Cultura inútil: sobre a infidelidade conjugal

Mouzar Benedito reflete sobre a infidelidade conjugal relembrando alguns casos e fazendo uma seleção de frases sobre o tema de Jane Austen a Nelson Rodrigues, passando por Aristóteles, Carlos Drummond de Andrade e Elizabeth Taylor.

Por Mouzar Benedito

A infidelidade masculina é diferente da feminina? Houve um tempo em que aceitava-se como “normal” a infidelidade masculina, mas a feminina era “motivo” para crimes. O marido era adúltero? E daí? Mas mulher adúltera… O marido “chifrado”, “corno”, tinha que tomar uma atitude. Bom… “Lavar a honra” era uma expressão que “justificava” crimes. Marido adúltero era esperto, mulher adúltera era depravada.

Hoje em dia “parece” que esses conceitos mudaram, mas são mais frequentes (ou tornaram-se mais divulgados) do que antes assassinatos de mulheres que tentam se libertar de maridos ou mesmo namorados babacas e violentos. Surgiu até um termo que não existia: feminicídio.

Andei me lembrando de umas histórias de adultérios de “antigamente” e da reação dos homens “traídos”.

Um deles, de gente da alta-sociedade carioca (embora a mulher fosse mineira): Doca Street assassinou a mulher, Ângela Diniz com tiros no rosto, alegando que ela era infiel. No júri, o advogado do assassino alegou que ele estava sob o que hoje chamam de violenta emoção, porque a mulher revelou-se uma “prostituta”. Feministas, inclusive amigas minhas, rebatiam dizendo que ela era “libertária”.

Falei para essas amigas: “Vocês deviam mudar essa linha de defesa. A acusação vai colar e o cara vai sair livre. Acho que vocês deviam perguntar aos jurados o seguinte: mesmo que ela fosse uma prostituta, merecia ser assassinada com tiros no rosto?”. Mas permaneceu o debate “era prostituta” x “era libertária”, tirando o foco do assassinato e colocando no lugar a discussão sobre o comportamento da vítima. Numa sociedade machista e com jurados compatíveis com ela, o réu foi libertado.

Aí vão mais uns casos de reação a adultérios que, às vezes, são surpreendentes.

  1. Um sujeito que conheci mas não me lembro o nome, morador de uma cidade pequena, se separou da mulher infiel e explicou: “Cansei de segurar a cabrita pros outros mamarem”. 
  2. Pedro, o Grande, czar da Rússia no fim do século XVII, quando descobriu que a mulher tinha um amante, mandou decapitar o dito-cujo e colocou sua cabeça numa jarra com álcool. A mulher foi obrigada a conservar essa jarra com a cabeça em seu quarto.
  3. Não vou dar os nomes aos bois, para não expor a mulher. Acho que não merece ser exposta. Só vou contar uma historinha acontecida no milênio passado (todos lembram-se que há 22 anos se encerrava um século, eu lembro que encerrou também um milênio). Um psicólogo tinha um programa televisivo em que comentava assuntos diversos, com a ótica da sua profissão. Um dos assuntos mais frequentes era o ciúme. Desdenhava dos ciumentos. Dizia que o fato de a mulher amada ter relações sexuais com outro(s) era mais ou menos normal. Nada de ciúme! Mas um dia a mulher dele lhe contou que deu uma puladinha de cerca e levou uma baita surra.
  4. O cantor e compositor cubano Pablo Milanés, autor da bela música “Iolanda”, uma declaração de amor à sua mulher. Mais tarde compôs outra chamada “O breve espaço em que não estás”, que diz o seguinte, num trecho: “La prefiero compartida, antes que vaciar mi vida”. E a história dessa música, segundo me contaram, é que a mulher pretendia largar dele para ficar com outro, e ele propôs mais ou menos o seguinte: “Prefiro te compartilhar do que te perder”.
  5. Todo mundo numa cidade sabia, só o marido é que não… Uma mulher despachada era quem ganhava a grana que sustentava a família. O marido exercia as tarefas domésticas. Lavava, passava, cozinhava… Quando ele ficou sabendo que a mulher pulava a cerca direto, disse a ela: “Eu te perdoo. Mas cozinhar pra você, nunca mais”.
  6. Numa cidade do norte do Brasil, um sujeito que soube que a mulher transava com meio mundo disse que se ela podia “dar” pros outros, ele também podia. E contratou um rapaz para “possuí-lo” na frente dela.
  7. Em São Paulo, quando cheguei aqui, lá pelo início dos anos 1960, um viúvo com cinquenta e poucos anos arrumou uma namorada de trinta. Bonitona. E resolveu se casar com ela. Os filhos dele chiaram: “O senhor devia arrumar uma mulher da sua idade. Ela é jovem, fogosa, vai arrumar amante…”. Ele respondeu: “Prefiro dividir um prato de filé mignon do que comer um prato de chuchu sozinho”.

