Eleições: que bicho vai dar?

Mouzar Benedito reúne as melhores frases e ditados sobre eleições e sufrágio em nova coluna da série "Cultura inútil", de Emma Goldman a José Serra, passando por Noam Chomsky e Faustão.

Por Mouzar Benedito.

Ando pessimista. Acredito que uma coisa que poderia ser um instrumento de melhora do mundo – as chamadas “mídias sociais” – tendem a ser na verdade um instrumento de desgraça. No caso das eleições, elas servem para demonizar algumas pessoas e beatificar demônios. Serviram para eleger Trump nos Estados Unidos, por exemplo.

Não sou só eu. E a coisa não é de hoje, as tais mídias sociais só vieram contribuir para isso.

Fuçando no que muita gente já disse sobre eleições e voto, desde os tempos em que não existia “sufrágio universal”, voto secreto e voto feminino, encontrei mais frases pessimistas do que otimistas. Gente com preconceito contra o povo, gente que não confia na forma como o poder é exercido (ói eu aí), opiniões bestas, opiniões gozadoras… Tem de tudo. Vamos a elas.

Para não acharem que sou contra as eleições, começo com uma frase minha mesmo, que já publiquei em outros lugares:

Eu: “Eleição é como menstruação: enche o saco, mas quando não vem é pior”.

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José Justo: “O voto secreto ajusta-se bem aos povos desfibrados, destituídos de escrúpulos e sem cultura política”.

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José Justo, de novo: “O sufrágio universal é romântico. Em regra, o eleitor vota em quem não conhece”.

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Dom Xiquote (pseudônimo de Bastos Tigre): “Quando as mulheres tiverem direito de voto, transformarão todas as eleições em concurso de beleza e elegância”.

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Machado de Assis: “Venha, venha o voto feminino; eu o desejo, não somente porque é ideia de publicistas notáveis, mas porque é um elemento estético nas eleições, onde não há estética”.

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Delfhine de Girardin (escritora francesa – 1804-1855): “A prova de que eles não entendem de república é que, em suas finas promessas para o sufrágio universal, se esqueceram das mulheres” (na França, as mulheres só conquistaram o direito de votar e serem votadas no pós-guerra, em 1945).

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Edna O’Brien (escritora irlandesa): “A votação, pensei, não significa nada para as mulheres, devemos estar armadas”.

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General João Baptista Figueiredo: “Um povo que não sabe nem escovar os dentes não está preparado para votar”.

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Plínio Salgado: “O integralismo nega a eficácia do voto, nega a concepção democrática do cidadão, condena o sufrágio universal”.

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Gore Vidal: “Metade dos americanos nunca leu um jornal. Metade nunca votou para presidente. Espera-se que seja a mesma metade”.

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Ayn Rand (escritora nascida na Rússia, em 1905, e morreu nos EUA, em 1982): “Os direitos não estão sujeitos ao voto público. Uma maioria não tem o direito de eliminar os direitos de uma minoria; a função pública dos direitos é precisamente a proteção das minorias frente à opressão das maiorias”.

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Abraham Lincoln: “A cédula eleitoral é mais forte que a bala”.

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Theodore Roosevelt: “Um voto é como um rifle: sua utilidade depende do caráter de quem usa”.

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Carlos Drummond de Andrade: “O voto, arma do cidadão, dispara contra ele”.

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Drummond, de novo: “Uma eleição é feita para corrigir o erro da eleição anterior, mesmo que o agrave”.

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Provérbio português: “Mineração e eleição, só depois da apuração”.

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Lula (num comício pelas eleições diretas, em 1987): “Se disputasse uma eleição, os votos do Sarney não dariam para encher um penico”.

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François Mitterrand: “Os franceses fazem greve nas segundas-feiras porque o pão subiu, nas terças se manifestam porque ganham pouco; nas quartas protestam por falta de liberdades… E no domingo votam na direita”.

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Eu: “Governador, senador, vereador… Acho que entendi porque a política no Brasil é sofrível”.

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Agostinho da Silva: “Eu não quero saber das campanhas eleitorais para nada. Eu quero saber das ideias que as pessoas têm e da maneira como depois as vão defender e praticar”.

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Otto von Bismarck: “Nunca se mente tanto como antes das eleições, durante uma guerra e depois de uma caçada”.

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Nikita Krushchev: “Os políticos são os mesmos em todos os lugares. Eles prometem construir uma ponte mesmo onde não há rio”.

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Antônio Ermírio de Moraes: “A política é a arte de pedir votos aos pobres, pedir recursos financeiros aos ricos e mentir para ambos”.

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Ditado popular: “Tempo de eleição, mentira como o cão”.

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Belém Gopegui (escritora espanhola): “Não pode ser que tenhamos que escolher entre o ruim e o menos ruim”.

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Clarence Darrow: “Quando era criança, fui ensinado que qualquer pessoa podia ser presidente. Agora estou começando a acreditar”.

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Elza Soares: “As mulheres não se apoiam. Falta mulher na política. Eu tenho vontade vê-las de mãos dadas, se ajudando. E minha luta, além de ser pelos negros e pelas mulheres, sempre foi pelos gays. Alguns tratam os homossexuais como se não fossem um pedaço de nós. Eu sou todos eles”.

