Cultura inútil: Tédio… que tédio!
De Walter Benjamin a Madame de Staël, Mouzar Benedito reúne as melhores frases e ditados sobre tédio.
Por Mouzar Benedito.
Por coincidência, ou não tanta confidência assim, ao escrever sobre tédio penso em algumas pessoas que diria “atucanadas”. Se não são tucanas, parecem-se com esse tipo de brasileiros que se põem acima de todos os não assemelhados a eles. Têm cara de tédio o tempo todo. Parecem entediados por não estarem num meio de eruditos parisienses, ou mesmo sozinho num café francês, em vez de ter que conviver com reles brasileiros que julgam incultos e pouco refinados. A plebe rude.
Têm um ar que chamam de blasé.
Aliás, esse tipo me remete ao final dos anos 1960, quando muitos iam à França e voltavam reclamando de uma coisa daqui: em Paris, podiam ocupar uma mesa de um café e passar horas ali, diante de uma xícara de café, lendo jornal (ou fingindo ler). No Brasil, hoje, existem lugares meio parecidos com isso, mas na época, mesmo em São Paulo, tomava-se café no balcão dos bares, e quando havia mesas elas não podiam ser ocupadas durante um tempão por alguém que não gastaria mais do que o valor de um café.
E não é que nessa época abriram um café bem ao estilo parisiense na capital paulista, na entrada para a Cidade Universitária? E levava um nome atraente para eles: Café Paris. Um dia fui lá com uma amiga, ver como aquilo funcionava. Um rapaz de oclinhos redondos ocupava uma mesa e tinha uma xícara de café diante dele. Dava umas bicadas pequenininhas, de vez em quando. Gastou um tempão para tomar um reles café. E ficava olhando para o vazio, com cara de tédio.
Enquanto isso, minha amiga e eu bebíamos conhaque, também no ritmo do cara que observávamos, pois era bem mais caro do que estávamos acostumados a pagar e não pretendíamos desperdiçar nosso pouco dinheiro ali. Mas topamos para ver como funcionava um daqueles estabelecimentos tão sonhados por brasileiros tediosos e com pretensões parisienses.
Falei pra minha amiga: “O cara fica olhando pro vazio… imagine o que ele está pensando”.
Ela falou que não sabia, só reparava que ele tinha cara de tédio, engolindo aos poucos um café que já devia estar bem frio. E eu disse o que me vinha à cabeça: ele sabe que está sendo olhado assim e fica fazendo essa pose pensando que “todas essas pessoas me olhando pensam que estou pensando em alguma coisa muito interessante”, quer dizer, filosofando.
Ninguém está livre de momentos de tédio, a não ser os imbecis, segundo Stanislaw Ponte Preta, que dizia: “Imbecil não tem tédio”. Mas uns parecem entediados o tempo todo. Geralmente são ricos ou gostam de parecer ricos, mas tem pobre tedioso também. Tem quem julgue que são assim por não terem grandes problemas na vida e, de certa forma, serem felizes à maneira deles. Pensando neles, coletei umas frases por aí, com várias visões sobre o tédio e seus motivos, concordando ou não com elas.
João Penha: “O tédio é o infortúnio da gente feliz”.
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Camilo Castelo Branco: “A constância degenera em tédio, e o tédio é o cancro, que rói as frágeis ligações do coração com a felicidade”.
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Camilo Castelo Branco, de novo: “A monotonia é fastidiosa até na virtude”
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Castelo Branco, mais uma vez: “O amor que durar seis meses sem interferência de tédio, será absurdo, se não for milagroso”.
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Walter Benjamin: “O tédio é o pássaro de sonho que choca os ovos da experiência. O menor sussurro nas folhagens o assusta. Seus ninhos – as atividades intimamente associadas ao tédio – já se extinguiram na cidade e estão em vias de se extinguir no campo.”
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Nelson Rodrigues: “A beleza interessa nos primeiros quinze dias; e morre, em seguida, num insuportável tédio visual”.
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Nelson Rodrigues, de novo: “As grandes convivências estão a um milímetro do tédio”.
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François La Rochefoucauld: “O que faz com que os amantes nunca se entediem de estar juntos é o falar sempre de si próprio”.
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Thomas Mann: “O que se chama de tédio é, na realidade, antes uma brevidade mórbida do tempo, provocado pela monotonia”.
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Francisco de Bastos Cordeiro: “Todo capricho, uma vez satisfeito, fatalmente termina”.
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Roger Ebert: “Não há nada como uma morte iminente para nos despertar do tédio existencial”.
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Milton Berle: “Outro dia, perguntei à minha mulher: ‘Você não está sentindo que que o sexo e o tesão estão sumindo do nosso casamento?’. E ela respondeu: ‘Não sei. Falaremos sobre isso no próximo comercial’.”