Lembrando dessas historinhas, colecionei frases sobre adultério, infidelidade, ou, nas palavras da plebe rude, corno e chifre.

Zelda Popkin: “Todo marido tem a infidelidade que merece”.

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Elizabeth Taylor: “Só fui para a cama até hoje com os homens com quem me casei. Quantas mulheres podem dizer isso?”

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Jane Austen: “Além de casar, o que a mulher mais gosta é de ser enganada de vez em quando”.

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Henri Janson: “Pode-se perfeitamente enganar o marido sem lhes faltar ao respeito”.

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Xenócrates: “Os homens são capazes de cometer roubo e adultério apenas com os olhos”.

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Paulo Mendes Campos: “Quem jamais foi traído não sabe o que perdeu”.

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Tïm Maia: “Eu sou um corno sofrido”.

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Juvenal: “Os jogos de azar são indecentes para os medíocres; o adultério, também”.

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Yves Montand: “Um homem pode ter dois, talvez três casos durante o casamento. Mais do que isso é sacanagem”.

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Eleanor Roosevelt: “Se alguém trai você uma vez, a culpa é dele. Se trai duas, a culpa é sua”.

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Atribuído ao príncipe Charles: “O homem é tão dependente que até para ser corno precisa da ajuda da mulher”.

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Shakespeare: “Se os maridos das esposas infiéis desesperassem, enforcar-se-ia a décima parte da humanidade”.

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Henry Youngman: “Meu melhor amigo fugiu com minha mulher. E quer saber? Sinto falta dele”.

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Lord Byron: “Uma amante pode ser tão incômoda quanto uma esposa, quando se tem só uma”.

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Georges Brassens (quando soube que sua mulher cozinhava para o amante, em sua casa): “Corno, tudo bem, mas não anfitrião!”

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Benjamin Franklin: “Não se pode colher rosas sem temer os espinhos, nem se desfrutar uma bela esposa sem o risco dos chifres”

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Plutarco: “O adultério é a curiosidade do amor e dos prazeres ilícitos”.

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Danuza Leão: “Eu não trairia meu marido porque, quando olhasse para ele, teria de dizer: ‘Pô, mas esse cara é um corno!’. E eu não quero um corno como marido”.

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Jules Renard: “’Corno’ – que estranho que essa palavrinha não tenha feminino”.

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Brigitte Bardot: “Pior do que ser infiel é ser fiel sem querer”.

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Millôr Fernandes: “O preço da fidelidade é a eterna vigilância”.

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Stanislaw Ponte Preta: “Casada que quer prevaricar, não adianta o marido cercar”.

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Stanislaw, de novo: “Lavar a honra com sangue suja a roupa”.

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Stanislaw, mais uma vez: “O marido enganado é um homem que se engana a respeito da mulher que o engana”.

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E dá-lhe, Stanislaw: “Se o diabo entendesse de mulher, não tinha rabo nem chifre”.

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Nelson Rodrigues: “Tudo passa, menos a adúltera. Nos botecos e nos velórios, na esquina e nas farmácias, há sempre alguém falando das senhoras que traem. O amor bem-sucedido não interessa a ninguém”.

