A filosofia revolucionária de Lênin

"Para Lênin a dialética é o coração pulsante do materialismo histórico, aquilo que o torna uma teoria viva e dinâmica."

A Boitempo acaba de lançar um novo livraço da coleção Arsenal Lênin. Cadernos filosóficos reúne um precioso conjunto de textos que, embora pouco conhecido do grande público, é considerado fundamental para a trajetória teórico-prática dos intensos dez últimos anos de vida do líder soviético. As reflexões buscam desenvolver uma fundamentação dialética da transformação social e documentam um momento de transição no pensamento leniniano. A edição conta com os textos-base traduzidos diretamente do russo (a revisão da tradução é de Paula Almeida), e vem acrescida de longo texto de introdução assinado por Henri Lefebvre e Norbert Guterman, e um posfácio de Michael Löwy. Para José Paulo Netto, responsável pela tradução do prefácio, trata-se do “documento mais importante do pensamento filosófico do líder da vitoriosa Revolução de Outubro” e acrescenta: “aqui está Lênin em sua madurez revolucionária e na plenitude de sua universalidade teórica.” A edição de André Albert tem apoio da Fundação Maurício Grabois e da Fundação Dinarco Reis. A capa é de Maikon Nery. Leia abaixo o texto de Gianni Fresu sobre a obra.

Boa leitura!

Artur Renzo, editor do Blog da Boitempo.

* * *

Por Gianni Fresu.

Em pleno fulgor da Primeira Guerra Mundial, Lênin sente a exigência de apoiar seus estudos, então centrados no imperialismo, em uma pesquisa rigorosa no campo filosófico, voltada à aquisição dos instrumentos da análise dialética. É assim que entre 1914 e 1915 debruça-se sobre o estudo da Ciência da lógica, das Lições sobre a história da filosofia e das Lições sobre a filosofia da história, de Hegel, com a convicção de que, sem aprofundar o conhecimento dessas obras, mesmo a compreensão de O capital seria limitada. O resultado dessas leituras são os apontamentos dos Cadernos filosóficos, publicados pela primeira vez entre 1929 e 1930 – não exatamente uma obra filosófica orgânica, mas um conjunto de notas que constitui um dos mais importantes legados teóricos de Lênin. 

As maneiras de entender a dialética internamente ao materialismo histórico foram um divisor de águas na história do movimento operário de inspiração marxista. A posição da filosofia hegeliana como fonte essencial do marxismo foi ignorada ou combatida tanto pela “ortodoxia” determinista quanto pelo revisionismo. Se, para Bernstein e seus diversos seguidores, a dialética é um simples método com o qual se pretende embrulhar a história – uma astúcia filosófica, um mero artifício metafísico, sobre a qual pesa a responsabilidade do “apriorismo” marxista –, para Lênin a dialética é o coração pulsante do materialismo histórico, aquilo que o torna uma teoria viva e dinâmica.

Em outros tempos ouviu-se dizer com frequência que somente quem estudou Marx profundamente poderia compreender Hegel de forma plena. Independentemente da maior ou menor sustentação dessa proposição, é certo que Lênin decide-se pelo estudo sistemático da filosofia de Hegel graças a seu conhecimento profundo da obra de Marx. Os Cadernos filosóficos são o coroamento do percurso de esclarecimento filosófico em Lênin, que se entrelaça à obra mais propriamente política e econômica e, por consequência, à prática concreta. A constante interação entre teoria e práxis é de fato o elemento que mais distingue a figura de Lênin em um panorama – o do marxismo depois de Marx – no qual esses dois âmbitos raramente tiveram efetiva conjunção.

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Arsenal Lênin

Vladímir Ilitch Uliánov Lênin (1870-1924) foi o mais importante líder bolchevique e chefe de Estado soviético, mentor e executor de um evento que inaugurou uma nova etapa da história universal, a Revolução Russa de 1917. Intelectual e estrategista com rara apreensão do momento histórico em que viveu, escreveu artigos e livros que inspiraram a articulação do internacionalismo socialista e aprofundaram a compreensão do capitalismo, dos efeitos do desenvolvimento desigual, do imperialismo e do Estado. Durante sua existência, praticou o que escreveu e escreveu sobre o que praticou, num notável exemplo de coerência. Quase toda a sua obra – teórica e prática – foi produzida nas duas décadas que inauguraram o século XX, período em que sua influência foi decisiva. Por isso e muito mais, é fundamental voltar a Lênin. A Boitempo aceita o desafio e se lança nesta aventura fundamental: a coleção Arsenal Lênin!

