Rosa Luxemburgo: o encontro entre o socialismo e a América Latina

Torge Loeding comenta “Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política”, de Hernán Ouviña, enfatizando a importância do sugestivo diálogo entre as diversas trajetórias das lutas populares travadas na América Latina e a profícua contribuição de Rosa Luxemburgo ao movimento revolucionário global.

Por Torge Loeding.

O que Rosa Luxemburgo tem a ver com a América Latina? Há mais de cem anos, a revolucionária europeia lutou intransigentemente por uma sociedade democrática e socialista, sempre com confiança na classe trabalhadora e orientada para o movimento de massas. Destacou-se na luta contra o militarismo e no combate às concessões da esquerda de países centrais à máquina de guerra imperialista. Foi assassinada por milícias de ultradireita em janeiro de 1919, tal qual Marielle Franco quase um século depois. A marxista polaco-alemã não conhecia de perto o universo latino-americano com suas características particulares, mas, como uma internacionalista ardente, se comprometeu na denúncia do colonialismo e reivindicou essas ideias dentro do movimento operário na Europa. 

Em Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política: uma leitura latino-americana, Hernán Ouviña propõe um sugestivo diálogo entre a diversa trajetória das lutas populares travadas na região e a profícua contribuição de Rosa Luxemburgo ao movimento revolucionário global.

Da confiança na capacidade de aprendizado e insubordinação dos povos à valorização da natureza e das formas comunitárias de vida, passando pela denúncia dos violentos processos de despossessão a que estão submetidos países periféricos, a fundadora do Partido Comunista da Alemanha encontra hoje, como teve no passado, afinidades com companheiros e companheiras de luta nas trincheiras latino-americanas.

Como bem assinala Isabel Loureiro na apresentação de Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política, Ouviña compõe tais paralelos sem descuidar de temas caros à revolucionária, como a dialética entre reforma e revolução ou o vínculo entre democracia e socialismo. Ao fim, o autor mostra a vitalidade e a relevância das ideias luxemburguistas nas diversas resistências em nosso continente e no mundo, indicando como a compreensão e a socialização de seu pensamento crítico podem nos ajudar a consolidar estratégias contra o autoritarismo crescente. A “reinvenção da política”, segundo Rosa Luxemburgo, é um chamado à resistência criativa da esquerda a partir da base. Socialismo ou barbárie!

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Publicado no mês de aniversário de 150 anos de Rosa Luxemburgo, o livro do cientista político argentino Hernán Ouviña oferece uma introdução à vida e à obra da pensadora, revelando o potencial do seu pensamento para o contexto político latino-americano. O autor destaca nos escritos de Rosa a abordagem de temas caros para a militância do século XXI, como ecossocialismo, antipatriarcalismo, anticolonialismo e internacionalismo, além da valorização das formas de vida comunitárias e não capitalistas.

Sem perder de vista as contribuições teóricas da autora, Hernán indica como a trajetória política de Rosa pode ajudar a recriar a luta emancipatória na contemporaneidade, a partir de uma compreensão da teoria marxista não como um sistema acabado a ser “aplicado”, mas como uma caixa de ferramentas e um estímulo para o pensamento crítico e a ação disruptiva.

Os capítulos de Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política buscam abrir uma janela por onde espreitar as diferentes inquietações e urgências que, para Rosa, remetem a problemas candentes e núcleos traumáticos que precisam ser discutidos, encarados e resolvidos de forma coletiva e sem receituário prévio para a construção do socialismo como um projeto civilizatório alternativo.

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“A homenagem de Hernán Ouviña a Rosa Luxemburgo é um exemplo poderoso de como nossa leitura do passado se torna viva quando é motivada por perguntas, lutas e preocupações do presente. Um dos méritos deste livro reside em que, ao repensar a vida e a obra de Luxemburgo, Ouviña nunca perde de vista seus leitores, que hoje se estendem num amplo espectro de movimentos feministas, ecológicos e indígenas que, cada vez mais, estão construindo terrenos comuns e ocupando as ruas em uma nova onda de lutas insurrecionais.”
 – Silvia Federici

“Hernán Ouviña volta ao pensamento de Rosa Luxemburgo a partir das questões que mobilizam a militância de esquerda posterior à “onda rosa” na América Latina: rejeição do patriarcalismo e do colonialismo, preservação dos modos de vida das populações originárias, Estado plurinacional, questão socioambiental. Este livro dá outra vida aos conhecidos textos de Rosa, tornando a leitura prazerosa e fonte de novas descobertas.”
– Isabel Loureiro

O livro de Hernán Ouviña foi traduzido por Igor Ojeda e contou com revisão técnica e apresentação da edição brasileira de Isabel Loureiro, prefácio de Silvia Federici, orelha de Torge Loeding e capa de Maikon Nery. Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política foi publicado pela Boitempo em coedição com a Fundação Rosa Luxemburgo.

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Confira o debate ocorrido no último dia 5 de março, quando Rosa Luxemburgo completaria 150 anos, com a filósofa brasileira Isabel Loureiro e o cientista-político argentino Hernán Ouviña, com a mediação da editora Aline Klein. Os pensadores discutiram o texto inédito em português, traduzido do polonês pela primeira vez, Sobre a Constituinte e o governo provisório, e o livro Rosa Luxemburgo e a reinvenção da política: uma leitura latino-americana, traduzido do espanhol.

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Saiba mais:

Jornal Rascunho: Hernán Ouviña analisa vida e obra de Rosa Luxemburgo

Estadão: Leia a introdução de Isabel Loureiro a livro sobre Rosa Luxemburgo

Carta Maior: Rosa Luxemburgo na contracorrrente

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Torge Loeding é diretor da Fundação Rosa Luxemburgo Brasil e Paraguai.

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