Lula: Ler é um ato político

Leia a íntegra da carta escrita por Lula para a quinta edição do Salão do Livro Político, que teve início hoje.

Foto: Ricardo Stuckert.

Por Luiz Inácio Lula da Silva.

[Impedido de ir ao Salão do Livro Político, para o qual foi convidado desde o ano passado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos enviou a seguinte carta, que foi lida na cerimônia de abertura da quinta edição do evento nesta noite de segunda-feira, 27 de maio de 2019. A programação do Salão segue até o final da semana recheada de debates, cursos, slams, performances e muitos livros com desconto. Saiba mais ao final deste post.]

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Ler é um ato político. Não é por acaso que nossos adversários, ao mesmo tempo que tentam criminalizar a política e impedir toda e qualquer forma de ativismo, atacam com tanto ódio o saber, o conhecimento. Querem mais armas e menos livros. Mais jovens presos e abatidos por disparos de helicópteros do que com acesso ao ensino público de qualidade. Disparam sua artilharia pesada contra a educação como um todo, e a universidade em especial. Agridem a ciência, estrangulam a pesquisa.

Ler é resistir. E nós resistimos nas trincheiras cavadas com tanta garra e tanto carinho por gente que nem Paulo Freire, Darcy Ribeiro, Anísio Teixeira e cada professora e cada professor anônimo deste país, que nossos adversários tentam inutilmente destruir. E nós resistimos, porque a vida nos ensinou, e porque aprendemos com nossos mestres.

Nossos adversários odeiam o fato de termos criado mais universidades e institutos tecnológicos do que todos os que governaram antes de nós. Distribuímos bolsas de estudo, garantimos acesso ao crédito estudantil e colocamos jovens negros e pobres no ensino superior como nunca antes na história. Criamos políticas públicas de acesso ao livro e à leitura e espalhamos bibliotecas pelo país afora.

A educação foi e será sempre a nossa maior riqueza e a nossa principal forma de resistência. É por isso que nossos adversários se surpreendem e se assustam quando uma juventude esclarecida enche as ruas em defesa da educação, lutando contra os retrocessos de um governo que tem o povo brasileiro como seu principal e mais temido inimigo.

Ler é ser livre. Estou há mais de um ano preso pelo “crime” de sonhar e trabalhar pela construção de um país onde uma pai de família não fosse mais obrigado a escolher entre comprar um pão ou um caderno para seus filhos. Onde uma mãe de família não tivesse que partir um lápis no meio para que seus filhos pudessem estudar. Por esse “crime” estou preso, e no entanto mais livre do que nunca, graças aos livros e à leitura.

Nestes 13 meses de quase solidão – não fossem as visitas de parentes e amigos e o carinho da incansável vigília na porta do cárcere em Curitiba – tenho lido muitos livros. Cavalguei com Riobaldo e Diadorim pelas veredas do grande sertão de Guimarães Rosa. Cruzei o Atlântico em navio negreiro ao lado de Luísa Mahin, no extraordinário romance Um defeito de cor, de Ana Maria Gonçalves.

Navego nas águas da ficção, mas tenho, sobretudo, me dedicado aos livros dito políticos – com a ressalva de que se ler é um ato político, todo livro é político, seja ele de poesia, romance, contos, filosofia, sociologia, economia ou ciências políticas.

Mas é o livro propriamente político, razão de ser desse Salão, que quero saudar agora. É principalmente graças aos livros que, quando a justiça for restaurada neste país, sairei da prisão sabendo mais do que quando entrei.

Um abraço a todos e todas, e viva o livro!

Luiz Inácio Lula da Silva

Lula folheia um exemplar de seu livro A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam (Boitempo, 2018), que havia acabado de chegar da gráfica, para o ato de lançamento no Sindicato dos Químicos de São Paulo. 16 mar. 2018. Foto: Paulo Whitaker/Reuters.


Salão do Livro Político

A quinta edição do Salão do Livro Político começou hoje e segue até o final da semana com uma programação intensa recheada de debates, cursos, slams, performances e muitos livros com desconto! Participam, entre outros, intelectuais e políticos como Fernando Haddad, Luiz Eduardo Soares, Talíria Petrone, Érica Malunguinho, Manuela D’Ávila, Leda Paulani, Flávio Dino, Celso Amorim, Guilheme Wisnik, Flávia Biroli, Eduardo Fagnani e Sabrina Fernandes.

Clique aqui para conferir a página oficial do evento no Facebook e aqui para conferir o site do Salão. Confira a programação completa abaixo.

