Cultura inútil: A paz tem que ser conquistada na porrada?

De Napoleão Bonaparte a John Lenon, passando por Martin Luther King e Dalai Lama e Mouzar Benedito reúne as melhores frases sobre "paz" e "pacificação" em nova coluna da série "Cultura inútil".

(Assim disse o general João Baptista Figueiredo, quando se tornou presidente-ditador, com a proposta de fazer a “abertura” política, isto é, fazer a transição “pacífica” da ditadura para a democracia: “Quem for contra a abertura, eu prendo e arrebento”)

Por Mouzar Benedito.

É preciso pacificar o Brasil. Quem discorda? A vida sem paz é uma merda. Os próprios propagandistas da violência às vezes podem ser vítimas do método que propõem, mas não sei se vão mudar.

O que parece é que quase todo mundo quer paz, mas uma “paz” muito particular. Quando se vai ver a paz que “quero” é sob “meu” controle. Poucos querem uma paz pra valer. Poderiam dizer: “Quero o adversário, ou inimigo, pacificado, sob controle, obediente, vivendo de acordo com uma paz estabelecida por mim”.

Os poderosos querem a “paz dos cemitérios”, aquela em que as pessoas se restrinjam a “cuidar de suas vidas”, finjam que não há nada de anormal no mundo, e especialmente no Brasil.

Em outros tempos houve uma expressão típica disso, a “pax romana”. Segurança, ordem e progresso para quem se submetesse aos interesses de Roma. O imperador Augusto, que assumiu o poder em 18 a.C., foi o iniciador disso. Fiquem quietinhos, aceitem o domínio romano, obedeçam, paguem direitinho os impostos cobrados pelos dominadores que viverão em paz. Cuidem de suas vidas, não se rebelem, sejam submissos… Sejam obedientes aos donos do pensamento único, aceite a ideia que “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.

Faço um intervalo aqui na ironia de George Orwell, no livro 1984 em que o “Grande Irmão” (“Big Brother”, seguidores da Globo) determina: “Guerra é paz. A liberdade é escravidão. A ignorância é força”. Tenho me assustado com a quantidade de gente que vejo por aí, que não leu 1984 (e se lesse não entenderia) mas pensa dessa maneira.

Que o Brasil precisa ser “pacificado”, parece quase um consenso. Mas, que paz?: Lembro que muitos sertanistas chamavam de “pacificados” os índios que aceitavam o domínio branco, que perderam sua identidade. Pacificado, aí, é um eufemismo péssimo.

Volto à pacificação necessária. Há um espírito bélico dominando as relações entre as pessoas. Não devia ser assim, não é? Mas como ando descrente, começo por lembrar umas formas rebuscadas de dizer “pacificar”, e depois entro com uma série de frases se pensadores sobre o tema “paz”.

Começo pelas formas empoladas de falar do singelo “pacificar”: apartar os contendores, pôr termo às dissenções, dezembezerrar, vir às boas, apagar os vestígios das passadas dissenções, remediar as discórdias, fundir antagonismos, desarmar malevolências, ajustar uma contenda, temperar desavindos, sanar malquerenças, lançar o bastão no meio dos contendores, levar o ramo de oliveira, levantar o cerco, embainhar a espada, enrolar as bandeiras, pôr armas em sarilhos, fechar o templo de Jano…

Agora, vamos ao que disseram alguns pensadores…

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Millôr Fernandes: “Paz na Terra aos homens de boa vontade. Isto é, paz para muito poucos”.

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Thomas Fuller: “É loucura para o carneiro promover uma conferência de paz com o lobo”.

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Hellen Keller: “Eu não quero a paz que excede todo o entendimento, eu quero o entendimento que traz a paz”.

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Napoleão Bonaparte: “A paz é uma palavra vazia de sentido; precisamos é de uma paz gloriosa”.

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John Ruskin (vixxxxeeee! Com mesóclises a la Temer): “Podes ganhar a paz ou comprá-la; ganhá-la-ás resistindo ao mal; comprá-la-ás aceitando o compromisso com o mal”.

