O Goethe de Lukács
Ronaldo Vielmi Fortes apresenta “Goethe e seu tempo”, conjunto de cinco ensaios do filósofo húngaro escritos durante a década de 1930 e dedicados à obra de Johann Wolfgang von Goethe.
Por Ronaldo Vielmi Fortes.
Goethe e seu tempo foi elaborado em um período de grande importância na construção do pensamento de Lukács e, não por acaso, coincide com um momento decisivo da história da humanidade. As reflexões são desenvolvidas em meio às tentativas de compreensão do período conturbado da primeira metade do século XX, tempo em que se processaram profundas inflexões no curso da história universal, desde a Revolução Soviética de 1917 até o aparecimento do nazismo na Alemanha.
Nos anos de sua redação, décadas de 1930 a 1940, Lukács se deparava, tanto na URSS como na Alemanha, com a forte deturpação do sentido e da importância da obra de Goethe. Na república soviética, Goethe era tratado simplesmente como um autor do Romantismo, um defensor de resquícios feudais, postura derivada da identificação errônea de seu Fausto a um personagem da era medieval. Na Alemanha, foi aproximado indevidamente às tendências da Filosofia da Vida e apontado como precursor do nacional socialismo hitlerista.
Em contraste evidente com tais interpretações, para Lukács, Goethe participa das tendências iluministas alemãs: “o jovem Goethe é partícipe do processo universal de desenvolvimento do Iluminismo e, em seu âmbito, do Iluminismo alemão, o qual, por seu turno, é fenômeno colateral e companheiro de lutas daquele grande processo que prepara ideologicamente a Revolução Francesa. Portanto, a juventude de Goethe é um componente orgânico e importante de um movimento progressista de dimensões mundiais”. Em uma de suas mais influentes obras, o Werther, pode-se verificar, nos diz Lukács, que o “ponto central […] é constituído pelo grande problema do humanismo revolucionário burguês, o problema do desdobramento livre e universal da personalidade humana”. Não é descurada, portanto, a forte relação da cultura alemã e do próprio Goethe com a Aufklärung e com a Revolução Francesa, considerada uma etapa indispensável do progresso humano, apesar do “Terror” ter sido repudiado pelo escritor de Weimar.
Lukács destaca ainda o caráter cosmopolita de Goethe, os elementos universalistas de suas figurações estéticas, na medida em que alcança uma “compreensão tão profunda das forças motrizes, das contradições fundamentais, que a importância de sua crítica transcende em muito a de uma crítica das condições em que se encontra a Alemanha atrasada”. Goethe exibe, assim, aquilo que caracterizará uma das contribuições fundamentais de sua obra: a reflexão sobre aquele novo homem que surge no decorrer da preparação para a revolução burguesa e a busca “por aquela humanização, por aquele despertar da atividade universal do homem produzido pelo desenvolvimento da sociedade burguesa – e, ao mesmo tempo, condenado tragicamente à ruína”.
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Goethe e seu tempo, décima obra da coleção Biblioteca Lukács, traz um conjunto de cinco ensaios do filósofo húngaro escritos durante a década de 1930 e dedicados à obra de Johann Wolfgang von Goethe.
Considerado um dos pontos culminantes da literatura humanista burguesa, Goethe tem sua trajetória esmiuçada e contraposta à de outros contemporâneos seus, em uma análise engajada do grande romance moderno e de seu conteúdo progressista.
Os dois primeiros textos tratam de obras específicas de Goethe e sua construção, ao passo que os três seguintes discutem o contexto social e literário no qual o escritor estava imerso, propondo percepções originais a respeito das motivações, contradições e desafios enfrentados por sua obra.
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Goethe e seu tempo, de György Lukács, tem tradução de Nélio Schneider com a colaboração de Ronaldo Vielmi Fortes, revisão da tradução de José Paulo Netto e Ronaldo Vielmi Fortes, apresentação de Miguel Vedda, texto de orelha de Ronaldo Vielmi Fortes e capa de David Amiel.
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E-book à venda nas principais lojas do ramo:
Confira a live de lançamento conjunta de Goethe e seu tempo e Estética da resistência com debate entre Arlenice Almeida e Jorge de Almeida e mediação de Ronaldo Vielmi Fortes.
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Ronaldo Vielmi Fortes é doutor em filosofia e professor adjunto na Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).
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