O Marx de José Paulo Netto
Milton Temer escreve sobre a monumental biografia de Karl Marx que José Paulo Netto acaba de publicar pela Boitempo.
Por Milton Temer.
José Paulo Netto nos dá mais um exemplo dos muitos que sua vida já nos proporcionou, não só como militante, mas como professor e formulador. Este seu Karl Marx: uma biografia se inscreve entre os livros fundamentais de quem se pretenda informar sobre a teoria marxiana, não pela lavagem cerebral da leviana mídia corporativa, mas pelo que realmente produziu, com suas pesquisas e descoberta, o genial Karl Marx.
Porque é da teoria, e não de detalhes da vida privada de Marx, que Zé Paulo se ocupa nessa biografia, por cuja elaboração despendeu mais de um ano de dedicação exclusiva, e de um confinamento pré-pandemia só interrompido pelas palestras a que não se furtava a dar, por convocação.
O desenvolvimento de Marx, do democrata radical ao comunista, passando pelo socialista, se apresenta ao longo da história de como ele evolui do hegelianismo idealista ao materialismo dialético. Ao materialismo histórico. E, neste salto, o papel fundamental de suas descobertas na crítica à economia política que então embasava o surgimento do capitalismo e de sua burguesia.
Instigante, o livro nos estimula a voltar aos originais; a reler Marx não para contrapor o “jovem Marx”, que junto com Engels produz o ainda muito atual Manifesto Comunista, ao Marx “maduro” que publica O capital. Mas para mostrar como o desenvolvimento teórico o leva a uma auto-superação constante.
Não é leitura ligeira; não é livro para ler na poltrona. É para mesa de trabalho, com caderno de anotações ao lado, para registrar o que é fundamental e quotidianamente necessário aos que pensam a realidade não só para contemplá-la, mas, principalmente, para transformá-la. (E antes que venha a gozação pela senilidade do lápis e papel, vale também o scanner do smartphone, para trazer o fundamental no bolso).
Nos tempos sombrios que a esquerda vive, no Brasil e no mundo, a partir das transformações trágicas pela desorganização deliberada do mundo do trabalho, através não só da financeirização globalizada, mas também pelo brutal avanço tecnológico, cujos frutos são hegemonizados pelo grande capital privado, esse livro é instrumento fundamental.
Ele nos obriga a buscar, na realidade atual, o que corresponde, na nunca interrompida luta de classes, ao proletariado dos nascentes grandes espaços da Revolução Industrial, e que Marx definia como sujeito histórico, agente revolucionário. Não nos induz a reproduzir mecanicamente o que foi elaborado pelo Mouro, com base numa realidade social totalmente distinta da atual. Pelo contrário.
Mas é mais um instrumento para, sobre os tijolos categoriais de Marx, nos ajudar a desconstruir esse capitalismo cada vez mais anti-humano, regressivo, predador, concentrador de riqueza e difusor de miséria Humana. E buscar os caminhos eficazes da construção de uma sociedade superior, socialista, antes que a barbárie nos alcance;
Grato pelo trabalho, amigo e camarada Zé Paulo.
Grato à Boitempo, pela edição.
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Conversa Impertinente com José Paulo Netto
O que significa escrever uma biografia marxista de Marx neste Brasil do século XXI? Vale a pena conferir a longa conversa que José Paulo Netto teve com Virgínia Fontes sobre a biografia de Marx para a coluna dela na TV Boitempo. São quase duas horas de um papo delicioso de acompanhar!
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A edição de número 25 da revista da Boitempo, a Margem Esquerda, abre com uma longa entrevista, realizada por Gilberto Maringoni e Ivana Jinkings, sobre a trajetória intelectual e militante de Milton Temer, e conta com um Dossiê especial intitulado “A universidade em crise: dilemas, desafios e perspectivas”, com reflexões de Alvaro Bianchi, Marco Aurélio Santana, Maria da Graça Druck, Michael Burawoy, Roberto Leher e Ruy Braga.
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Milton Temer é jornalista político. Ex-deputado federal (PT-RJ), é atualmente membro da Executiva Estadual (RJ) do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), sigla que ajudou a fundar. É um dos autores do Dossiê sobre o golpe de 1964 na revista Margem Esquerda #22. A revista Margem Esquerda #25 abre com uma longa entrevista, realizada por Gilberto Maringoni e Ivana Jinkings, sobre a trajetória crítica e militante de Milton Temer.
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