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Rémy Gourmont: “Só possuímos paz quando podemos impô-la”.

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Isabel Allende: “A guerra é obra de arte dos militares, a coroação da sua formação, a insígnia dourada da sua profissão. Não foram criados para brilhar na paz”.

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Tito Lívio: “Cabe a quem dá, não a quem pede, ditar as condições de paz”.

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Tito Lívio, de novo: “Uma paz certa é melhor e mais segura do que uma vitória esperada”.

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Karl von Clausewitz: “O vencedor é sempre amigo da paz”.

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Bertrand Russell: “Se a paz não puder ser mantida com honra, deixa de ser paz”.

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Augusto de Lima: “A paz universal não é outra coisa senão a preguiça das nações”.

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Miguel Torga: “O que me dá paz em alguns lugares é eu ter a sensação (e muitas vezes certeza) de que por eles nunca passou a ferradura de nenhum Átila; de que tudo permanece virginal como o deixaram os glaciares, e sou eu o primeiro pecador a quebrar-lhe o encanto”.

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Walther Waeny: “Os defensores da paz são sempre capazes de mover guerra àqueles que não estejam de acordo com eles”.

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Pitágoras: “Enquanto o homem continuar a ser o destruidor dos seres animados dos planos inferiores, não conhecerá a saúde nem a paz. Enquanto os homens massacrarem os animais, eles se matarão uns aos outros. Aquele que semeia a morte e o sofrimento não pode colher a alegria do amor”.

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Padre Antônio Vieira: “Sem igualdade, e igualdade com todos, não há paz”.

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Dalai Lama: “A paz só pode durar onde os direitos humanos sejam respeitados, onde as pessoas estão alimentadas e onde os indivíduos e as nações são livres”.

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Octavio Paz: “O fim da história será o começo da paz: o reino da inocência recobrada”.

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Alexander Pope: “Dizer o que pensa é o direito de todo homem livre, na paz e na guerra, no conselho e na luta”.

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Ditado popular: “Cada um só goza a paz que o vizinho quer”.

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Friedrich Schiller: “Nem mesmo o homem mais bondoso consegue ficar em paz, se isso não agrada ao seu vizinho mau”.

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Machado de Assis: “Uma onça de paz vale mais que uma libra de vitória”.

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Esopo: “Um pedaço de pão comido em paz é melhor que um banquete comido com ansiedade”.

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Ditado popular: “Dou um boi para não entrar numa briga, e uma boiada para não sair!”.

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Nietzsche: “Em tempo de paz o homem ataca-se a si próprio”.

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René Daumal: “É por falta de amor que, muitas vezes, julgamos ter encontrado a paz”.

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Platão: “A paz no coração é o paraíso dos homens”.

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Gandhi: “Uma pessoa que não está em paz consigo mesa é uma pessoa que está em guerra com o mundo inteiro”.

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Gandhi, de novo: “Não existe um caminho para a paz. A paz é o caminho”.

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Buda: “A paz vem de dentro, não a busque fora”.

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Hermann Hesse: “A paz não é um estado primitivo paradisíaco, nem uma forma de convivência regulada apor acordo. A paz é algo que não conhecemos, que apenas buscamos e imaginamos”.

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Charles Buikowski: “A Bíblia diz: ‘Amai ao próximo’. Isso poderia significar algo como: ‘Deixe-o em paz’”.

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Luís de Camões: “Divino seja aquele que alcançou poder viver na doce companhia das mansas ovelhinhas que criou”.

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Santos Dumont: “Nós, os fundadores da locomoção aérea, no fim do século passado tínhamos sonhado um futuroso caminho de glória pacífica para esta filha dos nossos desvelos”.

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Roger Gard: “Uma guerra indefinidamente adiada assemelha-se deveras à paz”.

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Oswaldo Aranha: “Vivemos em um mundo doente, depois de um século de saúde à procura de recobrar a paz perdida em conflitos suicidas”.

