, líder da Comunidade Cristã Renovada e coordenador nacional da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito.

E mais: “Vamos hoje desconstruir a mentira de que cristão não vota no PT. Uma mentira jamais se sustentará quando as ações são mentirosas. Provérbios 29:2 diz que quando um governo é justo o povo se alegra, mas quando o governo não é justo o povo geme. E o que nós temos visto no governo Bolsonaro é o povo sofrer, o povo gemer de fome, de falta de empregos e tudo mais”, afirmou o pastor Alair Lima, da 1ª Igreja Batista em Jardim Alcântara. E completou: “O período em que o povo evangélico mais teve a sua alegria foi no período em que Lula foi presidente do Brasil”.

Em outras e próprias linhas deste escritor: se todos somos filhos de Deus, devemos ter liberdade de escolha. O que vale dizer, devemos ter o maior valor da liberdade de consciência. Todo homem e mulher têm seu livre-arbítrio. E lhes asseguro enfim, amigos, que tudo isso sobrevirá a esta geração. Nas igrejas, para todo cristão, Jesus é Lula. De hoje até o fim dos tempos do fascismo no Brasil.


A coletânea Querido Lula: cartas a um presidente na prisão, organizada por Maud Chirio, reúne 46 missivas, de um total de 25 mil enviadas a ele durante o cárcere em Curitiba, procurando representar a imensa diversidade contida nas cartas, contemplando autores de diferentes origens sociais e regiões do país, com histórias de vida, tons e abordagens variadas. Diferente de outras obras de estadistas encarcerados, que reúnem parte de sua comunicação com o mundo exterior, as cartas a Lula apresentam a visão daqueles que viram de longe o desenrolar da história. São demonstrações de solidariedade, de amor e esperança ao prisioneiro.

Até o dia 31 de outubro Boitempo disponibiliza download gratuito do ebook de Querido Lula e audiolivro de A verdade vencerá, que acaba de ser lançado, por R$13!

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Urariano Mota  é natural de Água Fria, subúrbio da zona norte do Recife. Escritor e jornalista, publicou contos em Movimento, Opinião, Escrita, Ficção e outros periódicos de oposição à ditadura. É colunista do Vermelho. As revistas Carta Capital, Fórum e Continente também já veicularam seus textos. Autor de Soledad no Recife (Boitempo, 2009) sobre a passagem da militante paraguaia Soledad Barret pelo Recife, em 1973, de O filho renegado de Deus (Bertrand Brasil, 2013), uma narração cruel e terna de certa Maria, vítima da opressão cultural e de classes no Brasil, do Dicionário Amoroso do Recife (Casarão do Verbo, 2014), e de A mais longa duração da juventude (Editora LiteraRUA) que narra o amor, política e sexo dos militantes contra a ditadura.

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