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Mae West (quando perguntada por um amante se ele podia confiar nela): “Claro. Centenas já confiaram”.

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Harold Robins: “Sempre achei muito mais perigoso dar em cima da amante de alguém do que da mulher de alguém”.

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Dashiell Hammett: “Todo mundo tem algo a esconder”.

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Antônio Maria: “Dificilmente uma mulher engana o marido às seis da manhã. O homem só deve inquietar-se quando sua mulher começa a ir à missa das três da tarde”.

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George Herbert: “O adultério é justificável: a alma necessita poucas coisas; o corpo, muitas”.

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Leila Diniz: “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra”.

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H. L. Mencken: “O adultério é a democracia aplicada ao amor”.

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Victor Hugo: “A liberdade de amar não é menos sagrada que a liberdade de pensar. O que hoje se chama adultério, há muito se chamou heresia”.

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George Moore: “Se não houvesse maridos, quem sustentaria nossas amantes?”

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Pedro Caetano e Claudionor Cruz (no samba “Disse-me-disse”: “Sou feliz, muito feliz, porque não ligo…”

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Helen Rowland: “Nunca confie num marido longe ou num solteiro perto”.

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Walter Waeny: “O adultério é, muitas vezes, a forma traiçoeira adotada por um cônjuge para se desforrar da opressão que o outro exerce sobre ele”.

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La Rochefoucauld: “A violência que nós fazemos para nos mantermos fiéis a quem amamos não vale mais que uma infidelidade”.

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André Birabeau: “O homem chifrado por uma mulher feia é mais corno que os outros”.

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Flávio Gikovate: “No homem, uma infidelidade casual é uma coisa insignificante… quase o mesmo que ir a um cinema”.

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São Jerônimo: “O adultério, certamente, não pode ser cometido sem a participação de duas pessoas”.

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Leon Eliachar: “Adultério: é isso que liga três pessoas sem uma saber”.

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Carlos Drummond de Andrade: “No adultério, há pelo menos três pessoas que se enganam”.

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Drummond, de novo: “Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério”.

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Albert Camus: “Dois homens traídos pela mesma mulher tornam-se meio parentes”.

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Woody Allen: “Há uma lei em Nova York segundo a qual só se concede divórcio no caso de adultério de um dos cônjuges. Bem, eu me ofereci para a tarefa”.

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Aristóteles: “As mães são mais carinhosas que os pais de seus filhos porque elas têm certeza que são dela”.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2021, Editora Limiar). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.

1 comentário em Cultura inútil: sobre a infidelidade conjugal

  1. Nonato Menezes // 11/02/2022 às 10:32 am // Responder

    Só não achei interessante relacionar o tema à tal “Cultura Inútil).Mas, afinal. tudo que diz respeito à sexualidade humana, graças ao cristianismo judaico é pecado, proibido, crime, depravado ou motivo de deboche na sociedade ocidental. Sobre as frases citadas, acrescentaria uma, que me parece ser de F. Engels: “junto com o casamento, nasceu o corno”. Mas o tema, em si, é instigante e bem-vindo ao debate, até por nossa origem não ter sido monogâmica, sem deixarmos de considerar sociedades que ainda hoje desconhecem termos como pecado, adultério, feminicídio, entre outros. Também devemos lembrar que os poucos animais que são identificados como monogâmicos, seguem um princípio de natureza, não uma convenção moral, como é o nosso caso. Outra questão que seria bem-vinda ao debate, diz respeito ao controle dos desejos – sugestão ao autor -, que muito nos atormenta. Desde criança sou tolhido em meus desejos, mesmo aqueles intrínseco à vida orgânica. Sou tolhido a desejar um mulher que não seja “a minha”, assim como a mulher é tolhida a desejar um homem que não seja “o seu”. Por fim, diria que tudo que é discutido sobre monogamia, adultério etc, tende a negar o nosso natural sentimento e direito de desejar. É essa negativa que compõe parte da nossa tragédia.

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