Safatle: Para entender a reinvenção das direitas no Brasil
Para filósofo, o livro "O ódio como política" revela como a presença ostensiva das direitas na atual agenda política e social brasileira não significa exatamente uma conquista de maiorias populares.
Por Vladimir Safatle.
O livro O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil, organizado por Esther Solano, apresenta um panorama amplo e diversificado da consolidação das direitas pós-ditadura militar no Brasil. Em um momento no qual a direita brasileira esconde sua incapacidade de criar hegemonia popular através da presença, cada vez mais ostensiva, de seus discursos e dogmas, a publicação traz uma reunião de textos fundamentais para a compreensão da radicalização da política brasileira diante do colapso da Nova República a partir das manifestações de 2013.
Estão presentes análises históricas sobre as múltiplas facetas da direita nacional, como o neopentecostalismo e sua teologia da prosperidade, o liberalismo nacional da burguesia organizada (que nunca viu problemas em se associar às práticas políticas as mais abertamente autoritárias) e as forças armadas e seu vínculo orgânico com o passado ditatorial, além do poder judiciário e sua constituição classista. Alguns textos enfocam o imaginário conservador nacional, suas metáforas economicistas e sua natureza racista, misógina e homofóbica. Por fim, há outros que se dedicam à compreensão da gênese do desrecalque conservador de setores da sociedade brasileira através de discussões a respeito do lulismo e seus limites.
O conjunto deixa evidente como a presença ostensiva das direitas na atual agenda política e social brasileira não significa exatamente uma conquista de maiorias populares – o que nunca conseguiram e que lhes obriga a utilizar continuamente os artifícios dos golpes e das desestabilizações. Antes, trata-se do resultado de um trabalho longo e paciente, aliado à incompreensão, por parte dos setores progressistas, da profundidade e da radicalidade dos verdadeiros embates que estruturam nossa vida social. Livros como este auxiliam a desfazer esse equívoco.
“Direitas”, “novas direitas”, “onda conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo”, “neoconservadorismo” são algumas expressões que tentam conceituar e dar sentido a um fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje, após seguidas vitórias dessas forças dentro do processo democrático. Trump, Brexit e a popularidade de Bolsonaro integram as complexas dinâmicas das direitas que a coletânea busca aprofundar a partir de ensaios escritos por grandes pensadores da atualidade. Tendo como foco central o avanço dos movimentos de direita, os textos analisam sob as mais diversas perspectivas o surgimento e a manutenção do regime de ódio dentro do campo político.
Autores: Camila Rocha • Carapanã • Edson Teles • Esther Dweck • Esther Solano • Fernando Penna • Ferréz • Flávio Henrique Calheiros Casimiro • Gilberto Maringoni • Henrique Vieira • Laerte • Lucas Bulgarelli • Lucia Mury Scalco • Luis Felipe Miguel • Luiz Gê • Márcio Moretto Ribeiro • Pedro Rossi • Rosana Pinheiro-Machado • Rubens Casara • Silvio Luiz de Almeida • Stephanie Ribeiro
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Boitempo nas eleições // Na nossa cobertura das eleições 2018 realizamos uma série de ações que buscam contribuir com a reflexão coletiva durante o período, entre as quais a publicação de textos inédito no Blog da Boitempo, vídeos na TV Boitempo e um serviço gratuito de indicações de leituras pelo WhatsApp, com curadoria da equipe editorial. Reflexões de Luis Felipe Miguel, Boaventura de Sousa Santos, Vladimir Safatle, Flávia Biroli, Esther Solano, Ricardo Antunes, Mauro Iasi, Christian Dunker, Rosane Borges, Mouzar Benedito, Dênis de Moraes, Flávio Aguiar, Felipe Brito, entre outros. Clique aqui para conferir.
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Vladimir Safatle é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP, bolsista de produtividade do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), professor visitante das Universidades de Paris VII e Paris VIII, professor-bolsista no programa Erasmus Mundus. Escreveu A paixão do negativo: Lacan e a dialética (São Paulo, Edunesp, 2006),Folha explica Lacan (São Paulo, Publifolha, 2007), Cinismo e falência da crítica (São Paulo, Boitempo, 2008) e co-organizou com Edson Teles a coletânea de artigos O que resta da ditadura: a exceção brasileira (Boitempo, 2010), entre outros. Atualmente, mantem coluna semanal no jornal Folha de S.Paulo e coluna mensal na Revista CULT. Em 2012, teve um artigo incluído na coletânea Occupy: movimentos de protesto que tomaram as ruas (Boitempo, 2012), publicada pela Boitempo Editorial em parceria com o Carta Maior.
Tentei renovar meu cadastro para adquirir o livro, porém não consegui. Como posso resolver isso? Também gostaria de saber se há versão e-book.
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“Direitas”, “novas direitas”, “onda conservadora”, “fascismo”, “reacionarismo”, “neoconservadorismo” são algumas expressões que tentam conceituar e dar sentido a um fenômeno que é indiscutível protagonista nos cenários nacional e internacional de hoje, após seguidas vitórias dessas forças dentro do processo democrático. Trump, Brexit e a popularidade de Bolsonaro integram as complexas dinâmicas das direitas que a coletânea busca aprofundar a partir de ensaios escritos por grandes pensadores da atualidade. Tendo como foco central o avanço dos movimentos de direita, os textos analisam sob as mais diversas perspectivas o surgimento e a manutenção do regime de ódio dentro do campo político.
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