Ciência e dialética materialista na obra de Engels
Por Laura Luedy.
Friedrich Engels dedicou parte de seus anos de maturidade a um intenso estudo das ciências naturais e exatas, tal como fizera Karl Marx. A pesquisa resultou, no caso deste último, sobretudo em anotações concentradas em cadernos de estudo pessoais. Já para Engels, ela serviria de impulso não apenas à produção de importantes textos de intervenção como o Anti-Dühring e Do socialismo utópico ao socialismo científico, mas também a um projeto maior, em que o autor exporia a continuidade entre o “método de pensar” que informava sua análise social e o que havia de mais crítico e produtivo na ciência moderna.
Os escritos conhecidos como Dialética da natureza, ora trazidos a público pela Boitempo em excelente tradução de Nélio Schneider, registram essa intenção de aproximar ciência e dialética materialista num contexto de ascensão das narrativas científico-naturais. Redigidos entre os anos de 1873 e 1886, eles orbitam em torno da premissa de que apenas uma dialética que parte dos fatos dados e que acompanha sua interconexão e seu movimento é capaz de garantir o progresso continuado das ciências. Seus adversários imediatos eram a cegueira teórica do empirismo, de um lado e, de outro, a colonização da investigação pelas categorias fixas da metafísica.
Em reforço a essa tese-mestra, Engels esboça, em tal ocasião, os nexos gerais que organizariam não apenas os diferentes ramos das ciências exatas, naturais e sociais, em sua relação e seu desenvolvimento necessários, mas os próprios processos da natureza, do pensamento e da sociedade humana. Com isso, ele reedita a clássica proposição de que a produção condiciona as formas do pensar, dando-lhe uma modulação especial que ressoou longamente nos debates marxistas posteriores.
A partir da publicação, em 1925, de boa parte dos textos que compõem a obra, suas teses ecoaram na produção de figuras relevantes do marxismo soviético, bem como da Segunda e da Terceira Internacional. Elas ocuparam, também, o cerne das controvérsias formadoras do chamado marxismo ocidental e, mais recentemente, vêm sendo recuperadas no contexto da ecologia marxista capitaneada pela escola da ruptura metabólica. A Dialética da natureza é, portanto, – não obstante sua incompletude e seu caráter fragmentário – uma obra incontornável para se entender a história de formação do marxismo e os caminhos que lhe são abertos na atualidade.
Laura Luedy é doutoranda em sociologia pela Unicamp com pesquisa sobre marxismo e natureza.
Por ocasião do bicentenário de Friedrich Engels, a Boitempo promoveu, em parceria com a Fundação Rosa Luxemburgo e com a promoção do Revolushow, uma edição especial do Curso Livre Marx-Engels exclusivamente dedicada à vida e obra de Engels. Confira a programação completa na TV Boitempo e não esqueça de se inscrever no canal para receber notificações sempre que um vídeo novo for ao ar.
Traduzida direto do alemão por Nélio Schneider, esta nova edição da Coleção Marx-Engels chega ao leitor no ano do bicentenário de nascimento de Friedrich Engels, com apresentação de Ricardo Musse e texto de orelha de Laura Luedy. A edição ficou a cargo de Pedro Davoglio, com capa de Antonio Kehl sobre ilustração de Cássio Loredano.
Publicada pela primeira vez no Brasil e escrita pelo alemão Gustav Mayer, esta biografia traz um poderoso relato sobre a vida e obra de Friedrich Engels (1820-1895), um dos criadores do socialismo científico. Passando pelos principais eventos de sua vida, Mayer descreve a infância de Engels, sua vida na academia, seu rompimento com a democracia burguesa, seu encontro e amizade com Karl Marx e a importante publicação de O manifesto comunista em 1848. O biógrafo também traz nuances de sua relação com a família, seu trabalho na indústria, publicações e organizações para qual escreveu e militou, até sua morte em Londres aos 75 anos.
Publicado originalmente em 1930, em dois tomos, Mayer apresentou em língua inglesa uma segunda versão da biografia em 1936, mais acessível e enxuta. É essa a versão que chega ao Brasil, em comemoração ao bicentenário de Engels, comemorado no último dia 28 de novembro de 2020. O livro foi traduzido por Pedro Davoglio, e conta com preciosas notas de José Paulo Netto e texto de orelha de Roberta Traspadini. A capa é de Maikon Nery.
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