Conselho editorial: Antonio Carlos Mazzeo • Antonio Rago • Augusto Buonicore • Ivana Jinkings • Marcos del Roio • Marly Vianna • Milton Pinheiro • Slavoj Žižek

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8 comentários em A filosofia revolucionária de Lênin

  1. Hector Benoit // 10/07/2018 às 2:31 pm // Responder

    Em janeiro de 2018, André Koutchin (hoje, Professor Doutor na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) defendeu tese de doutoramento no IFCH- Unicamp sobre Lênin, tendo como principal eixo a dialética em seu pensamento e obra revolucionária. Evidentemente, realizou um análise profunda sobre “Os Cadernos Filosóficos”, inclusive consultando o texto original em russo. Koutchin, ultrapassando certas análises anteriores, que, justamente por não apreenderem a dialética leninista em toda sua grandeza, pensam “Os Cadernos Filosóficos” como uma certa ruptura na sua trajetória revolucionária. Mostra Koutchin, ao contrário, que “Os Cadernos…” podem ser compreendidos como um desenvolvimento, sem ruptura, das diversas temporalidades que perpassam a obra revolucionária de Lênin. A tese foi orientada por Hector Benoit, e a banca examinadora foi composta por Virgínia Fontes, Luciano Martorano, Fernando Dillenburg, e Plínio de Arruda Sampaio Júnior.

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    • Quem conhece o Comunismo e o defende é psicopata.
      Quem não o conhece e o defende é Burro.

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    • Andre Koutchin // 17/07/2018 às 12:58 pm // Responder

      A minha tese de doutoramento, orientada e acima citada pelo professor Hector Benoit, “Lênin e a unidade dialética na teoria do partido e da revolução”, discute, entre outros elementos, o célebre texto de Michael Löwy “Da Grande Lógica de Hegel à Estação Finlandesa de Petrogrado”, importante referência sobre as anotações filosóficas de Lênin escritas diante da falência da II Internacional, que votou, em diversas das suas seções, pela aprovação dos créditos para a primeira Guerra Mundial. Essas anotações de Lênin ficaram depois conhecidas como os “Cadernos Filosóficos”, agora oportunamente publicados em português pela Editora Boitempo. Ao contrário de Löwy, no entanto, procuramos demonstrar que os estudos de Hegel por Lênin não representariam uma ruptura lógica em seu pensamento, mas que expressariam um rigoroso metabolismo entre explicação e ação no movimento dialético do real, de forma que seu desenvolvimento lógico e a sua obra histórica acabariam por ligar-se reciprocamente, tornando-se interdependentes e tendendo para uma unidade fundamental com os seus primeiros escritos. Embora Lênin não nos tenha deixado, assim, uma lógica estrita nos “Cadernos”, certamente os apontamentos ali contidos são fundamentais para se compreender como os bolcheviques, os sovietes de operários, soldados e camponeses, nos deixaram a lógica de uma obra histórica coletiva: a lógica da Revolução Russa de 1917. Um século depois, diante da miséria, da violência, da opressão e da exploração da força de trabalho, do retrocesso das condições de vida e das perdas de básicas garantias, em poucas palavras, da crise humana que vivemos (não apenas no Brasil, mas no mundo), a publicação dos “Cadernos Filosóficos” de Lênin pela editora Boitempo é, portanto, extremamente relevante.

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  2. Lixo, Comunista lixo…..

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  3. Republicou isso em A Estrada Vai Além Do Que Se Vê.

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  4. Fabiano Felipe dos Santos // 11/07/2018 às 1:29 pm // Responder

    É tudo que o Brasil mais precisa nesse momento, um pouco mais desse ilustríssimo boçal comunista!

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  5. Hector Benoit // 13/07/2018 às 4:53 am // Responder

    Sim, é disso que o Brasil mais precisa, um pouco desse ilustríssimo revolucionário que comandou a maior Revolução Proletária da história mundial, que fundou o Partido Bolchevique, e a pátria internacional dos trabalhadores de todo o mundo, expressa na III Internacional, que viveu em toda a sua potencialidade durante os seus quatro primeiros Congressos.

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  6. Hector Benoit // 13/07/2018 às 4:59 am // Responder

    O bisavô de André Koutchin fugiu da URSS stalinista e se estabeleceu no Brasil, numa colônia de refugiados da URSS stalinista. Hoje, Koutchin fez na sua tese de doutoramento uma justa homenagem a Lênin e aos seus antepassados que se exilaram em Mato Grosso do Sul.

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