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Bussunda: “Este ano tem eleição. Os candidatos farão boas piadas para a gente”.

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Faustão: “Tomara que vocês votem tão bem nas próximas eleições como sabem votar no BBB”.

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Eu:
“Poderoso de comício
É secretamente
Napoleão de hospício”

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Charles Bukowski: “A diferença entre uma democracia e uma ditadura consiste em que numa democracia se pode votar antes de obedecer às ordens”.

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Ambrose Bierce: “Votar: o instrumento e símbolo do poder de um homem livre para fazer papel de bobo e um naufrágio de seu país”.

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Eduardo Galeano: “A liberdade de eleições permite que você escolha o molho com o qual será devorado”.

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Eu: “Eleições são muito importantes: por meio delas escolhemos quem vai nos ferrar a vida nos próximos anos”.

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Eu, de novo: “Eleições são o meio mais democrático de escolher com quem a gente vai se decepcionar num futuro próximo”.

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Emma Goldman: “Se votar fizesse alguma diferença, fariam-no ilegal”.

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Noam Chomsky: “As eleições são executadas pelas mesmas indústrias que vendem pasta de dentes pela televisão”.

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José Saramago: “Por um voto em branco, você está dizendo que você tem uma consciência política, mas você não concorda com qualquer um dos partidos existentes”.

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Millôr Fernandes: “Candidate-se. Por mais idiota que você seja, sempre haverá um número suficiente de idiota maiores do que você para acreditar que você não o é”.

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Millôr, de novo: “Os deuses modernos, mesmo os mais prepotentes, exigem do povo o sacrifício do voto”,

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Karmelo Iribarren: “‘Se não votas, não tens direito de se queixar’, me diziam os mesmos que agora me acusam de não reclamar”.

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Barão de Itararé: “O voto deve ser rigorosamente secreto. Só assim, afinal, o eleitor não terá vergonha de votar no seu candidato”.

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Barão de Itararé, de novo: “O feio da eleição é se perder”.

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Joseph Stálin: “Quem vota e como vota não conta nada. Quem conta os votos é que importa”.

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Franz Paulo Trannin Heilborn: “Nas eleições, os brutos sempre ganham”.

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Eu: “Nem só o peido é prenúncio de uma cagada. Eleição também pode ser”.

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Einstein: “Um estômago vazio não é um bom conselheiro político”.

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James Freeman Clarke: “Um político pensa na próxima eleição; um estadista, na próxima geração”.

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Rosa Luxemburgo: “Sem eleições gerais, sem uma liberdade de imprensa e uma liberdade de reunião ilimitadas, sem uma luta de opiniões livres, a vida vegeta e murcha em todas as instituições públicas, e a burocracia torna-se o único elemento ativo”.

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José Serra (que já foi eleito prefeito de São Paulo, governador do estado de São Paulo, deputado federal e senador por São Paulo): “Eu me elegi presidente da União Nacional dos Estudantes graças aos baianos. Paulista não sabe fazer política”.

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Eu:
“Em nome da ética,
Votou em tucano.
Entrou pelo cano!”

***

Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996), Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia) e Chegou a tua vez, moleque! (2017, e-book). Colabora com o Blog da Boitempo quinzenalmente, às terças. 

8 comentários em Eleições: que bicho vai dar?

  1. Flávio Aguiar // 28/08/2018 às 6:07 pm // Responder

    “A democracia é um péssimo sistema. Acontece que os outros são muito piores”. Ou algo assim.

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  2. Tarcisio Cardieri // 28/08/2018 às 10:03 pm // Responder

    Muito boa essa variedade de opiniões sobre eleições. Provoca o pensamento. E leva os interessados em política a buscarem outros meios para exercê-la de forma mais legítimal, trancendendo a chanada democracia representativa, que a poucos representa.

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  3. Um post que podia ter sido mais crítico e menos negativo, mas infelizmente descambou em clichês e baixezas, principalmente quando o “eu” se expressa. O que salvou o texto foi a opinião de outros sobre o tema.

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  4. Luiz Alexandre Lara (Xande) // 29/08/2018 às 12:00 pm // Responder

    Grande Mouzar, a língua afiada de alguns, a sabedoria desconsertante do “ajuntador” faz dessa coletânea um conjunto prodigioso da “filosofia”. Em se tratando de Brasil, eleição é como o futebol: “uma caixinha de surpresas”. É isso, como um homem que corre atrás das palavras pode ser um garimpeiro prodigioso dessas. Vertiginosamente modesto, esse cara expõe as vísceras de nuestra presencia no mundo. Adorei Mouzar, sempre nos brindando com o que há de melhor aqui e além dos trópicos. Brigado. Xande

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  5. Paulo Amaro Ferreira // 29/08/2018 às 1:10 pm // Responder

    O autor poderia ter sido menos presunçoso e se eximido de citar frases suas, que na verdade não constituíram nenhuma novidade ou ideia que valesse a pena ser citada.

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  6. Piadas de baixo nível e de mau-gosto. A pergunta é: a que nível ele quer chegar?

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  7. Joseph Stálin tem razão

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