Gabriel Cohn escreve sobre o novo livro de Jorge Grespan
Trabalhos como este, que buscam entender a forma atual do capitalismo por ângulos não convencionais e a partir daí pensar os caminhos para mudá-lo, são o que há de mais urgente na presente (mas não suficientemente apresentada) fase do andamento do capital.
A Boitempo acaba de lançar um livro de peso de um dos mais eruditos estudiosos de Marx no Brasil de hoje. Em Marx e a crítica ao modo de representação capitalista, Jorge Grespan realiza um mergulho erudito no conceito de “modo de representação” em Marx e fornece uma interpretação original e instigante de sua crítica à sociedade capitalista. No texto abaixo, o renomado sociólogo Gabriel Cohn apresenta a obra e escreve sobre sua importância. Para marcar o lançamento da publicação, o autor estará hoje na casa Plana, em São Paulo, para uma aula aberta sobre “Como começar a ler Marx?“, mediada por Larissa Coutinho. Saiba mais sobre o evento ao final deste post! (A TV Boitempo também prepara a publicação de um material em vídeo sobre o livro com o autor…)
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Por Gabriel Cohn.
Do fetiche à trindade. Era assim que Jorge Grespan cogitava originalmente o título de seu livro ora lançado, de escrita clara e precisa. E faz sentido. Esses termos, marcados por Karl Marx com duas referências ironicamente religiosas, indicam todo o trajeto a ser reconstruído “passo a passo” entre pontos extremos de O capital. Vai desde a análise da capacidade da mercadoria para angariar veneração graças ao modo como se apresenta a quem entra em seu círculo encantado até a representação do capital já constituído, na figura da trindade capital, terra e trabalho.
Dois termos fundamentais no modo marxista de desvendar o capitalismo concentram a atenção de Grespan. São eles apresentação e representação. O primeiro expõe as formas do processo capitalista ao examinar o modo como elas se tornam presentes. O segundo põe-se no lugar do objeto e de fato o representa por intermédio de sujeitos sociais na condição de seus portadores. A tarefa consiste em flagrar o movimento de ambos, afirma Grespan. Como ele mostra, não se trata de meros recursos expositivos, mas vão ao cerne do método de Marx. Ele também mostra que referências sumárias àqueles termos passam ao largo do verdadeiro problema, que envolve o modo de conversão de humanos em agentes da reiteração do processo capitalista na sua reprodução. Igualmente envolvidos estão os limites disso, afinal estamos diante de um exercício de crítica marxista.
De passagem, a análise permite ver como o movimento do fetiche da mercadoria à trindade representativa do processo capitalista total não implica superação do fetiche, e sim algo como sua reprodução ampliada em seus três termos, todos eles enfeitiçados. Reconstruir como isso ocorre e daí tirar todas as consequências pelo ângulo da apresentação e da representação é tarefa difícil. Não é por acaso que muita gente boa recuou diante desse desafio. Mas não Grespan, estudioso de Marx de alto calibre e já calejado por proeza anterior, o livro O negativo do capital, obra de referência na área.
No fundo da cena vislumbra-se o grande tema de Grespan, a crise. Trabalhos como este Marx e a crítica do modo de reprodução capitalista, que buscam entender a forma atual do capitalismo por ângulos não convencionais e a partir daí pensar os caminhos para mudá-lo, são o que há de mais urgente na presente (mas não suficientemente apresentada) fase do andamento do capital.
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Como começar a ler Marx?
Aula aberta Jorge Grespan
A Plana e a Boitempo convidam para uma conversa com o pesquisador e especialista em Marx, Jorge Grespan. Com mediação da podcaster Larissa Coutinho, o evento acontece hoje, quinta-feira, dia 27 de junho na Plana.
Ao final da aula, haverá uma sessão de autógrafos de Marx e a crítica do modo de representação capitalista. A entrada é livre, é só chegar!
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