27 maio, segunda-feira

17h | A opressão da mulher: família, propriedade privada e Estado. Com Flávia Biroli (UNB), Manuela D’Ávila (PCdoB) e Maria Claudia Badan Ribeiro (USP). Mediação: Maria Lucia Barroco (PUC-SP).

19h | Governo Bolsonaro – como o Brasil pode superar essa encruzilhada? Com Érica Malunguinho (Aparelha Luzia e PSOL), Fernando Haddad (PT), Celso Amorim (PT) e Flávio Dino (PCdoB). Mediação: Ivana Jinkings.

28 de maio, terça-feira

10h | Imprensa: a hora da autocrítica? Com Carla Jimenez (El País), Eleonora Allgayer Canto de Lucena (Tutameia) e  Natália Viana (Agência Pública). Mediação Fábio Cypriano (Jornalismo PUC-SP)

14h30 | Curso: A relevância e a atualidade do pensamento freiriano. Com Sonia Couto – Instituto Paulo Freire.

17h | Educação ou barbárie: a volta da Idade Média? Com Carina Vitral (PCdoB), Carlos Giannazi (PSOL), Fernando Cassio (UFABC) e Maria Amália (Reitora PUC-SP). Mediação: Alípio Casali (PUC-SP)

19h | Atividade Cultural: SLAM da Guilhermina: antifa e feminista

21h | Atividade Cultural: Peça Quando Quebra a Queima

29 de maio, quarta-feira

10h | Previdência: o fim da aposentadoria? Com Eduardo Fagnani (PUC-SP), João Sicsu (UFRJ), Leda Paulani (USP) e Nelson Marconi (PUC-SP). Mediação: Maria do Socorro (PUC-SP).

14h30 | Aula-Teatro com Ana Saul (PUC-SP) e Luciana Saul (USP).

17h | Do tráfico a milícia: o estado paralelo que mata Marielles todos os dias. Com Camila Nunes Dias (UFABC), Douglas Belchior ( Uneafro-Brasil) e Henrique Carneiro (USP).

19h | Atividade Cultural: Caberé Feminista.

21h | Atividade Cultutal – espetáculo O Capital – Arlequins Apresenta Marx

30 de maio, quinta-feira

10h | Venezuela, Bolívia e a restauração conservadora no resto da América Latina. Com José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil), Fábio Luis Barbosa dos Santos (Unifesp) e Reginaldo Nasser (PUC-SP). Mediação: Laura Capriglione (Jornalistas Livres).

14h30 | Curso: A relevância e a atualidade do pensamento freiriano. Com Sonia Couto – Instituto Paulo Freire.

17h | O que podemos aprender com a histórica resistência antifascista? Com Acácio Augusto (Unifesp / Nu-sol PUC-SP), Pedro Monzón (embaixador de Cuba, cônsul em São Paulo) e Peter Pál Pelbart (PUC-SP). Mediador: Pedro Fassoni (PUC-SP).

19h | Hegemonia cultural e o recado do Mano Brown. Com Guilherme Wisnik, Sabrina Fernandes e Taliria Petrone

Fernando Haddad debate educação no IV Salão do Livro Político. Foto: Artur Renzo.

Confira as gravações das mesas do último Salão do Livro Político, que homenageou Marielle Franco e o bicentenário de Karl Marx.

Sobre o Salão

Iniciativa de um grupo de editoras independentes de grandes grupos empresariais em parceria com a PUC-SP, o Salão do Livro Político tem como objetivo fortalecer as editoras, aumentar a visibilidade de suas obras e incentivar as vendas e a leitura de livros políticos, que representam atualmente em torno de 2,5% do total de obras publicadas por ano no Brasil (sociologia, filosofia e economia).

O Salão recebeu cerca de 3,5 mil visitantes nas últimas edições e, entre os convidados, intelectuais e personalidades prestigiadas globalmente, como o escritor cubano Leonardo Padura, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, o cientista político alemão, biógrafo de Karl Marx, Michael Heinrich, Maria Chauí, Dilma Rousseff, José Genoíno.


V Salão do Livro Político
27 a 30 de maio, das 10h às 22h.
Tuca PUC-SP (Rua Monte Alegre, 1024, São Paulo, SP).
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1 comentário em Lula: Ler é um ato político

  1. Ontem foi um dia histórico. Com um teatro lotado, ouvir Haddad, Flávio Dino, Erica Malunguinho, Celso Amorim, Suplicy, Nita Freire e o Presidente Lula (na voz de Sérgio Mamberti) sobre os temas mais importantes de nosso tempo atual foi muito importante para entender quais os caminhos podemos trilhar, juntos. Um agradecimento especial à Ivana Jinkings e a Boitempo, por organizar com tantas outras editoras há cinco anos esse evento. Vida longa ao Salão do Livro Político!!

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