Cultura inútil: da saliva venenosa à pólvora chocha

Última coluna do ano de Mouzar Benedito!

Por Mouzar Benedito.

“Odiai-vos uns aos outros”, parece ser o lema de um pessoal que se diz cristão e se sente dono da bola hoje em dia. É um tipo de cristianismo que não dá a outra face, dá o primeiro murro. E se for referir-se a contatos entre países, a tendência é adaptar a frase para “guerreai-vos uns aos outros”.

Assim, dá para supor que o poderoso líder brasileiro só está esperando Joe Biden tomar posse como presidente da gringolândia para declarar formalmente guerra àquele paiseco do norte, né? Um paiseco que vai ser esmagado pela nova potência do sul, que já está armazenando pólvora e talvez, usando a desculpa da covid-19, nem faça comemorações com espetáculos de fogos de artifício na virada do Ano Novo, porque a pólvora que seria usada nelas terá melhor serventia. Teremos, até começar a pauleira, um Brasil sem foguetes, traques ou busca-pés. Será que a pólvora das milícias cariocas também vai ser economizada?

O grande líder brancaleônico usa muita saliva, mas como se fosse pólvora. Não para conversas amigáveis, só para ofensas, ameaças e fanfarrices. Mas já fala no fim dela, saliva. E ela acabando, pólvora nos gringos! Viva! O fim está próximo (acreditam muitos dessa tendência que se diz cristã), então abreviemos. Vamos logo com isso!

Bom… Coletei umas frases por aí, começando por três grandes inspiradores desse pessoal, Goebbels, Mussolini e Hitler. Depois vêm uma variedade de pensamentos sobre a guerra. Vejamos:

Joseph Goebbels: “Para convencer o povo a adentrar na guerra, basta fazê-lo acreditar que está sendo atacando”.

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Mussolini: “Estas guerras, ousaria dizer, estimulam de certo modo a economia das nações”.

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Adolf Hitler: “É sempre mais difícil lutar contra a fé do qu lutar contra a inteligência”.

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Winston Churchill: “Se Hitler invadisse o inferno, eu cogitaria uma aliança com o demônio”.

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Maquiavel: “Os homens, quando não são forçados a lutar por necessidade, lutam por ambição”.

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Isaac Asimov: “A violência é o último recurso do incompetente”.

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Eu: “Há situações em que rico é que não vai pra frente. Na guerra, por exemplo”.

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Sartre: “Quando os ricos fazem a guerra, são os pobres que morrem”.

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Agatha Christie: “Fomos deixados com o sentimento horrível agora de que a Guerra nada resolveu, que ganhar uma é tão desastroso quanto perdê-la”.

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Pablo Neruda: “Os poedtas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra”.

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Virginia Wolf: “Podemos ajudá-los a prevenir a guerra não repetindo suas palavras e seguindo seus métodos, mas encontrando novas palavras e criando novos métodos”.

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Henfil: “Enquanto os sábios pensam sem certeza, os idiotas atacam de surpresa”.

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Sun Tzu: “A suprema arte da guerra é derrotar o inimigo sem lutar”.

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Charles Chaplin: “Se matamos uma pessoa, somos assassinos. Se matamos milhões de homens, somos heróis”.

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George Orwell: “Toda guerra, quando chega ou antes de chegar, é representada não como uma guerra, mas como um ato de autodefesa contra um maníaco homicida”.

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Orwell, de novo: “Toda propaganda de guerra, toda a gritaria, as mentiras e o ódio vêm invariavelmente das pessoas que não estão lutando”.

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Mao Tsé-tung: “A política é uma guerra sem derramamento de sangue; a guerra é uma política com derramamento de sangue”.

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Einstein: “Não sei com que armas a III Guerra será lutada, mas a IV será com paus e pedras”.

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Einstein, de novo: “A força sempre atrai os homens de baixa moralidade”

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Santos Dumont (quando começaram usar aviões na guerra): “Criei um aparelho para unir a humanidade, não para destruí-la”.

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Mark Twain: “Deus criou a guerra para que os americanos aprendessem geografia”

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Julio Ribeiro: “Crítica e luta são as duas forças que podem levantar países decadentes e corruptos”.

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Ditado popular: “Guerra e amores: por um prazer, cem dores”.

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Miguel Couto: “No fundo de todas as guerras, obras dos homens, o que existe e a cobiça de riquezas ou glórias, mas sempre a cobiça”.

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Marquês de Maricá: “A ciência médica ensina a curar os doentes, a arte da guerra a matar os sãos”.

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Hipócrates: “A guerra é a melhor escola do cirurgião”.

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Vitor Caruso: “A humanidade é sanguinária. Todas as nações têm o seu Ministério da Guerra; nenhuma, o Ministériuo da Paz”.

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Quentin Crisp: “A guerra entre os sexos é a única em que ambos os lados dormem regularmente com o inimigo”.

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Oppenheimer (que chefiou o Projeto Manhattan, criador da bomba atômica): “Agora eu me torno a morte, o destruidor de mundos”.

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Guerra Junqueiro: “O povo, coitado, é soberano como fora Jesus para beber o fel, para morrer na cruz, para pagar impostos, para morrer na guerra”.

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Hanna Harendt: “A guerra tornou-se um luxo acessível apenas às nações pobres”.

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Tom Stoppard: “A guerra é o capitalismo sem luvas”.

