Nancy Fraser e o compromisso com a justiça social
O que significa, afinal, produzir pensamento político e social em uma época de crescentes desigualdades, em que o capitalismo financeiro amplia sua capacidade de destruição? Para Nancy Fraser, trata-se de colaborar para uma crítica abrangente das injustiças, que supere a dualidade entre o cultural e o socioeconômico, o simbólico e o material.
Por Flávia Biroli
Justiça interrompida: reflexões críticas sobre a condição “pós-socialista” reúne textos fundamentais para a investigação dos desafios que se apresentam para a esquerda em um mundo marcado pela queda do muro de Berlim e pelos avanços do neoliberalismo. A capacidade de análise e de antecipação, ainda na década de 1990, dos obstáculos que enfrentamos no novo milênio mostram por que Nancy Fraser se tornou uma das grandes teóricas do nosso tempo.
O que significa, afinal, produzir pensamento político e social em uma época de crescentes desigualdades, em que o capitalismo financeiro amplia sua capacidade de destruição? Para a autora, trata-se de colaborar para uma crítica abrangente das injustiças, que supere a dualidade entre o cultural e o socioeconômico, o simbólico e o material. Suas análises sobre as lutas por reconhecimento e por redistribuição são antídotos contra fantasmas que circulam no campo da esquerda, em particular o de que “lutas identitárias” operariam contra ou em paralelo aos esforços para transformar as relações socioeconômicas.
Fraser produz teoria consistente ao travar um diálogo aberto com as demandas dos movimentos sociais. É uma teoria informada pelo compromisso com a justiça social e pelos esforços para definir normativamente o que ele significa. Busca, assim, elucidar um quadro abrangente de objetivos emancipatórios, com princípios que nos permitam avaliar as alternativas que estão em jogo. E, claro, evitar falsos dualismos.
O diagnóstico ganha forma no debate rigoroso com o pensamento progressista contemporâneo, com destaque para as obras de Carole Pateman, Iris Marion Young, Judith Butler, Jürgen Habermas e Seyla Benhabib. Nesse diálogo, é evidente a capacidade de transitar por diferentes campos do saber e produzir conhecimento historicamente contextualizado, tendo como referência os desafios presentes. Os dilemas da justiça com o avanço do neoliberalismo, os sentidos do público, a atribuição de responsabilidades e a organização social do cuidado, as subjetividades, as identidades e a construção coletiva da luta política são discutidos ao longo dos capítulos, sem limitar-se a fronteiras disciplinares.
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Justiça interrompida é uma reflexão crítica sobre o que a filósofa Nancy Fraser denomina condição “pós-socialista”. A autora procura compreender os desafios impostos pela derrocada dos socialismos no final dos anos 1980, pelo surgimento das políticas de identidade e pela fragmentação das frentes de luta progressista. Os textos e ensaios reunidos na obra, escritos entre 1990 e 1996, iluminam a polarização política e intelectual contemporânea, o quase abandono das reivindicações por redistribuição igualitária e o aumento de mobilizações sociais por reconhecimento, esvaziadas no termo “políticas identitárias”.
Fraser nos oferece um quadro teórico abrangente para analisar as diferentes causas e soluções para as injustiças econômicas e culturais. Evitando posturas economicistas, que rechaçam políticas de reconhecimento como “falsa consciência”, bem como posturas culturalistas, que rechaçam políticas redistributivas como antiquadas, a autora desenvolve um modelo de crítica social que integra as duas dimensões. A obra traz elementos para escaparmos do quadro de fragmentação e carência de uma visão alternativa de sociedade emancipada.
O livro de Nancy Fraser tem tradução de Ana Claudia Lopes e Nathalie Bressiani, texto de orelha de Flávia Biroli, quarta capa de Seyla Benhabib, Axel Honneth e Cornel West, e capa de Maikon Nery.
“Por meio de uma série de intervenções penetrantes nos debates sociais e políticos contemporâneos, Nancy Fraser tenta superar as falsas oposições do que ela chama de ‘nossa condição pós-socialista’. Argumentando que a separação entre lutas por reconhecimento de identidades diversas e lutas pela distribuição de bens materiais e serviços inconsistente, ela mostra como a esquerda ‘social’ e a ‘cultural’ podem se unir em torno de objetivos comuns.”
– SEYLA BENHABIB
“Um esforço altamente inovador e original para ‘interromper’ a discussão convencional sobre justiça, questionando tanto o modo como interpretamos necessidades e desejos específicos quanto nossos conceitos e noções normativos.”
– AXEL HONNETH
“Fraser é uma das mais criativas filósofas sociais e teóricas críticas de sua geração. Justiça interrompida já nasceu um clássico – historicamente fundamentado, teoricamente avançado e politicamente progressista.”
– CORNEL WEST
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Flávia Biroli é professora do Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília, onde edita a Revista Brasileira de Ciência Política e coordena o Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades – Demodê, que mantém o Blog do Demodê, onde escreve regularmente. É autora, entre outros, de Gênero e desigualdades: limites da democracia no Brasil (Boitempo, 2018), Autonomia e desigualdades de gênero: contribuições do feminismo para a crítica democrática (Eduff/Horizonte, 2013), Família: novos conceitos (Editora Perseu Abramo, 2014) e, em coautoria com Luis Felipe Miguel, Feminismo e política: uma introdução (Boitempo, 2014) e com Maria das Dores Campos Machado, Juan Marco Vaggione, Gênero, neoconservadorismo e democracia: disputas e retrocessos na América Latina (Boitempo, 2020).
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