Sete faces de Eduardo Coutinho

"Conhecer os filmes de Eduardo Coutinho e não conhecer sua pessoa parece, de alguma forma, uma perda. Este livro nos proporciona um encontro único que não seria possível sem ele." 

Eduardo Coutinho, em retrato de Daryan Dornelles utilizado na capa de Sete faces de Eduardo Coutinho, de Carlos Alberto Mattos (Boitempo/IMS, 2019).

Por Bia Lessa.

Nem sempre autor e obra suscitam o mesmo interesse. Na maioria das vezes, não. No caso do Eduardo Coutinho, a história é outra. Para quem o conheceu de perto, sua figura e a potência do personagem criado por ele eram de uma radicalidade e de um humor extraordinários. Ouso dizer que sua personalidade era tão rica e complexa quanto seus filmes. Sua forma de estar no mundo inspirava reflexões, nos colocava em xeque e nos fazia rir risadas infinitas.

O livro Sete faces de Eduardo Coutinho vem preencher uma imensa lacuna: nos oferece uma análise profunda de seus filmes e de sua biografia, e um contato “pessoal” com Coutinho. Os dois, obra e autor, revolucionários e implacáveis, sem sombrinha de descanso! Em todos os seus atos, em suas falas e na própria história de sua vida – encerrada com uma morte para lá de trágica –, Coutinho se apresentou de forma peculiar. Seu escritório era a rua, sua respiração, o cigarro, seu radicalismo em relação a todos os assuntos, uma marca firme.

Por meio da expertise de Carlos Alberto Mattos – responsável por livros admiráveis como os realizados sobre Walter Lima Jr., Maurice Capovilla e Vladimir Carvalho, apenas para citar alguns –, temos a oportunidade de encontrar obra, pessoa e biografia. Acompanhar a trajetória do Coutinho de forma cronológica, desde os primeiros filmes, amplia nossa compreensão de seu trabalho, e essa é apenas uma das qualidades deste texto. Usufruir de sua formação familiar e acadêmica, de seus caminhos pelo teatro até chegar ao cinema, de suas andanças pela Europa, suas referências, tudo isso nos oferece uma chave em que obra e autor se mostram exemplarmente unidos.

Conhecer seus filmes e não conhecer sua pessoa parece, de alguma forma, uma perda. Sete faces de Eduardo Coutinho nos proporciona um encontro único que não seria possível sem ele.

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Em Sete faces de Eduardo Coutinho o jornalista Carlos Alberto Mattos nos oferece uma análise crítica que entrelaça vida e obra do cineasta. Observando as transversalidades e as conexões no tempo da obra completa – empreitada inédita –, Mattos revela as diferentes faces do realizador. Coutinho aparece aqui como diretor de teatro e cinema, roteirista, ator, crítico e até autor de horóscopo.

Dessa imersão no universo de Eduardo Coutinho nasce uma visão panorâmica das circunstâncias que forjaram cada um de seus filmes, das escolhas e processos que os construíram, assim como dos saberes que foram sendo acrescentados à consciência do documentário brasileiro contemporâneo. Também vem à tona, pela primeira vez num livro, a abordagem das manias, das obsessões e dos traços de personalidade que influenciavam diretamente os métodos de trabalho e a preferência de Eduardo Coutinho pelo cinema de encontro.

1 comentário em Sete faces de Eduardo Coutinho

  1. Coutinho teve um olhar criativo sobre realidades que tinham muito a nos dizer, ele foi e continuará sendo imprescindível em nossas vidas.

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