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Erma Bombeck: “Quando você é uma entediada ortodoxa, alguns dias são ainda piores do que os outros”.
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Montesquieu: “Gosto de trocar horas de tédio por outras deliciosas”.
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Alice Ruiz: “Atenção: essa vida contém cenas explícitas de tédio. Nos intervalos da emoção”.
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Vladimir Maiakóvski: “Melhor morrer de vodca que de tédio”.
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Vincent van Gogh: “Prefiro morrer de paixão a morrer de tédio”,
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Danuza Leão: “Nada mais me impressiona. Eu já fui a todas as festas”.
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Chico Buarque: “Eu quero fazer silêncio / Um silêncio tão doente do vizinho reclamar / E chamar polícia e médico / E o síndico do meu tédio pedindo pra eu cantar”.
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Jean-Paul Sartre: “Se você sente tédio quando está sozinho é porque está em péssima companhia”.
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Dorothy Parker: “Não gosto de fazer nada. Nem uma coisinha. Antigamente, eu ainda costumava roer as unhas, mas agora, nem isso”.
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Arthur Schopenhauer: “Assim como a necessidade é a praga do povo, o tédio é a praga do mundo abastado”.
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Schopenhauer, de novo: “Após o homem ter posto todo sofrimento e tormento no inferno, nada restou para o céu, senão o tédio”.
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Mário Quintana: “Esses que puxam conversa se chove ou não chove não poderão ir para o céu! Lá faz bom tempo”.
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Ana Carolina: “Minha oração é bem curta pro santo não entediar”.
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Dylan Thomas: “Alguém está me matando de tédio. Acho que sou eu”.
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Eugène Delacroix: “O segredo para não ter tédio, pelo menos para mim, é ter ideias”.
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Martha Medeiros: “Reclamar do tédio é fácil, difícil é levantar da cadeira para fazer alguma coisa que nunca se fez”.
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Coco Chanel: “Quando a paixão se vai, permanece o tédio e tudo acaba, mesmo que continue”.
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Cazuza: “Para poesia que a gente não vive transformar o tédio em melodia…”.
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Voltaire: “O trabalho poupa-nos de três grandes males: tédio, vício e necessidades”
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Voltaire, de novo: “O repouso é uma coisa boa, mas o tédio é seu irmão”.
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Voltaire, mais uma vez: “O tédio é o pior de todos os estados”.
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Blaise Pascal: “Condição do homem: inconstância, tédio, inquietação”.
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Fabrício Carpinejar: “A paz me deixa nervoso – acho sempre que é tédio”.
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Eugène Fomentin: “Sabes qual é a minha preocupação maior? É matar o tédio. Quem prestasse esse serviço à humanidade seria o verdadeiro destruidor de monstros”.
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Charles Bukowski: “Malditas pessoas tediosas, em todo mundo propagando novas malditas pessoas tediosas. Que show de horrores. O mundo está tomado por elas”.
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Thomas Carlyle: “O tédio é a doença dos corações sem sentimentos e das almas pobres”.
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Anatole France: “Sem se iludir, a humanidade pereceria de desespero e de tédio”.
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Caio Fernando Abreu: “Sempre chega o momento em que até o bom torna-se insuportável”.
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Louise Nevelson: “Nunca gostei de meio-termo – lugar mais tedioso do mundo”.
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Michel de Montaigne: “Não existe conversa mais tediosa do que aquela em que todos concordam”.
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Goethe: “Se os macacos chegassem a experimentar o tédio, poderiam tornar-se gente”.
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Madame de Staël: “Na vida você tem que escolher entre o tédio e o sofrimento”.
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Tati Bernardi: “Quando sinto tédio preciso dar em cima de alguém. Mas é por tédio. E os caras ficam achando que são incríveis e tal. E aumenta o tédio”.
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Jorge Luis Borges: “Não acumules ouro na Terra, porque o ouro é pai do ócio, e este, da tristeza e do tédio”.
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Fernando Pessoa: “Nunca tive dinheiro para ter tédio à vontade”.
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Fernando Pessoa, de novo: “Não é o tédio a doença do aborrecimento de nada ter que fazer, mas a doença maior de se saber que não vale a pena fazer nada”.
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Álvaro de Campos: “Que náusea de vida! Que abjeção esta regularidade! Que sono este ser assim!”
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Clarice Lispector: “O tédio é de uma felicidade primária demais! E é por isso que me é intolerável o paraíso”.
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Clarice Lispector, de novo: “Eu tem peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso”.
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Álvares de Azevedo: “Deixo a vida como deixo o tédio”.
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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às terças.
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