Valerio Arcary e o compromisso com a luta revolucionária real
Como podemos criar as condições para que a militância política seja bonita ainda que dura, para que se mostre viável para multidões, não apenas para poucos? Valerio Arcary, militante de uma vida, presença permanente na luta social e teórica, nos dá valiosa contribuição para esse debate.
Por Manuela d’Ávila
A humanidade enfrenta múltiplas crises e suas consequências nefastas: o aumento da miséria e da fome; o trabalho cada vez mais precarizado e não garantidor de dignidade; a destruição dos Estados nacionais. Milhares de pessoas migram, países fecham fronteiras e ampliam as políticas de ódio e intolerância que alcançam multidões por meio de algoritmos manejados por empresas transnacionais. A democracia burguesa se vê em crise, o neoliberalismo está em xeque, a extrema direita se apresenta como antissistema. Vivemos, pois, um tempo de incertezas. E, diante da incerteza, maior é a necessidade de refletirmos sobre como nos organizamos, como nos relacionamos entre nós e com nossas organizações.
Nesse cenário, como podemos criar as condições para que a militância política seja bonita ainda que dura, para que se mostre viável para multidões, não apenas para poucos? Valerio Arcary, militante de uma vida, presença permanente na luta social e teórica, nos dá valiosa contribuição para esse debate.
Em Ninguém disse que seria fácil, o autor produz uma espécie de carta à militância apoiado em sua condição de dirigente partidário com os pés fincados na luta política e em seu compromisso com a luta revolucionária real, não encastelada. Discorre sobre temas clássicos, como a relação das pessoas revolucionárias com a religiosidade, e modernos, como o cancelamento político na internet.
Se a luta será difícil, que sejamos mais camaradas; se será longa, que tenhamos capacidade de estudar nos aproximando dos movimentos de mulheres e homens trabalhadores; se não temos as respostas, que saibamos encontrá-las sem abrir mão de disputar o poder político.
Sim, poderá não ser fácil, mas há de ser gratificante.
***
Ninguém disse que seria fácil, do historiador e militante Valerio Arcary, reúne uma série de artigos escritos ao longo dos últimos anos, período marcado por consecutivas derrotas da esquerda, ascensão da extrema direita e perdas substantivas de direitos da classe trabalhadora.
Em 42 artigos curtos, Arcary lança uma importante reflexão à militância socialista, muitas vezes presa às teorias, análises de conjuntura e trabalho analítico e conceitual. Sem se privar da relação com a teoria, os escritos focam outros aspectos da luta como o sentido humano, as relações entre as pessoas e suas contradições, a necessidade de se deixar de lado o individual ante o coletivo. Para o autor, o momento é de levantar tais questionamentos, especialmente diante da ampla vitória do capital e da extrema direita.
“Na teia do ser social que constituímos e que nos constitui, avançamos muito na compreensão de suas determinações objetivas, mas nem sempre damos a devida atenção ao problema da subjetividade. Por isso este livro de Valerio Arcary parece-me tão importante. Precisamos conversar sobre a militância, sobre a sensação de isolamento que se segue a uma derrota, sobre o fracionalismo, o embrutecimento, a saúde mental, os valores que nos guiam, os preconceitos, o anti-intelectualismo. Precisamos conversar sobre nós e os outros, os adversários e os inimigos, a classe idealizada e as pessoas reais que compõem nossa classe”, afirma Mauro Luis Iasi no prefácio da obra.
“A militância de esquerda, que nos habilita a intervir na luta de classes, exige firmeza contra o inimigo. Mas isso será pouco se, do lado de cá, não soubermos construir relações de fraternidade e amizade com nossos companheiros e de empatia e humanidade com adversários. Eis uma das sínteses que define e faz indispensável Ninguém disse que seria fácil, um precioso elogio à honestidade intelectual, consciência crítica no melhor sentido da expressão e, além disso, agradável de ler porque apoiado na clareza de frases curtas e bem concebidas, Valerio Arcary foge do professoral, mas ensina que a civilidade é revolucionária. E isso é fundamental em tempos de barbárie.”
– Dilma Rousseff
“Eu sou uma liderança indígena que vem da terra indígena Arariboia no Maranhão e me orgulho de ter sido convidada a escrever sobre este livro norteador, motivador e inspirador para a militância seguir fazendo história. Quero muito parabenizar Valerio Arcary pela valorosa iniciativa de juntar diversas histórias de dores e amores da militância social no Brasil. A partir de Ninguém disse que seria fácil, o leitor vai entender como contribuir para um mundo mais fraterno e solidário, vai entender seu lugar na luta e o sentido da luta coletiva. O que está em jogo não é apenas questão de direitos, mas o nosso futuro.”
– Sônia Guajajara
“Militamos porque queremos e podemos construir outro mundo. Essa possibilidade vem da luta organizada. A realidade possível de um mundo onde todo mundo tenha trabalho, descanso, lazer e comida saudável. Um mundo onde nenhuma mãe preta chore a morte de seu filho pelo braço armado do Estado. Onde haja liberdade para ser e amar. Com floresta em pé, ar e águas puros, povos e comunidades respeitados. Militamos porque sabemos que o capitalismo teve um início e terá um fim. Perseguimos esse bem viver como forma possível de uma existência plena. Esta obra é necessária, é um convite à militância, à organização, ao estudo, além de uma reflexão importante sobre as armadilhas que podem nos afastar da necessária perspectiva revolucionária.”
– Talíria Petrone
Ninguém disse que seria fácil, de Valerio Arcary, tem prefácio de Mauro Luis Iasi, texto de orelha de Manuela d’Ávila, quarta-capa de Dilma Rousseff, Sonia Guajajara e Talíria Petrone e capa de Maikon Nery.
Hoje, às 19h, ocorre o debate O retorno da onda progressista na América Latina, atividade do VII Salão do Livro Político no teatro Tucarena da PUC-SP, com a presença de Valerio Arcary, Ana Prestes, Juliano Medeiros, Diana Assunção e Debora Baldin (mediação). Acompanhe pela TV Boitempo:
***
Manuela d’Ávila é jornalista e política brasileira. Filiada ao Partido Comunista do Brasil, foi deputada federal pelo Rio Grande do Sul entre 2007 a 2015, deputada estadual de 2015 a 2019 e candidata a vice-presidente da República na eleição de 2018.
Deixe um comentário