Cultura inútil: Afrodisíacos e outras coisinhas…
Na coluna "Cultura inútil", Mouzar Benedito comenta sobre o uso de afrodisíacos da Roma Antiga ao Brasil, passando por curiosidades sobre a Muralha da China, a língua tupi e as vidas de Lord Byron e Lewis Carroll.
COUPLE 1014, DE DAVID PLUNKERT
Por Mouzar Benedito
Para conquistar ou prender a criatura amada, nem sempre bastam os dotes pessoais. Então, quem ama recorre ao sobrenatural. Faz promessas ao santo de sua devoção; recorre aos orixás nos terreiros; deixa despachos em encruzilhadas… Há alguma novidade nisso?
No livro Plantas Eróticas (que vai além das plantas), Sangirardi Jr. afirma que não: “Os romanos foram os grandes macumbeiros da antiguidade clássica, e recorriam, na magia amorosa, aos mais estapafúrdios fetiches e feitiços”. Não se limitavam a deixar despachos em encruzilhadas.
Aí vão duas coisas que os romanos usavam para esse fim: suor de jumento sobre um pedaço de tecido rosa, guardado em recipiente de prata e testículos de um galo de briga, esfregados com gordura de ganso e embrulhados com pele de carneiro.
Para mulher frígida, “bastava colocar-lhe sobre a cabeça um pedaço de lã com sangue de morcego. Também era bom fazer com que comesse ou bebesse algo com língua de ganso, pois tudo isso iria excitá-la ao máximo”.
Agora vamos a recomendações nacionais sobre alguns estimulantes sexuais que vocês podem experimentar:
- infusão de capim barba-de-bode (usa-se a planta inteira).
- catuaba-verdadeira – cascas do rizoma, finas, de cor ocra, macerada em cachaça – em alguns lugares de Minas Gerais, diziam que até o pai completar 60 anos o filho era dele, depois disso era filho da catuaba.
- mil-homens – este é enganador. Uma época, há muito tempo, fui fazer uma matéria sobre garrafadas, quer dizer, cachaças com ervas medicinais ou raízes, para saber se funcionavam mesmo, para curar certas coisas, e fiquei sabendo que sim, a cachaça absorve o princípio ativo de certas plantas, tanto pode ser princípio ativo curativo ou venenoso (dependendo da dose, mesmo remédios podem virar venenos). Mas não de todas as plantas, alguns princípios ativos só são conseguidos com água fervente etc. Pinga com mil-homens, planta também conhecida como jarrinha, eu vi muitos homens bebendo, achando que isso lhe aumentaria a potência sexual, mas segundo duas pesquisadoras que consultei na Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Ouro Preto, quando fazia a matéria, o nome “mil-homens” é uma falácia: o efeito dela é brochante.
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Aqui no Brasil, bebedores de cachaça tinham o hábito de dar um golinho pro santo, antes de ingerir a dita-cuja. Na Grécia Antiga, não davam pro santo. Tinham o hábito de beber em homenagem a alguém e deixavam no copo um pouco da sua bebida, para ser consumida pelo homenageado. Propino era a palavra que designava beber à saúde de outro. Propino virou propinare em latim e derivou de sentido para dádiva, e em seguida, já em português e espanhol, propina se tornou sinônimo de gratificação. Em espanhol, mantém ainda este sentido, como gorjeta. Aqui, a propina ganhou novo significado… e volume!
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Vamos agora a outros assuntos, fora desse livro.
Olhos, rosto, pés, mãos, cabelos, coração… Os resultados psíquicos, estados da alma e qualidades ou hábitos dos seres vivos costumam ser expressos, em tupi, pela descrição das “resultâncias” perceptíveis dessas partes ou órgãos do corpo, segundo o livro Curso de Tupi Antigo, de Lemos Barbosa.
Exemplos: quando o sujeito está preocupado, o adjetivo usado pelos índios era eçá-kaneã, quer dizer, olhos cansados. Aí vão alguns outros exemplos: sossegado é pyá-guapyra (coração assentado); espantado é iuru-puk-i (boca aberta); firme, resistente, é pir-atã (pele dura); medroso é obá-iúba (rosto amarelo); apressado é ab-ebó (cabelo eriçado); atento é apyçá-byra (ouvido aprumado); veloz é nambi-bebé (orelha que voa), ligeiro é pô-iababa (mão fugidia) e forte, animoso, é py-atã (pé duro).
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Durante muito tempo dizia-se que a Muralha da China era a única construção humana visível da Lua. Mas a chamada “Era Espacial” desmentiu isso. Os astronautas (estadunidenses) e cosmonautas (russos) não viram a Grande Muralha quando estavam lá no alto.
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A palavra tangerina deriva de Tanger, nome de uma região do sul de Marrocos. Por isso, muitos acreditam que essa fruta é originária de lá. Mas não é: foi levada da China, sua origem verdadeira. Deu tão certo lá que começou a ser chamada de tangerina, mas em alguns lugares ela se chama mandarina, palavra derivada de mandarim.
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Emílio de Meneses, poeta e jornalista nascido em Curitiba, em 1866, mas que viveu no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX, era famoso por suas frases de efeito. Uma vez conheceu uma bela moça vegetariana e falou: “Deus me defenda de mulher que gosta de verdura”, mas picotando a pronúncia de algumas palavras: “Deus me dê fenda de mulher que gosta de ver dura”.
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Não é à toa que o poeta britânico Lord Byron escreveu o livro Don Juan: ele era um autêntico exemplar disso. E, numa época em que a homossexualidade era considerada crime em vários países, inclusive no país em que nasceu, era bissexual. Viveu de 1788 a 1824. Consta que – só de mulheres – levou 250 para a cama.
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Segundo Richard Wallace, autor do livro Jack, o estripador, Light-hearted friend, provavelmente era nada mais nada menos do que Lewis Carroll, autor de Alice no país das maravilhas.
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Assim falou Guimarães Rosa: “O ruim tem raiva do bom e do ruim. O bom tem pena do ruim e do bom”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em coautoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente.
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