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Arnold Toynbee: “Às guerras de religião se seguiram, depois de uma brevíssima trégua, as guerras das nacionalidades: e em nosso mundo ocidental moderno, o espírito dos fanatismos religioso e nacional constitui evidentemente uma mesma e só paixão maligna”.

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Napoleão Bonaparte: “Guerras religiosas são, basicamente, pessoas se matando para decidirem quem tem o melhor imaginário”.

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Napoleão Bonaparte, de novo: “O exército é uma multidão que obedece”.

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Peter Ustinov: “Os generais são um caso fascinante de desenvolvimento retardado. Afinal, aos cinco anos todos queremos ser generais”.

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Almirante Thompson: “O marinheiro está sempre em luta. Não precisa estar em guerra com outra nação”.

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Isabel Allende: “A guerra é obra de arte dos militares, a coroação da sua formação, a insígnia dourada da sua profissão. Não foram criados para brilhar na paz”.

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Che Guevara: “A farda modela o corpo e atrofia a mente”.

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George Bernard Shaw: “Nunca espere nada de um soldado que pensa”.

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Georges Clemenceau: “A guerra é um negócio muito sério para ser deixada por conta dos generais”.

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Clemenceau, de novo: “Fazer a guerra é mais fácil que fazer a paz”.

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Golda Meir: “Um líder que não hesita antes de mandar seu país à guerra não está pronto para ser um líder”.

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Jorge Luis Borges (sobre a Guerra das Malvinas): “Uma guerra entre dois carecas por causa de um pente”.

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Mia Couto: “Em tempos de guerra filhos são um peso que atrapalha muito”.

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James Joyce: “Paz e guerra dependem da digestão de algum fulano”.

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Abbie Hoffman: “Sou a favor do canibalismo compulsório. Se as pessoas fossem obrigadas a comer o que matam, não haveria mais guerras”.

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John Lennon: “Não esperem me ver atrás de barricadas, a menos que elas sejam de flores”.

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Karl Kraus: “A guerra, a princípio, é a esperança de que a gente vai se dar bem; em seguida, é a expectativa de que o outro vai se ferrar; depois, a satisfação de ver que o outro não se deu bem; e finalmente, a surpresa de ver que todo mundo se ferrou”.

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Thomas Mann: “A guerra é a saída covarde para os problemas da paz”.

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Eduardo Galeano: “No manicômio global, entre um senhor que julga ser Maomé e outro que acredita ser Buffalo Bill, entre o terrorismo dos atentados e o terrorismo de guerras, a violência está nos arruinando”.

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Barão de Itararé: “A guerra é uma coisa tão absurda e incompreensível que, quando se registra um combate de amplas proporções, até as ‘baixas’ são altas”.

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Bezerra da Silva: “Todo dinheiro gasto pela humanidade comprando armas para a guerra que só traz dor, daria para matar a fome de todo povo sofredor”.

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Josué de Castro: “Fome e guerra não obedecem a qualquer lei natural, são criações humanas”.

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Ernest Heminway:

“Quem estará nas trincheiras a teu lado?

⸺ E isso importa?

⸺ Mais do que a própria guerra”.

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Otto von Bismarck: “Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada”.

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Ditado popular: “Em tempo de guerra, mentiras por mar e por terra”.

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Ésquilo: “Na guerra, a verdade é a primeira vítima”.

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Clarice Lispector: “Eu sou o meu próprio espelho. E vivo de achados e perdidos. É o que me salva. Estou metida numa guerra invisível entre perigos. Quem vence? Eu sempre perco”.

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Voltaire: “Os homens corromperam um pouco a natureza, pois não nasceram lobos, e tornaram-se lobos. Deus não lhes deu nem canhões nem baionetas, e eles fabricaram baionetas e canhões para se aniquilarem”.

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Thomas Hobbes: “O homem é o lobo do homem, em guerra de todos contra todos”.

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Madame Du Barry: “Numa sociedade de lobos, é preciso aprender a uivar”.

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Ninon De L’Encios (cortesão francesa do século XVII): “O amor é como a guerra: fácil de começar e muito difícil de terminar”.

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Gandhi: “Uma pessoa que não está em paz consigo mesa é uma pessoa que está em guerra com o mundo inteiro”.

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Heródoto: “Em tempos de paz, os filhos sepultam os pais; em tempo de guerra, os pais sepultam os filhos”.

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Frederico, o Grande: “Quando um monarca deseja a guerra, começa-a muito simplesmente, quite com sua consciência, porque sempre tem qualquer homem da lei cheio de gravidade, para demonstrar por A + B que o direito estava ao seu lado”.

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Baruch Spinoza: “Paz não é a ausência de guerra; é um estado mental, na disposição para a benevolência, confiança e gestos”.

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Sólon: “A igualdade não gera guerras”.

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Ziggy Marley: “Quando todos os homens tiverem dado as mãos, não existirão mãos para segurar armas”.

Trecho de uma música de Juca Chaves, da época em que o governo Juscelino comprou um porta-aviões de segunda-mão, a que deu o nome Minas Gerais: 

O Brasil já vai à guerra
Comprou porta-aviões
Um viva pra Inglaterra
De 82 milhões…
Mas que ladrões…

Em 2002 o Minas Gerais foi posto em leilão internacional e vendido por 2 milhões de dólares… transformado em sucata.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às terças. 

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