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Einstein: “A paz não pode ser mantida pela força. Só pode ser conseguida pela compreensão”.

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Heródoto: “Em tempos de paz, os filhos sepultam os pais; em tempo de guerra, os pais sepultam os filhos”.

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Ditado popular: “Se queres paz, prepara-te para a guerra”.

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Romain Rolland: “Se é preciso na paz preparar a guerra, como diz a sabedoria das nações, indispensável também se torna na guerra preparar a paz”.

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Aristóteles: “Não é suficiente ganhar a guerra; mais importante é organizar a paz”.

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Franz Kafka: “Em tempos de paz não se chega a parte alguma; em tempos de guerra sangra-se até à morte”.

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Eleanor Roosevelt: “Não basta falar de paz. A gente deve crer nela. E não é suficiente crer. É preciso trabalhar para consegui-la”.

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Juscelino Kubitschek: “Sei que a paz é mais difícil que a guerra”.

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John Milton: “A paz não corrompe menos do que a guerra devasta”.

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Ditado popular: “Não há paz onde canta a galinha e cala o galo”.

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Hans Kung: “Haverá paz na Terra quando não haja paz entre as religiões do mundo”.

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Martin Luther King: “A verdadeira paz não é a ausência de tensão, é a presença da justiça!”.

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Anwar Sadat: “A paz é mais preciosa do que um pedaço de terra”.

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Coelho Neto: “Só a força pode assegurar a paz que é uma flor que se ostenta na haste das baionetas”.

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Anne O’Hare McCornick: “A luta pela paz é infinitamente mais difícil que qualquer operação militar”.

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Ambrose Bierce: “”Paz, na política internacional, consiste num período de vigarices entre dois períodos de conflito”.

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Lin Yutang: “A paz e a força são duas mulheres ciumentas que se recusam sempre a ficar na mesma casa”.

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Lênin: “A paz: uma trégua para a guerra”.

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Abraham Lincoln: “Se você quer paz, evita a popularidade”.

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Benjamin Franklin: “Nunca houve uma guerra boas nem uma paz ruim”.

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Agustina Bessa-Luiz: “A paz não tem figura nem desejo absoluto; viver em paz não é viver; (…) a paz é um absurdo, como a realidade concreta é um absurdo que é preciso recriar para que se forme afeto do homem, uma obra”.

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Robert A. Heilein: “Você pode ter paz ou você pode ter liberdade. Não conte com ater ambos ao mesmo tempo”.

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Benito Juarez: “O respeito ao direito alheio é a paz”.

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John Lennon: “Tudo o que dizemos é: dê uma chance à paz”.

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John Lennon, de novo: “Se todo mundo exigisse paz em vez de mais uma televisão lá em casa, então existiria paz”.

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Provérbio africano: “A paz é cara, mas vale a despesa”.

Boitempo nas eleições // Na nossa cobertura das eleições 2018 realizamos uma série de ações que buscam contribuir com a reflexão coletiva durante o período, entre as quais a publicação de textos inédito no Blog da Boitempo, vídeos na TV Boitempo e um serviço gratuito de indicações de leituras pelo WhatsApp, com curadoria da equipe editorial. Clique aqui para conferir.

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Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

1 comentário em Cultura inútil: A paz tem que ser conquistada na porrada?

  1. fernando rios // 18/09/2018 às 5:32 pm // Responder

    destaco ghandi: Gandhi: “Uma pessoa que não está em paz consigo mesa é uma pessoa que está em guerra com o mundo inteiro”.
    mande-me seu email para eu lhe mandar meu livro “a paz, como se faz?”
    tenho refletido muito sobre duas palavras: violência e crueldade. violência tem sido intrínseco a todos os animais, inclusive nós, humanos. crueldade é uma violência intencional, consciente, maldosa.
    será que teremos que ser sempre violentos e cruéis?
    todo ser humano é um ser político e ser político implica três momentos:submissão, dominação, coexistência pacífica.
    nosso problema é a coexistência pacífica.

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